Eu era folguista do editor de contracapa do jornal quando deparei com uma foto extraordinária de Fernando Gomes, um dos feras da fotografia de Zero Hora. A ponte sobre a BR-287, em Mata, tinha se partido ao meio, o Fusca ficou dependurado a ponto de despencar na água revolta, a família saiu correndo pelo que sobrou de estrada. A cena era espetacular.
A foto faria parte de uma exposição no Uruguai, por isso voltou a pipocar nas páginas do jornal. Para os contemporâneos de Fernando, era uma das fotos jamais esquecidas. Curiosa, fui pesquisar no sistema interno do jornal que foto era aquela. Descobri que ela completaria 30 anos em maio de 2014. Troquei uma ideia com o editor de foto e deicidmos: vamos voltar lá e contar a história desta família.
Fernando se empolgou com a ideia, até ampliou mais fotos do mesmo negativo (sim, usava-se filmes na época, e em preto e branco!) para dar de presente ao seu Lídio e à dona Maria. Deu para ver nos olhos a emoção de cada um. E a de Fernando também, depois registrada em um vídeo feito na Redação para contar a história daquela foto. Ele já tinha me confidenciado na estrada que era a mais importante da brilhante carreira dele. E agora eu estou no time dos que nunca mais vão esquecer aquela imagem.
O mais surpreendente é que a família do Fusca não estava fugindo da enchente: Lídio queria ver de perto o aguaceiro. Era um curioso de marca maior. Por pouco, ele não se tornou prova viva (?!) daquele ditado: “a curiosidade mata”.
Depois de reencontrar a família do Fusca, fomos a Jaguari, vizinha de Mata. Mais histórias. A última parada foi o arquivo histórico municipal. A Ione, que cuida do museu, pediu para assinarmos o livro de presenças. Vacilei antes de preencher o campo “profissão”. Como me deu um branco desses em meio a um trabalho de reportagem? Pois deu. Parecia que designações como “jornalista” ou “repórter” não cabiam ali. Sei lá.
De volta ao hotel, ao fim da jornada, comecei a ler um livro de Eliane Brum. Então, entendi tudo. “Ser jornalista é mais do que uma profissão, é um ser/estar no mundo”, diz Eliane, na apresentação de A menina quebrada. É assim que me sinto. Uma curiosa no mundo.
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