terça-feira, 27 de dezembro de 2011

#projetospara2012

Fim de ano, aquela coisa: retrospectiva, balanço, planos, metas... a gente coloca na balança as perdas – e os ganhos, sempre tem! – do ano que termina e lá vai planejar as mudanças para o novo ano que começa.

Faz uns dias que tenho soltado umas pílulas de #projetospara2012 no Twitter. Nesta altura do ano, qualquer mudança de endereço vira um empreendimento para um ano melhor. E não deixa de ser. Quando vê, as coisas que mais profundamente mudam a vida da gente são até bem simples, só que a gente tem mania de complicar.

Pois então que eu, que sofro bullying porque trabalho no Bem-estar – as pessoas que almoçam comigo pedem salada, há os que regulam o quanto eu bebo de cerveja no fim de semana ou qual o fator de proteção do meu filtro solar – aprendi uma lição com os ‘especialistas’: é preciso estabelecer metas atingíveis, para não se frustrar. Na bem da verdade que não precisa ser tão especialista assim para se chegar a essa conclusão. Só que a gente – que fica complicando a vida – também tem mania de sonhar alto demais. Tá, tudo bem sonhar em ganhar na loteria, mas trabalhar ainda é o jeito mais garantido/honesto de ganhar (algum) dinheiro, né?

Então, nada de planos mirabolantes. Meus #projetospara2012 são até bem modestos: um apê mais perto do trabalho, um frost free e uma internet decente estão de bom tamanho. E aí a vida se encarrega de alguns ‘brindes’... eu não ganhei uma bolsa de mestrado?! É um projetão.

Só que aí, da série ‘as coisas que mais profundamente mudam a vida da gente são até bem simples’, o que realmente faz diferença, passem quantos anos se passarem, são as pessoas que fazem parte da vida da gente. Colegas de trabalho, amigos de infância, a turma da faculdade, o pessoal do vôlei, aqueles amigos que se juntaram para (tentar) formar uma banda, o pessoal de casa mesmo e até alguns anônimos.

Mas a gente complica tanto a vida que algumas pessoas nos escapam... taí um belíssimo #projetopara2012: não deixar escapar pessoas queridas que podem mudar a vida junto com a gente. Feliz ano novo!

A mensagem bonitinha de fim de ano eu deixo para o Drexler:
"Lo que tenga que ser, que sea
Y lo que no por algo será"


sábado, 3 de dezembro de 2011

A verdadeira generosidade

“Aí um tiozinho deu a moeda, mas não quis a bala de goma. O gurizinho insistiu, mas ele não quis de jeito nenhum. Foi quando o menino enxergou outra criança no vagão e fez um gesto, oferecendo as balas a ela, assim, de presente.”

Quem pega o trem todo dia certamente conhece a mãe de família que vende coisas para comprar o suplemento que o filho, com intolerância a lactose, precisa para crescer. Também já viu muita gente que “podia estar matando, podia estar roubando”, mas só está pedindo umas moedinhas. Tem ainda os “dois filhos de Francisco” dos trilhos, que invadem o vagão cantarolando modas sertanejas. A maioria dos passageiros ignora, seguem ligados nos fones de ouvido ou nos livros que estão lendo, mas de vez em quando sobra um trocado para algum deles.

Outro dia estava um menino vendendo balas de goma no trem. Ele devia ter uns cinco ou seis anos, juro. Só isso já é de partir o coração. Todo desajeitado, carregando aquela caixa de balas, desviando dos adultos que se amontoam no vagão. Muitos passageiros acabaram comprando as balinhas – duas por um real.

Aí um tiozinho deu a moeda, mas não quis a bala de goma. O gurizinho insistiu, mas ele não quis de jeito nenhum. Foi quando o menino enxergou outra criança no vagão e fez um gesto, oferecendo as balas a ela, assim, de presente. Todo mundo sorriu, achou bonitinho, mas não sei se todo mundo entendeu.

O cara que deu a moeda e recusou a bala quis ser generoso. E foi, de fato. Só que a verdadeira generosidade está na atitude do menino. Ele poderia ter vendido a bala para outra pessoa e ficar com a gorjeta, simples assim. Provavelmente, a maioria dos adultos ali em volta teria feito isso. Não foi o que ele fez. E mais: para o mini-vendedor de balas, não importava se o outro menino, da idade dele, tinha uma condição social melhor. Era uma criança, como ele, devia gostar de doce, e ele tinha um a mais. Ponto.

Coisas que a gente aprende quase que por instinto quando criança, mas às vezes esquece de colocar em prática depois que cresce. O dia a dia sempre tem pequenas lições para nos ensinar, só que nem sempre a gente presta atenção, ou quase nunca a gente entende.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Era uma vez um diploma para colocar na parede


“Apesar de eu ser declaradamente a favor do diploma, não acho que seja o diploma que faz o profissional, seja ele jornalista, médico ou cozinheiro.”

Os senadores aprovaram hoje a PEC do diploma de jornalista, a pouco menos de um mês de eu receber o meu. Depois de oito intensos anos de Unisinos, não tenho dúvidas de que o tão esperado ‘canudo’ tem seu valor.

Ainda ontem eu estava na aula da turma de Introdução ao Jornalismo, ao lado do colega André Ávila, parceiro de muitas cuias de chimarrão durante a aula – e outras tantas cervejas depois da aula. Fomos convidados pelo mestre Eduardo Veras para contar nossa (baita) experiência no projeto experimental em revista, na reta final do curso. No fim, a conversa degringolou para nossas perspectivas depois de formados, o que aprendemos com a faculdade e por aí vai.

Uma das conclusões a que cheguei ali, na hora, foi que é difícil separar o que foi a faculdade que me ensinou e o que aprendi com a vida. Desde o primeiro semestre, trabalhei na área. Passei por turismo, hotelaria, eventos, cosméticos, gastronomia, teatro, política, automóveis, direito... até chegar na Redação, onde, mesmo em uma recentíssima trajetória, transitei entre o hard news (temporal, enchente, acidente de trânsito e homicídio, não necessariamente nessa ordem e nem sempre um de cada vez!) e o soft news (que atende pelo nome de Bem-estar).

Tudo isso para dizer que, apesar de eu ser declaradamente a favor do diploma – como se pode constatar pela minha bio aqui no blog –, não acho que seja o diploma que faz o profissional, seja ele jornalista, médico ou cozinheiro.

A faculdade nos oferece ferramentas valiosas, mas é preciso que a gente encontre espaço para tirá-las da maleta e começar a construir uma carreira. Aí a gente sustenta um alicerce aqui, perde um parafuso ali e vai fazendo uns puxadinhos com ajuda de um ou outro treinamento mais específico. É, de fato, uma construção. E, com diploma na parede ou não, seguirei empilhando tijolinhos para tentar fazer jus à profissão que escolhi.

domingo, 9 de outubro de 2011

Diário de uma formanda

“Na reta final, as sensações se intensificam, tanto as de alegria, como as de desespero.”

Oito anos. Duas Copas do Mundo, quatro eleições. Para mim, uma faculdade de Jornalismo. Encho quase duas mãos para contar nos dedos meu tempo de Unisinos. Agora que está chegando ao fim, percebo que são incontáveis as lembranças desta fase.

Trata-se de um período longo, caro e cansativo, porém muito bem vivido. Seja pela galera do bus jogando baralho para passar o tempo na viagem diária entre o Vale do Sinos e a Serra, seja pelas gurias do vôlei que me fazem pensar que ainda tenho 15 anos pelo menos duas vezes por semana, seja pelas tardes de chimarrão no PPG, seja pelas boemias pós-aula nos botecos do outro lado da avenida.

Um ex-colega de trabalho, depois de se separar da mulher, resolveu fazer outra faculdade porque esses tinham sido os melhores anos da vida dele. Ele tinha toda a razão. Passei anos da minha vida querendo que isso acabasse de uma vez. Entre outras coisas, porque começa a encher o saco ter 25 anos e alguma dose de experiência nas costas, mas ser uma eterna estagiária. Noites a fio desejei que acabasse de uma vez essa rotina de cinco turnos: estágio, pesquisa, aula, afazeres domésticos, trabalhos da faculdade.

Agora falta pouco. Coisa de dois meses, mais um tempinho de espera pela entrega do canudo, e deu. Na reta final, as sensações se intensificam, tanto as de alegria, como as de desespero. Uma vez formada, parece que a coisa fica séria de verdade. E fica. Por outro lado, é nessa fase que a gente acaba tendo a oportunidade de conhecer melhor algumas pessoas que eram apenas colegas de aula. Fiz bons amigos na faculdade, alguns que até já se formaram e continuam aparecendo para tomar um chimarrão ou uma cerveja de vez em quando. Mas a turma de formandos tem uma mística, sei lá. O clima é outro. O momento é único. Vamos nos formar!

Um terço da minha vida eu passei na faculdade. Serão memoráveis os momentos finais, isso é certo. Obrigada, colegas!

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Jornalismo, uma microutopia


“Quis ser jornalista porque acredito que essa profissão não só é útil como é necessária à sociedade.”


Uma declaração do professor venezuelano Adrián Padilla, durante o Seminário de Metodologias Transformadoras realizado na Unisinos semana passada, serve de amparo para justificar minha opção pelo jornalismo. Segundo Padilla, existem macroutopias e microutopias. Queremos mudar o mundo. Não podemos. Mas transformar a realidade que nos cerca é possível.

Eu quis ser jornalista porque queria mudar o mundo. Partilho da convicção do professor de que é possível transformar realidades ao nosso redor, com trabalho ético, responsável e comprometido socialmente. Haja a tecnologia que houver.

Não importa que ministros do Supremo Tribunal Federal digam que o jornalismo não prescinde de conhecimento técnico – e que por isso o diploma é desnecessário para o exercício da profissão. Não importa que vereadores de cidades interioranas digam que o jornalismo nada acrescenta à sociedade.

Eu quis ser jornalista porque acredito que essa profissão não só é útil como é necessária à sociedade.

Os veteranos da área podem me acusar de ideologia. Podem dizer que isso não passa de um discurso juvenil de quem está em início de carreira. Vão apostar que minhas palavras não sobreviverão às rotinas exaustivas, aos baixos salários e aos calendários sem feriados.

A esses, não posso responder sobre o futuro, mas posso adiantar que já vivo parte dessas agruras há um tempo. E o pior é que gosto mais a cada dia. Sobretudo porque na ilha ao lado sempre há um colega com décadas de jornalismo nas costas para me inspirar a não desistir das microutopias.

Sou (quase) jornalista. É isso que faço todos os dias para mudar o mundo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Nós e os princípios editoriais das Organizações Globo

Ao ver William Bonner e Fátima Bernardes anunciarem no Jornal Nacional de sábado passado, 6 de agosto, a divulgação dos “princípios editoriais das Organizações Globo” tive duas reações. A primeira foi me perguntar “por que isso agora?”. A segunda, “e eu com isso?”.

Reações preguiçosas e precipitadas, admito. Na segunda-feira, dei-me o trabalho de ler o documento que se apresenta como um conjunto de princípios que os veículos do grupo devem seguir para que seja cumprido o compromisso de oferecer “jornalismo de qualidade”. Gostei do que li.

O documento não traz nenhuma novidade para quem frequentou a faculdade de Comunicação. Defende que o jornalismo é uma forma de produzir conhecimento, reitera princípios essenciais como isenção e correção da informação, bem como posturas éticas que se espera de jornalistas profissionais diante das fontes, dos colegas, da empresa onde trabalha, da sociedade em que vive.

Como profissional de jornalismo, gostei de ler os princípios editoriais das Organizações Globo justamente por esse resgate. Por trazer de volta definições e parâmetros da atividade jornalística que tendem ao esquecimento na era das mídias sociais, instantâneas e abertas, onde o papel do jornalista profissional torna-se cada vez mais sensível.

Como leitora, telespectadora, ouvinte e internauta, gostei de ler os princípios editoriais das Organizações Globo porque entendo essa publicação como um compromisso público firmado com quem consome os produtos do grupo de, efetivamente, oferecer “jornalismo de qualidade”.

Seja lá por que a Globo resolveu publicar os tais princípios, sustente a história da Globo ou não esse conjunto de valores, uma coisa é certa: eu e você temos algo a ver com isso. “A afirmação destes valores é também uma forma de garantir a própria atividade jornalística”, diz o texto. O documento dá as diretrizes do que a Globo considera bom jornalismo. Resta observar se a teoria vai bem na prática.

Confira a íntegra dos Princípios Editoriais das Organizações Globo





segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Luz para o Natal de Gramado

Apesar de até mesmo alguns colegas da Redação duvidarem, gramadenses natos existem. É o meu caso. Nasci e cresci na cidade que, para a maioria, é uma colônia de férias de inverno ou um grande parque temático natalino. Para mim, Gramado é o berço, foi um lar e hoje é o refúgio preferido para meus dias de folga.

Sempre tive orgulho de dizer de onde vim. Sou de Gramado, aquela que estampa manchetes dos mais importantes cadernos de turismo mundo afora, que está sempre no topo das pesquisas de excelência em hospitalidade, que virou grife no turismo. Tornei “padrão Gramado” meu jargão favorito para dizer aos amigos da Capital e do Vale do Sinos que um lugar ou uma comida são muito bons.

Mas quando a conversa evolui um pouco mais, faço questão de esclarecer um dos motivos que me levaram a sair de Gramado. É que lá ainda se vive tempos de “coronelismo”. Meia dúzia de famílias monopolizam os negócios e a política gramadense há alguns pares de anos.

A divulgação, na última sexta-feira, das escutas telefônicas gravadas pelo Ministério Público durante investigação de supostas irregularidades nas contas do Natal Luz, materializou os comentários que se ouvia nos bastidores.

Enquanto MP e Justiça cumprem seu papel, o prefeito alega que “querem acabar com o Natal de Gramado” e não percebe que colabora com o apagar das luzes natalinas com medidas provocativas como a desta segunda-feira, de nomear os promotores de justiça para a comissão do Natal Luz – contrariado porque está proibido de nomear aqueles das três ou quatro referidas famílias.

Sou de um tempo em que o Natal Luz era feito pela comunidade gramadense. Eu tinha uns oito anos de idade quando saía pelas ruas do centro com gorro de Papai Noel na cabeça e uma lanterna nas mãos. O coralzinho do colégio se unia ao coro de mil vozes que se formava no Lago Joaquina Rita Bier para, junto com a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, promover o Grande Concerto de Natal. Éramos parte do espetáculo. Antes ainda, sabe-se que os primeiros Natais se fizeram pela adesão dos moradores que enfeitavam as fachadas de suas casas com luzes e bolas coloridas.

Os anos passaram, o evento cresceu, se profissionalizou, mas essas lembranças sempre continuaram no imaginário do gramadense nato, como eu.

A suspeita de desvio de dinheiro público na organização do Natal Luz assombra muito mais do que meia dúzia de famílias e três ou quatro agentes políticos. Compromete o valor simbólico de um patrimônio gramadense, que tinha sido até hoje motivo de orgulho e prosperidade. Luz para o Natal de Gramado.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

O tempo em que vivemos

A sinopse de Meia-noite em Paris tinha me chamado atenção por tratar de uma síndrome da qual sofro há tempos: a da Era de Ouro. Trata-se, grosso modo, do saudosimo de uma época que nem vivemos. No filme de Woody Allen, o protagonista romantiza os anos 1920 em Paris, com escritores como Fitzgerald e Hemingway à disposição para uma conversa de boteco. Nada mal.

Crises de identidade do roteirista de cinema que quer ser escritor de romance e morar em Paris nos dias de chuva, contra a vontade da futura esposa, reforçadas pela psicanálise gratuita do amigo pedante da noiva, impulsionam as viagens noturnas para diálogos impagáveis com grandes nomes da literatura, da música e da arte quase um século atrás.

Acontece que cada um tem sua fantasia sobre os anos dourados. Sempre fica a sensação de que nascemos na época errada. E essa é a questão: sempre. Os que nasceram em nossos tempos áureos ideais, provavelmente, sintam que décadas anteriores teriam sido melhores.

Eu, por exemplo, talvez até influenciada pela leitura de A Era dos Festivais, canso de lamentar não ter vivido o fim dos anos 1960 no Brasil, quando festivais revelavam compositores, músicos eram estrelas de TV e metáforas cantadas eram mais que poemas de amor, representavam resistência política. Não haverá efervescência cultural e juventude engajada como naquela época. Ou não, diria Caetano.

O tempo em que vivemos, seja lá de que outro tempo tenhamos saudades, é o presente. Só que vem do passado a deixa de Hemingway que ficou martelando depois que a sessão de Meia-noite em Paris terminou: "toda covardia vem de não amar, ou de não amar direito". É preciso coragem para viver o presente.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tão simples e tão complexo quanto um ovo


"O ovo parece um brinquedo, mas é um instrumento musical."

Toda vez que tem um agito da galera, saco da capa do meu violão um ovo. É, um ovo. Pode pedir um ovo, sem medo, no balcão da primeira loja especializada em equipamentos para músicos e o atendente vai saber do que se trata. Mais: vai te trazer vários modelos, tamanhos, materiais e marcas diferentes.

O ovo parece um brinquedo, mas é um instrumento musical. Sempre riem do meu ‘chocalho’, mas logo passam a respeitar minha coordenação motora. Tocar no ritmo não é tão simples quanto pensa. Os que se arriscam a tentar acompanhar podem confirmar.

Fato é que o ovo, como reza a máxima, é como o mundo. Dizemos que o mundo é um ovo porque ele é ‘pequeno’, mas poderíamos dizer que o mundo é um ovo porque é, ao mesmo tempo, tão simples e tão complexo quanto tal.

Simples e complexo como o instrumento musical, que parece um brinquedo tosco, mas exige certa aptidão, ou mesmo o ovo biológico, que não se sabe se veio antes ou depois da galinha.

A simples complexidade do ovo, no fim das contas, é só mais uma de minhas metáforas baratas para dizer que é na simplicidade que está a graça do mundo, como o ovo preenche o ritmo da música que agita a galera em batidas memoráveis em qualquer fundo de quintal por aí.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Da queda de Renato no Grêmio

"Admito: não aguento mais secar o Inter. Nos anos 90 era mais fácil ser gremista."

Minha indignação com o Grêmio é muito anterior à queda do Renato. A vinda do ídolo do Mundial de 83 como treinador, na verdade, foi um grito de socorro na hora do desespero. Odone não queria, nunca quis Renato Portaluppi à beira do gramado no Olímpico. O clube só apelou a ele quando o Tricolor ameaçava seguir de novo o amargo caminho da Série B.

Renato salvou aquela temporada, levou o time à Libertadores, elevou de novo a autoestima do torcedor. Só que ídolos históricos e estádios lotados não ganham jogo. Muito menos títulos. Em 2011, caímos cedo na Libertadores, entregamos o Gauchão e no Brasileirão é um show de horror após o outro. Mesmo defendendo que o problema é mais antigo, que a culpa não era (só) dele, não dava mais para defender Renato.

O que quero dizer é: não adianta derrubar só o técnico, tem que cair a diretoria. O problema do Grêmio é muito anterior ao Renato. Não que ele não tenha feito algumas trapalhadas que comprometeram o desempenho do grupo. Foi incoerente em um momento que resultou crucial nas partidas seguintes. Disse que seu time não jogaria em gramado sintético no segundo turno do Gauchão. No dia do jogo, colocou os titulares em campo, debaixo de chuva, mesmo já tendo o primeiro turno ganho e uma Libertadores pela frente. Perdeu por seis meses o mais próximo que se tinha de um "matador" desde a saída de Jonas, André Lima. A partir dali, a casa começou a cair, ainda que sem relação direta com esse evento específico. Nada explica as cobranças pífias de pênaltis na final do Gauchão, que deram o título ao Inter em pleno Olímpico. Nada explica a queda absurda de rendimento de Lúcio e Douglas, o não aproveitamento de Escudero, a insistência em Rafael Marques e por aí vai.

Só que tem coisas externas ao gramado que precisam ser levadas em conta. Ok, pode ser que Douglas e companhia resolveram parar de jogar porque queriam derrubar o técnico. Mas pode ser também que Douglas estivesse insatisfeito no clube, porque era exaltado como homem de confiança do treinador e a diretoria lhe negou qualquer renegociação de contrato para permanecer no Grêmio. Renato passou o semestre inteiro dizendo que o grupo precisava de reforços, os quais a diretoria também lhe negou.

O clube está falido? É a Arena que está levando os recursos? Ok, então vamos jogar a Série B e repensar se adianta ter um estádio novo para sediar jogos da Segundona. Ou então que busquem um investidor para o time, que é o que realmente interessa ao torcedor.

Admito: não aguento mais secar o Inter. Até quando? Nos anos 90 era mais fácil ser gremista. O Inter, depois de três décadas sem títulos importantes, virou a gangorra e agora se debruça em flautas em cima de nós, gremistas. Apelamos ao Mazembe para ter o que dizer. Renan dá de bandeja três gols ao Grêmio e conseguimos perder o título gaúcho. Não somos capazes de golear o time com a pior defesa do campeonato, mesmo jogando dentro de casa. Mais um pouco e perdemos a honra.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Um dia distinto

“Aos 22 dias do mês de junho parararara, atribuíram à aluna o conceito de (pausa para um gole de água) aprovada com distinção

22 de junho de 2011. Um dia esperado e ao mesmo tempo temido. Agora, definitivamente, um dia distinto! Era o dia da banca do meu trabalho de conclusão de curso. E como tinha dado trabalho. Projetar, problematizar, teorizar, analisar, dissertar, revisar, formatar, entregar... cada verbo, um ato ou efeito de sofrimento.

De todos os verbos, o que mais me preocupava era o avaliar. Preocupava-me este verbo porque era o único que não dependia de mim. A mim competia defender, nada mais. A avaliação caberia aos examinadores chamados para a banca.

Nos dias que antecederam a bendita defesa eu só sabia conjugar verbos do tipo desesperar. Andava de um lado para o outro, sem sossego. Alento mesmo, só depois que o mestre leu a ata: “aos 22 dias do mês de junho parararara, atribuíram à aluna o conceito de (pausa para um gole de água) aprovada com distinção”!

Desde então vivi as 24 horas mais distintas da minha vida acadêmica. O mais bacana é que a digna distinção da banca repercute numa distinção ainda mais valiosa: o reconhecimento dos amigos. Aqueles que fiz questão de agradecer por terem caminhado comigo no decorrer da pesquisa, claro, estão comigo para comemorar a conquista.

Se não pela aprovação registrada em ata, sinto-me hoje a mais distinta de todas por ter um montão de gente para abraçar e dividir minha alegria. Não canso de dizer: obrigada! Distintos são vocês.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O lugar de cada coisa


“Somente quando damos a cada coisa o espaço de cada coisa é que podemos esperar por dias melhores.”

Viver é a arte de abrir espaços. Na verdade, é a arte de colocar cada coisa em seu lugar. Somente quando damos a cada coisa o espaço de cada coisa é que podemos esperar por dias melhores. Fica difícil colocar algo novo dentro de uma gaveta que mal conseguimos fechar.

Sexta-feira passada dediquei algumas horas do dia à organização de minhas gavetas. Faxinei na Redação, no PPG, no apê. Estava com as gavetas abarrotadas, de cima abaixo. Sempre preocupada com a atividade do minuto seguinte, colocava na gaveta, sem qualquer critério, o que deixava para depois. Quando resolvi colocar ordem na bagunça, não demorou muito para os espaços livres começaram a aparecer.

Acontece que a gente tem a tendência de acumular as coisas. Vamos jogando uma coisa por cima da outra, conforme dá. Quando vê, a gente precisa revirar a gaveta, porque o importante mesmo estava lá no fundo, atravessado por todo o resto que empilhamos, com preguiça de resolver porque temos outras prioridades naquele momento.

Como são as gavetas, é a vida. Eu mesma só fui prestar atenção na desordem de minhas gavetas estimulada pelo alívio de ter entregue o TCC. Quanta coisa deixei para depois... Para algumas, já era tarde. Para outras, pode ser que ainda haja tempo.

Esses momentos que a gente tira para aplicar os '5S' na vida só reforçam o difícil que é dar a cada coisa o lugar de cada coisa. As priorizações fazem com que a gente perca de vista algumas coisas valiosas.

Sempre temos que administrar pressões vindas de um ou de outro lado. O desafio é manter a gaveta em ordem, não deixar que as dimensões se atropelem, e dar a cada coisa – carreira, estudo, contas a pagar, dieta, atividade física, lazer, amigos, família, ... – o lugar de cada coisa.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Aos que caminharam ao meu lado durante o #TCC


Na vida, a gente sempre está tentando conquistar alguma coisa. Um carro, um emprego, um diploma... um TCC! Fato é que, de tudo que a gente possa conquistar nesta vida, o que temos de mais valioso, com certeza, são as pessoas que caminham ao nosso lado. No #TCC não foi diferente. Então, agora que ele está oficialmente entregue - só esperando pela banca, #quemedo - torno pública minha gratidão a algumas pessoas que caminharam ao meu lado neste ano e pouco de trabalho. Obrigada, gente!

Assim está na 3ª página de minha monografia:

A conclusão deste trabalho é o símbolo do fim de um processo, no qual nunca estive sozinha. Agradeço aos que caminharam junto comigo, como:

Meu #pai, Pedro, e minha #mãe, Maria, que não fazem ideia sobre o que trata esta monografia, mas souberam compreender minha ausência no período em que eu a redigia. Graças a eles aprendi a ler jornal, gostar de jornal e não perder a esperança no jornalismo.

Meu orientador, @plsosorio, verdadeiro mestre, comprometido com minha orientação no TCC, presença importantíssima na minha formação em cada disciplina que ministrou desde meu primeiro semestre no curso; assim como os demais mestres que participaram de minha formação.

O grupo de pesquisa @processocom de maneira geral: graduandos, mestres, doutores e pós-doutores, especialmente aos professores #EfendyMaldonado, #NisiaRosario e #JianiBonin, das quais fui bolsista de iniciação científica. O Processocom me ensinou o valor do conhecimento científico e da troca humilde de experiências entre colegas e professores, independentemente do nível acadêmico de cada um. Agradeço, também, aos colegas do grupo: @greycevargas, que formatou este TCC; @tweetsdorafael, com quem muito debati as ideias deste trabalho entre reuniões teórico-metodológicas e encontros festivos; @AnaCrisBasei, @rico_machado e @BrunoAlencastro, colegas de pesquisa, TCCs nota 10 e grandes amigos que me serviram de apoio e inspiração, da mesma forma que @mila_bacana, @candidaportolan, @andrejornalis, @stefanietelles, também colegas de pesquisa e grandes amigos que partilharam a experiência de TCCer antes, durante e depois, com direito a muitas cuias de chimarrão e filosofia (barata) nos gabinetes do PPG de Comunicação da Unisinos.

A coordenadora de Internet do Grupo RBS, #MartaGleich, que disponibilizou todos os dados necessários a esta monografia, com muita cordialidade e agilidade. A editora e colunista de Política do jornal Zero Hora, @rosaneoliveira, que forneceu material para análise e concedeu entrevista para o trabalho. A editora de Mídias Sociais do Grupo RBS, @babsnickel, que concedeu valiosa entrevista para consolidar esta monografia. A própria @zerohora, que me ofereceu excelente oportunidade de amadurecimento profissional. Meus chefes @carolinetorma e #ThiagoCopetti que, além de sempre confiarem e apostarem em mim, me deram férias para concluir este trabalho. Também @pedrodiaslopes, @lisebrenol e todos os colegas de zerohora.com, pelas discussões, especialmente em nossas reuniões semanais, que ajudaram a inspirar reflexões aqui abordadas.

Minhas irmãs @versodavida e #Betina; meu irmão de mentirinha, mas de verdade, @mitigrade; minha grande amiga @lihabreu; e meus parceiros de #trilogia @falatche e @rafacarniel, que estiveram sempre de braços abertos para me acolher quando voltava à terra natal, mesmo que muitas vezes em passagens rápidas e após longos intervalos. As #pérolasdoapê protagonizadas por #TatiTeski e @candidaportolan, que têm sido minha família longe da casa da mãe. O #blocodosalbinos, amigos incríveis que se formaram na vida acadêmica (com ajuda do @XisdoAlemao) e permanecem presentes para não deixar a vida perder a graça nunca. Também o #cafédasdivas de (quase) toda segunda-feira, que garantiu descontração e gargalhadas a cada encontro pelos cafés da faculdade.

A @Unisinos que me ofereceu as condições, ainda que a um alto custo, de obter uma formação profissional, acadêmica e humana de qualidade.

O @OCriador, que colocou todas essas pessoas maravilhosas no meu caminho e, através delas, seguramente esteve ao meu lado em cada passo – e também em cada página deste TCC.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

A paródia mais bonita da cidade

“Se esquecer a melodia não é tão fácil quanto pensa, resta então compor, mais uma versão para o meu amor...”

Há cerca de uma semana uma certa “oração” não sai da cabeça de muita gente por aí. Um vídeo de seis minutos com uma música de apenas oito versos rendeu à dita banda mais bonita da cidade mais de dois milhões de visualizações. Se foram de simpatia as primeiras manifestações que surgiram na internet sobre o clipe filmado em plano-sequência passando por vários cômodos de um casarão no Paraná, não faltaram paródias bem-humoradas para aquela que, em pouco tempo, se tornou a música mais chata da cidade.

Da turma do Chaves ao humorista Rafinha Bastos, passando por agências de comunicação e repúblicas estudantis (?). Se esquecer a melodia não é tão fácil quanto pensa, resta então compor, mais uma versão para o meu amor... E por aí vai.

Em poucas horas de conversa no PPGCOM da Unisinos com @andrejornalis e @candidaportolan – e algumas tuitadas com @tweetsdorafael – já temos duas versões prontas para entrar na lista. Se sair daqui, é plágio!

A pesquisa mais bonita da cidade
Meu amor, esta é a citação / Da minha dissertação / Citação não é tão simples quanto pensa / Nela cabe o que cabe na despensa / Cabe um autor / Cabem ideias inteiras / Cabem vários teoremas / Teorizações / Cabe até o meu amor (repete)

A redação mais bonita da cidade
Meu amor, eu tô de plantão / Não tem folga não / A pauta não é tão simples quanto pensa / E o pior é que o salário não compensa / E o editor / Ele quer páginas inteiras / Se for sexta-feira / Vai fechar bem depois / Então meu amor (repete)

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sofre um pai de jornalista


“Jornalistas aprendem desde muito cedo que feriado é uma palavra que colocaram no dicionário, mas não faz parte do nosso calendário”

Quando uma guria do interior, movida a encontros gigantescos de família em datas festivas, sai de casa, é um problema. Em berço católico, esses dias são para serem celebrados com todo o rebanho reunido. Todo rebanho, no entanto, tem sua ovelha negra. No caso, a guria do interior que sai de casa e embesta em ser jornalista.

Jornalistas, quando se integram a uma redação de jornal, aprendem desde muito cedo que feriado é uma palavra que colocaram no dicionário, mas não faz parte do nosso calendário. Na pauta, feriado é o tipo da coisa que só nos remete a ‘mais trabalho’.

Pais de jornalistas é que demoram um pouco mais para se acostumar com a rotina de plantões, assim como pais de médicos e policiais, provavelmente. Meu pai não se acostumará tão facilmente.

Domingo de Páscoa, recebo ligação de casa. A mãe me pergunta se eu estudei, o pai se desmancha em lágrimas. Minha mãe sempre foi o homem da casa! O pai, o cara de choro fácil. No tal telefonema pascal, ele se lamenta pelo meu engate no feriado: “A gente sente que tu não vem, mas foi o que tu escolheu, né?!”. Deu pra sentir uma parcela de culpa por ser (quase) jornalista. Um abraço resolveria o problema, mas ainda não inventaram uma técnica que transponha 100 km de distância.

No fim das contas, meu pai estava até melhor do que eu. Tinha outras duas filhas em casa para abraçar. Eu não tinha outro pai, nem terei. Nada fácil para quem cresceu regada a churrascos fartos em dia de festa. Minha mãe, o homem da casa, diria que o que não mata, fortalece. E a gente de fato se acostuma com (quase) tudo nesta vida. Inclusive com o choro do pai no telefone. O mesmo pai que reza por mim todos os dias. Que Deus o ouça.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Eu seria vocalista de uma banda cover de Roxette

A declaração de Per Gessle para o G1 resume tudo: “É um milagre”. Ele se referia ao retorno de sua partner nos vocais da banda que emplacou hits nos anos 1980 e 90, Roxette. A sueca Marie Fredriksson teve diagnosticado um tumor no cérebro em 2002. Os médicos lhe deram 20% de chance de sobreviver. Ela ficou com os 20%.

Mas outro milagre ainda seria protagonizado por Marie: com Roxette de volta aos palcos em turnê internacional, pude ver em Porto Alegre a banda que embalava as reuniões dançantes da minha adolescência. Não duvido de mais nada.

Cantei junto com eles e outros milhares de outros saudosistas tantos sucessos que fica até difícil enumerar: Dressed for success, Sleeping in my car, Joyride, How do you do, The look... sem contar as românticas It must have been Love, Listen to your heart, Spending my time...

Tantas músicas na lembrança que me remetem a uma fase tão boa da vida que até me ocorreu: eu seria vocalista de uma banda cover de Roxette. Sério mesmo.

PS - Foto do post é do Bruno Alencastro, que vi de longe, trabalhando para o 'concorrente' :P


sábado, 9 de abril de 2011

O futebol gaúcho e as suas

Se não for outra novela, a contratação de Paulo Roberto Falcão como treinador do Internacional cria um cenário único no futebol gaúcho: dois grandes ídolos de Grêmio e de Inter, se não os maiores, treinando os clubes que os consagraram, ao mesmo tempo. O que isso singnifica? Para o futebol, nada. Mas para os gaúchos...

Gremistas e colorados não precisam de motivo para exacerbar a rivalidade. Até futebol de botão serve. O Rio Grande do Sul deve ser o único lugar do planeta onde o contrário de azul é vermelho. Mas imagine à beira do gramado, na mesma partida, Renato Portaluppi, que deu ao Grêmio o título mundial de 1983, e Falcão, tricampeão brasileiro pelo Inter em 1975. É para torcedor nenhum ficar desmotivado.

Claro que nem paixão nem torcida ganham jogo. Em se tratando de treinador, resultados serão cobrados. Renato veio para o Grêmio quando o time estava a caminho do rebaixamento no Brasileirão de 2010, e resolveu. A equipe ascendeu, terminou na quarta colocação na tabela e conquistou a vaga para a Libertadores na "repescagem". Um ano antes, Renato tinha sido repudiado pelo clube. Na Libertadores de 2009, Celso Roth foi afastado do Tricolor e especulou-se que Renato poderia ser o substituto. A diretoria achou que não era o momento. O mesmo Celso Roth, também em meio a uma Libertadores, agora é afastado do Inter e fala-se em um antigo ídolo colorado para ocupar o posto. Só que, apesar das semelhanças, há diferenças pontuais entre um caso e outro.

Roth sai tarde do Inter. Já deveria ter ido embora depois do fiasco contra o Mazembe, no Mundial do ano passado. Nada justifica a permanência de um técnico que planejou errado toda uma temporada deixando de lado o campeonato nacional, que tinha plenas condições de vencer, e sair do campeonato mundial sem sequer superar o adversário africano na primeira fase. Mas Roth ficou e nem estava em fase tão ruim agora. O Inter vai se classificar em primeiro no grupo, ao que tudo indica. Se é para comparar com o rival, o Grêmio, de Renato, será o segundo em uma chave, teoricamente, mais fraca.

Apelar para um ídolo da história do clube é uma atitude extrema. Era o caso do Grêmio quando trouxe Renato. Estava prestes a ser rebaixado mais uma vez nesta década, já tinha trocado de treinador três vezes em menos de um ano. Nada parecia dar certo. Renato poderia pelo menos mexer com a autoestima do torcedor. Era o último recurso. Para a alegria dos azuis, deu certo. Mas não é o caso do Inter. Ainda não é.

De qualquer maneira, Falcão no Inter vai mexer com os ânimos da Dupla. O fervor nas arquibancadas é garantido, resta ver os efeitos disso dentro de campo. Claro, se a contratação se confirmar. Falcão seria anunciado como novo técnico hoje, agora já passou para segunda-feira. Para quem acompanhou a novela Ronaldinho no início do ano, não se pode duvidar de nada. Tudo indica que ele será anunciado. E o futebol gaúcho terá um momento único a ser lembrado.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Será que chove?


"Nunca fui muito apegada a previsões. Muito menos à do tempo."

Meu chefe não usa o elevador da firma. Vai sempre pelas escadas. Ele diz que elevador é muito constrangedor. Nunca se sabe quem vai embarcar no andar seguinte. Ou fica aquele silêncio sepulcral ou alguém puxa o tradicional assunto para quando falta assunto: “será que chove?”. Conversas meteorológicas são típicas de elevador.

Nunca fui muito apegada a previsões. Muito menos à do tempo. Sempre duvidei de qualquer natureza de futurologia, mesmo que tenha alguma vocação científica. Quanto ao clima, cresci com minha mãe dizendo que o Cléo Kuhn nunca acerta (para quem acha que posso estar sendo injusta com o moço, o Cléo Kuhn tem 26 anos só de meteorologia...). A neve em Gramado ele não acerta faz anos, fato.

A verdade é que, por um bom tempo, ignorei a meteorologia. Jamais tive a pretensão jornalística de ser “a garota do tempo” (e quiçá chegar ao Fantástico, como Patrícia Poeta e o tempo Hoje). Mas a rotina atual fez com que minha ignorância meteorológica, aos poucos, fosse transformada em fobia. Tenho medo da previsão do tempo. Sério. A meteorologia me assusta.

Seja pela enchente ou pela seca, existe uma espécie de obsessão por pautas climáticas. No jornal, clima não é quebra-gelo quando falta assunto. É o próprio assunto. Da neve ao calorão, o tempo é pauta. Sempre. E olha que dá trabalho. Bem menos trabalho do que ir pelas escadas só para evitar uma conversa de elevador.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Último capítulo


“Perdia-se o fio da meada da vida real e as histórias que contávamos nunca chegavam ao fim. Fim mesmo, só o da novela é que interessava.”


Sábado à noite na casa da mãe. Família reunida ao redor da mesa para uma espécie de café colonial caseiro. Queijos, salames e geleias diversas. Enquanto atualizamos uns aos outros dos últimos acontecimentos, o volume da TV compete com o da conversa. Era o último capítulo da novela.

Volta e meia alguém interrompia algum relato da nossa vidinha nem tão mais ou menos assim para ver o fim de algum personagem da trama. E aí perdia-se o fio da meada da vida real e as histórias que contávamos nunca chegavam ao fim. Fim mesmo, só o da novela é que interessava.

Novela é uma coisa curiosa, porque a pessoa sempre sabe que tudo vai dar certo no fim, mas mesmo assim se envolve com a história. Torce pelo personagem, se comove. Cria um vínculo quase familiar – a ponto de se tornar mais interessante até mesmo que as histórias contadas em família.

Acontece que na vida real não tem último capítulo de novela. Não esse “mundo ideal” em que todos os corações partidos se regeneram, todos os bebês nascem saudáveis, todas as injustiças são condenadas. Não tá com nada essa máxima de que tudo vai dar certo no fim. Aposto que todo mundo já tentou se convencer disso em algum momento. Mas pode ser que não dê certo no fim. Pode ser que nem tenha fim. Fim de novela é que certamente não terá.

Nada contra novelas. Eu mesma já fui uma noveleira convicta, hoje um tanto desapegada porque meu horário nobre não fecha com o da TV. E também não se trata de ser pessimista. Ao contrário. O clima de fim de novela está em pequenos detalhes do dia a dia, que quase sempre passam despercebidos.

Aí que tá. Enquanto a gente sonha com o último capítulo, perde a chance de valorizar coisas simples que fazem toda a diferença.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Oração de pai


Ele traduziu, na fala seguinte, em uma sentença lógica, o cotidiano de sua profissão – creio que também o da minha: “Durante a operação, eu precisava ser racional, mas agora é o lado humano que conta”.


Nesta minha vida de ‘projeto de jornalista’ cada dia é um aprendizado. Pode ser das coisas mais divertidas, tipo receita de cerveja artesanal, até as coisas mais burocráticas, como tipos de relação de trabalho. Mas são principalmente as tragédias que nos pautam no dia a dia.

Um desses dramas humanos caiu no meu colo hoje. A história de uma jovem quase tão jovem quanto eu, portanto com tantos projetos e incertezas quanto eu. Acompanhava o caso desde o início, intermediando a apuração da jornalista no Vale do Sinos com a publicação dos conteúdos no site. Hoje, na folga dela, coube a mim a tarefa de relatar o enterro de Cristiana Reis, 20 anos, vítima da enxurrada na Reserva Ecológica da Família Lima no dia 20 de fevereiro.

Tinha ficado especialmente comovida com um vídeo da tragédia, que me fez automaticamente lembrar de uma situação muito parecida que vivi anos atrás. Parecida, porém nem de longe tão trágica. Ao contrário de nós, que podíamos rir de tudo horas depois, os amigos e familiares de Cristiana enfrentaram quase uma semana de angústia, até que seu corpo fosse encontrado e pudessem ao menos cumprir o ritual de despedida dignamente.

Por meio de uma amiga em comum – sim, o mundo definitivamente é pequeno – cheguei ao professor de dança da jovem e também outras amigas. A assessoria de imprensa da faculdade facilitou o acesso aos colegas de curso. A titular da pauta tinha deixado de herança o telefone do tenente que comandou as buscas durante a semana.

Eu, que na noite imediatamente anterior tinha atendido uma ligação do meu pai, emocionado, em lágrimas porque tinha visto no jornal uma página inteira escrita por mim, assimilei na hora o peso da declaração daquele tenente: “agora não é o tenente que está em ação, mas o pai”. Foi então que ele me contou que tem uma filha de 18 anos e traduziu, na fala seguinte, em uma sentença lógica, o cotidiano de sua profissão – creio que também o da minha: “Durante a operação, eu precisava ser racional, mas agora é o lado humano que conta”.

Não acredito que uma pessoa possa ficar inerte ao sofrimento de outra. Nem depois de 50 anos de jornalismo. Espero sobreviver até lá para constatar se estou certa ou errada a esse respeito. Enquanto isso, espero que as orações do meu pai continuem sendo fortes o bastante para que eu siga capaz de aprender a cada dia com a vida. Esta #vidadejornalista pela qual optei e me faz realizada.

Links do post:

>> Amigos resgatam a tradição alemã de fazer cerveja em casa e reunir a turma
>> As diferentes relações de trabalho
>> Levantando acampamento (e tais&coisas)
>> Jovem morta em enxurrada no sítio da Família Lima é sepultada em Caxias do Sul
>> "Ela estava sempre sorrindo", diz professor da jovem morta após enxurrada no Vale do Sinos

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Suíte


“Qualquer comentário despretensioso no Twitter pode ser usado contra você pelos colegas mais atentos.”

No glossário jornalístico, suíte não tem nada a ver com quarto com banheiro integrado. Chamamos de suíte a continuação, repercussão, atualização de um assunto. Bater na mesma tecla, para usar uma expressão proibida no bom texto jornalístico.

Suitar (sim, conjugamos o vocábulo) é um desafio quase diário na Redação. As ferramentas de mensuração de audiência online potencializam o processo: a matéria foi a mais acessada do dia? Tem que ter uma suíte. Tem que ter.

Algumas pautas são mais facilmente suitáveis, outras menos. Mas, nem que seja com um fato novo, o jornalismo diário continua.

Todo esse nariz de cera (jargão da área para “encheção de linguiça”) apenas para entrar no assunto Mochilão pelo Interior, de ZH. Os correspondentes do jornal espalhados pelo Estado abraçaram a ideia e partiram para a segunda caravana no último fim de semana. Tem gente se recuperando até hoje (sim, na quarta!) e cada dia é uma surpresa na caixa de entrada.

Taí um assunto que ganhou suíte da suíte (da suíte...). Tem pauta até a próxima edição. O violão sequestrado, o travesseiro extraviado, o cochilo (em serviço) flagrado. Nada passa batido. Qualquer comentário despretensioso no Twitter pode ser usado contra você pelos colegas mais atentos.

É, vida de jornalista. Bem-vindo ao mundo de pautas intermináveis e muitas, mas muitas piadas internas!

Na foto aí em cima, está a turma da caravana desconcentrando todo mundo na Redação, com o mapa das próximas aventuras em mãos. Coisas simples que compensam as longas horas de trabalho, de domingo a domingo, incluindo feriados. Com bons colegas por perto, essa vida de jornalista tem muito mais graça.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Depois dos desaniversários, as “desformaturas”


“Se um dia por ano é pouco para comemorar a vida, imagine um dia na vida para comemorar a graduação"

Tem gente que chora em casamentos. Eu choro em formaturas. Mas ontem chorei mais. Chorei porque dos 50 e tantos que receberam o grau de bacharéis em Comunicação Social – Habilitação Jornalismo fui colega de pelo menos uns 40. Convivi com alguns por mais tempo, outros por menos. Tinha vários amigos naquele palco. Outros não eram tão próximos, mas serão igualmente recordados por algum comentário em sala de aula, um trabalho em grupo, uma cerveja no Xis do Alemão.

Eu não tenho dúvidas de que o dia da minha formatura – que há de chegar! – será o mais lindo da minha vida, mas devo admitir que a noite de ontem foi linda demais. Eu estava que nem mãe e vó de tão emocionada pelos queridos colegas que estavam lá recebendo o canudo.

Vibrei com cada quebra de protocolo (os filhos lindos da Nanda Herrera que correram para abraçar a mãe, o par de All Star lançado ao palco para a Bruna Schuck calçar, o Matheus Cardoso puxando uma colega para dançar uma vaneira, o desfile do Garoto Verão Hallan Klein, e por aí vai). Tive um flashback a cada nome chamado.

Abracei com todas as minhas forças tantos quanto consegui localizar no final da cerimônia. Em muitos deles, pode ter sido o último abraço em um longo intervalo, até que nos reencontremos em alguma coletiva de imprensa ou quem sabe agendando uma entrevista com o cliente do outro. Alguns, ainda bem, poderão receber mais abraços segunda-feira na firma ou semana que vem na próxima janta da galera.

Na hora da festa, tive que me dividir para comemorar. No fim, não consegui agradar a todos, infelizmente. Então lembrei dos desaniversários. Se um dia por ano é pouco para comemorar a vida, imagine um dia na vida para comemorar a graduação. Eu, uma eterna “desformanda”, que o diga. Tanto que apareci no telão diversas vezes, infiltrada nas saudosas confrarias realizadas no decorrer do semestre.

Não colei grau em Jornalismo com esta galera, mas colei grau em amizade, com direito a extensão em solidariedade, bom-humor, parceria. Espero que a pós-graduação não fique só na saudade. Obrigada, colegas. E parabéns, jornalistas diplomados!

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Casa limpa


A grana não dá para tudo, então fico com a faxina por fazer e a Brastemp antiga para degelar, em troca de finais de semana animados e um diploma na parede.

Nesta minha vidinha ralada de estudante-universitária-estagiária-pseudoindependente vivo fazendo opções: ou pago uma faxineira, ou pego um ônibus para subir a Serra no fim de semana; ou compro uma geladeira frost free, ou me matriculo em uma cadeira a mais na faculdade.

Como não aprendi a viver por muito tempo longe de família e velhos amigos, e terminar a graduação é meta máxima para 2011, não me restam muitas opções. A grana não dá para tudo, então fico com a faxina por fazer e a Brastemp antiga para degelar, em troca de finais de semana animados e um diploma na parede.

O alagamento na cozinha por causa do gelo derretido é das coisas mais deprimentes. Sem contar que, quando se faz seis horas diárias de estágio numa Redação e quatro horas de atividades acadêmicas numa unidade de pesquisa, com duas horas de deslocamento na soma dos trajetos, ainda com um TCC para entregar no meio do ano, é ruim demais dedicar as poucas horas livres que restam a atividades domésticas.

Só que, quando tudo fica pronto, dá até um orgulho! Talvez um alívio. Detesto fazer faxina, mas adoro ver a casa limpa. A vida também é assim. Seguidamente precisamos de uma faxina interna. Colocar em ordem sentimentos, projetos, valores. É preciso criar coragem para revirar o entulho que vamos acumulando entre dias atribulados, tarefas acumuladas, programas protelados. Mas depois é tão bom ver a casa limpa...

domingo, 9 de janeiro de 2011

Da novela Ronaldinho Gaúcho


Teve de tudo nesta novela. Traição, perdão, falcatrua, enrolação. Só faltou paixão.

A dita novela Ronaldinho Gaúcho tomou conta da mídia esportiva nas últimas semanas, especialmente no Rio Grande do Sul, claro, mas também no centro do país. Primeiro, a esperança gremista de contar com um craque, que, a exemplo do Ronaldo Gordo, mesmo fora de forma, é acima da média dentre os que atuam no futebol nacional. Sem contar o fator, digamos, “redenção”. De uma certa forma, esperava-se que, com o retorno, Ronaldinho desse ao Grêmio o que não deu quando foi embora.

De repente começam a brotar especulações sobre interesses financeiros do Milan, negociações com outros clubes e aí cada dia era um anúncio diferente, comentários de toda ordem, de Pelé, o Rei, ao técnico colorado, Celso Roth. Sem contar a coletiva que mobilizou a imprensa e não esclareceu nada que já não se soubesse. Capítulos insossos que terminaram em pizza. Como disse o polêmico dirigente do Palmeiras, deviam montar um circo.

Teve de tudo nesta novela. Traição, perdão, falcatrua, enrolação. Só faltou paixão. Diria mais, a tal novela Ronaldinho foi um desrespeito ao Grêmio, enquanto clube e enquanto torcida. Se quisesse mesmo jogar no Grêmio outra vez, Ronaldinho podia ele mesmo pagar a multa rescisória com o Milan e assinar o contrato com o clube que o lançou. Dinheiro não é bem o problema. Ganância pode ser. Como disse Pelé, numa de suas poucas declarações que fez sentido, se fosse gremista, Ronaldinho jogava até de graça. Parece que agora nem de graça ele pisa no Olímpico.

Esse tipo de 'novela' só reforça que, apaixonado mesmo, só o torcedor. Futebol é mercado, é negócio. Aqui na província vai continuar na base da arte marcial dentro de campo e da eterna rivalidade fora dos gramados. Mazembe e Ronaldinho Gaúcho agora estão em patamares semelhantes, com margem de erro para mais ou para menos, conforme quem flauteia.

PS - a foto eu puxei da zerohora.com, é do simpático colega Fernando Gomes ;)