quinta-feira, 21 de março de 2013

Não é preciso ir à Amazônia

“Num território de 22 hectares, 16 famílias guarani-mbyá pintam o rosto em sinal de proteção, comem o que colhem e pescam na reserva  e conversam em tupi-guarani, a língua mais poética de que tenho notícia.”

Estas são as pequenas guaranis Yvá, Para'reté e Silvia, vestidas para a apresentação do coral. 
Registro feito por Bruno Alencastro. Mais fotos dele aqui: http://grem.io/idW

Em uma conversa de hostel, os viajantes começaram a contar experiências no Exterior. É relato comum que os estrangeiros, principalmente na Europa, olhem com estranhamento para os brasileiros do Sul, loiros e de olhos claros. Como assim, não são todas mulatas? Não sambam? Não conhecem a Amazônia?

Sim, eles acham que a Amazônia é no quintal de casa, logo ali. Pois uma das mochileiras contou que voltou de uma temporada na Espanha determinada a ir para a Amazônia. Ela foi, andou de barco no meio da mata, conheceu reservas indígenas e agora pode dizer que conhece a Amazônia nas próximas viagens. Ouvi tudo com muita curiosidade, já que está nos meus planos ir a Manaus em setembro...

Eis, então, que cai no meu colo uma pauta sobre a inauguração de uma escola indígena em Viamão, Região Metropolitana de Porto Alegre. Coisa de 40 quilômetros de viagem e você desembarca em um universo à parte. Num território de 22 hectares, 16 famílias guarani-mbyá pintam o rosto em sinal de proteção, comem o que colhem e pescam na própria reserva e conversam em tupi-guarani, a língua mais poética de que tive notícia.

Ok, eles vestem calça jeans – e até boné do Bob Marley –, mas ainda mantêm no cotidiano tradições ensinadas pelos antepassados, que já ocupavam aquelas terras por volta de 1750, antes da chegada dos açorianos.

Conhecer esses lugares, poder contar essas histórias é o que me anima do jornalismo. Mais que a repercussão de ser citada por um comentarista de TV. Resolvi ser jornalista não para ficar "conhecida", mas porque achava que poderia dar visibilidade ao que poucos percebem, ou fazem de conta que não veem. Às vezes dá certo.

Algumas horas na aldeia Tekoá Pindó Mirim e a escola Nhamandú Nhemopu’ã me fez “acordar para o divino sol” do conhecimento e perceber que não era preciso ir tão longe, lá na Amazônia. Bastava ir além de onde termina o asfalto para descobrir um outro Brasil, aquele que é estrangeiro para nós, que estamos aqui do lado. Os europeus estão cobertos de razão. Nós ainda não descobrimos o Brasil.