segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

“Querido Papai Noel...

...o meu sonho é ganhar uma Barbie e tenho 7 anos e tô na 1ª série e o meu nome é Maria Gabriela”

Esta é a cartinha que adotei este ano, na campanha Papai Noel dos Correios. Escritas num pedaço de folha de caderno com 5x15cm, estas poucas palavras me remeteram aos meus 7 ou 8 anos de idade, quando eu também escrevi ao Papai Noel pedindo-lhe uma Barbie. Eu nunca tive uma Barbie.

Fiz toda a minha formação escolar em colégios particulares, do jardim de infância à universidade, mas nunca com menos esforço – antes dos meus pais, agora meu – para pagar as mensalidades. Não que eu tenha tido uma infância pobre, bem longe disso. Eu apenas tive uma infância diferente das minhas colegas de aula. E era por me sentir diferente que eu queria uma Barbie. Eu ia na casa das outras meninas da escola e via aquelas prateleiras cheias de bonecas loiras e lindas: grávida, princesa, bailarina, esportista. Das mais variadas versões. Elas tinham muitas Barbies, e eu nenhuma.

O meu pedido ao Papai Noel resultou numa imitação da boneca famosa que eu tanto queria - até morena era! - e numa carta-resposta do Papai Noel, que só anos mais tarde fui saber que havia sido escrita por meus pais. A carta dizia que havia muitas crianças a serem presenteadas e o Bom Velhinho infelizmente não tinha conseguido atender fielmente ao meu pedido, mas esperava que eu ficasse contente com o que ganhei. E eu fiquei. Nossa, como eu fiquei feliz! Brinquei muito com aquela Barbie-fake e com as roupinhas que minha mãe fazia para ela. Lembro que o nome da boneca era Maria, o mesmo nome da minha mãe e da mãe de Jesus.

Natal passado, contei essa história para uma das primas do meu namorado, mais ou menos da idade da Maria Gabriela, e deixei a família toda comovida: “A Taís nunca teve uma Barbie!”, diziam, como se isso fosse algo de extraordinário. Na noite de Natal, aos 20 e poucos anos, ganhei minha primeira – e única – Barbie (da minha sogra!).

No dia seguinte, com minha mãe por perto, contei pela enésima fez esse episódio da Barbie-fake e até chorei. Não porque finalmente tinha ganho a boneca linda e loira (original!) que toda menina sonhava ter, mas porque o gesto dos meus pais me deixou uma lição, a qual eu só percebi muitos Natais depois: se não podemos ter tudo o que desejamos, ao menos podemos ser felizes com o que temos.
Se tem uma coisa que aprendi com eles é a ser feliz e a valorizar o que tenho, mesmo que não seja muito, porque o amor, o caráter, a amizade, a solidariedade e tantos outros valores evocados nesta época do ano são muito mais caros do que a mais cara das bonecas. Feliz Natal!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Quando a leitura dos outros nos interessa (3)


“Disfarçava esticando o pescoço para fazer de conta que estava vendo se o trem despontava nos trilhos.”

Outro dia cheguei na plataforma 30 segundos depois de o trem arrancar com destino a Porto Alegre. Sem opção melhor, tirei o livro da bolsa e sentei no banco para esperar. Pelo menos nove minutos e meio me separavam do próximo.

Ali, sentada, lendo, vi que o rapaz que chegou logo depois de mim disparava olhares em minha direção. Fiquei com vontade de perguntar se havia algum problema, mas logo percebi que ele estava mirando era o livro mesmo. Disfarçava esticando o pescoço para fazer de conta que estava vendo se o trem despontava nos trilhos. Mas acho que ele percebeu que eu percebi, então ele se entregou:

- Estás lendo Cazuza?

Não por acaso, na página anterior havia uma crônica sobre uma música do Cazuza, mas apenas respondi, simpaticamente:

- Não. É uma coletânea de crônicas da Martha Medeiros mesmo.

Ele devolveu:

- Ah bom. Como eu não tinha o que fazer, li uma página contigo.

Contigo?! Veja só que intimidade se esconde numa página virada! Se meu namorado fica sabendo, pode até interpretar mal! Nisso, para me safar, o trem parou na plataforma. Entrei numa porta, o curioso noutra, e nos despedimos como dois desconhecidos que somos, apesar das páginas lidas a dois.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Até parece que precisa entregar


Por favor, parem com essa palhaçada de “Grêmio entrega”. Como se precisasse! O Grêmio só ganhou uma partida fora de casa o campeonato todo, jura que iria bater o Flamengo no Maracanã lotado!

Eu nunca gostei da disputa do Brasileirão por pontos corridos. Desde que foi implantado esse sistema, o campeonato ficou sem graça, sem aquela emoção de “final de campeonato”. Mata-mata é muito mais interessante. Pois bem, eis que este ano os ânimos estão acalorados na última rodada, mas por um motivo tão inusitado quanto indigesto: o Inter tem a chance de ser campeão – desde que o Grêmio vença.

Ora, agora o meu time tem que perder para não deixar o rival levantar a taça! Palhaçada mesmo essa história de pontos corridos. Mas, no “mundo real”, palhaçada mesmo é essa campanha “Grêmio entrega”! Como se precisasse! O Grêmio só ganhou uma partida fora de casa o campeonato todo, jura que iria bater o Flamengo no Maracanã lotado!

Essa campanha “Grêmio entrega” é muito mais folclore da torcida, uma flauta nos colorados, do que um pedido propriamente dito. O Inter não vai ser campeão brasileiro em 2009, mas não porque o Grêmio vai “entregar”, e sim porque o tricolor não tem a menor chance contra o rubro-negro. Não no Maracanã lotado. Em casa, o Grêmio goleou, mas em casa. Não me pergunte o que há com esse time que não vence fora, mas é fato.

Fato, aliás, que os colorados conhecem bem e que lhes serviu de anedota o campeonato todo: “O Grêmio é o bom marido, só joga em casa”, “O Grêmio é um time ecológico, não joga nada fora” e outras tantas escutei. Para agora ter que ouvir essa palhaçada de que o Grêmio vai entregar, que os dirigentes do Inter vão processar... Ah, francamente!

Acorda, colorado! E chora! Não vai ser dessa vez.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Por que John Locke está ao centro, mas de costas no cartaz de Lost 6?

Revelações substanciais estão reservadas para a última temporada...

Os fãs de Lost (como eu!) não cabem em si de tanta curiosidade pelo que irá acontecer na sexta e última temporada da série que seguiu a vida dos sobreviventes de um acidente aéreo numa misteriosa ilha tropical nos últimos cinco anos. Não bastasse Lost estar devendo muitas explicações, a divulgação do cartaz da temporada final deixa pelo menos mais uma pergunta em aberto: por que John Locke está ao centro, mas de costas no cartaz de Lost 6?
Que face ele irá revelar? O que ele dirá? Há algo que ele tenha a esconder? A quem, afinal, ele estaria dando as costas? Ou o que ele está deixando para trás? Muitas significações podem ser produzidas em cima dessa imagem – e hipóteses não faltam em blogs, fóruns, redes sociais e até mesmo no youtube, onde abundam trailers da sexta temporada produzidos por fãs com suas teorias.

No que se refere a Locke de costas no cartaz da temporada final, chama atenção o suspense criado no dia do lançamento. O vídeo abaixo mostra que, um a um, os personagens da série – inclusive os que já morreram (pelo menos em tese) –, foram aparecendo na imagem. O último a surgir é John Locke. Bem ao centro e de costas.




Observando não só a trajetória do personagem, mas também a postura de seu intérprete, Terry O'Quinn, no decorrer da trama, aumentam os indícios de que revelações substanciais estão reservadas para a última temporada. O'Quinn nunca falou à imprensa sobre Lost e nunca participou das entrevistas coletivas com os colegas de elenco. Locke tem um papel central na série, mas secundário nos bastidores. Talvez porque ele guarde algum segredo há muito tempo.

Aliás, um segredo tão bem guardado por ele e tão bem administrado por JJ Abrams, Damon Lindelof e Carlton Cuse na construção dos episódios que até então nenhum telespectador havia desconfiado. Apenas nos últimos capítulos da temporada anterior colocou-se em dúvida a que veio John Locke. Precisamente no último episódio da quinta temporada tornou-se presente em Lost o eterno duelo entre o bem e o mal, ou entre a luz e a treva, como dito pelo próprio Locke no diálogo do trailer a seguir. Mistérios que só em janeiro de 2010 serão desvendados. Espera-se.


terça-feira, 22 de setembro de 2009

Existe sinônimo para embugado?

“Disse de novo, pausadamente: em-bu-ga-da. Ele perguntou para o irmão, a mãe, a avó. Ninguém sabia do que se tratava.”

Toda tradução é uma interpretação. Dizia um pensador (foge-me agora se era Nietszche) que não existem sinônimos: cada palavra só equivale a ela mesma e qualquer substituição é inadequada, para não dizer inútil. Quem vive num lugar onde cavalo é pingo e cachorro é cusco conhece a potência de uma figura de linguagem.

Imagine explicar para um norte-americano o que significa “vê se pode”. Pior: como encontrar uma sentença que defina tão bem um dia gelado quanto “frio de renguear cusco”? Explique isso a um chileno! Eu tive que explicar a mais de dez. Quer dizer, tentei.

Só que nem é preciso ir tão longe. Gírias, regionalismos, neologismos são expressões idiomáticas que causam estranhamento até mesmo a interlocutores que falam o mesmo idioma. Outro dia, eu disse a meu namorado que estava “embugada”. Tive que repetir a palavra pelo menos mais três vezes até que ele entendesse a fonética da expressão (mas não o significado).

Disse de novo, pausadamente: em-bu-ga-da. Ele perguntou para o irmão, a mãe, a avó. Ninguém sabia do que se tratava. Limitei-me a explicar que, lá de onde eu venho, embugar-se é comer demais. Passaram os dias e eis que uma colega de trabalho dele termina a refeição e diz, adivinhe: “estou embugada!”. Era outra migrante da Serra Gaúcha, que jamais imaginaria que um porto-alegrense não sabia o que era embugar-se.

Até agora, nem eu nem ela encontramos sinônimo com a mesma força de expressão do que o vocábulo original. Estar embugado é o ato de embugar-se, e ponto final.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O que faz uma máquina de café


“Quase ataquei o tio da rapadura para ver se ele trocava uma nota de dois por duas moedas de um, mas resisti.”

Essa semana colocaram uma máquina de café automática no corredor da procuradoria, bem ao lado da minha sala. Quando despencaram lá com a tal da máquina, parecia algo de outro mundo! O frenesi faz lembrar aquele causo narrado por Mário Quintana, sobre a primeira vez que viram um carro: todos queriam saber que “bicho” era.

Foi assim com a máquina de café que colocaram lá no MPF. Incrível como um simples equipamento que faz café sozinho muda o ambiente... foi uma briga para ver quem seria o primeiro a depositar sua moedinha e posar para a foto da intranet com o café na mão.

Logo começaram a bater na porta da Ascom para perguntar se a máquina de café funcionava. O negócio estimula mesmo. Não falo do café em si, que é reconhecidamente estimulante. Falo do ato de ir até a máquina pegar um café. Isso parece estimular a convivência informal entre as pessoas, o que, vamos combinar, é justo e necessário num ambiente onde sobram formalidades.

No dia seguinte à instalação, quase ataquei o “tio da rapadura” para ver se ele trocava uma nota de dois por duas moedas de um, mas resisti. A gentileza de um colega me poupou de tal constrangimento. Mas o próximo é por minha conta. Moedas, portanto, serão bem-vindas.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Quanto vale um sonho


Vida agitada para garantir a realização de um sonho gestado desde muito cedo: ser jornalista.

Estudante do sexto semestre de Jornalismo, Taís Seibt mudou seis vezes de emprego e uma de endereço. Em julho de 2008, trocou a tranquilidade da vida interiorana de Gramado pela agitação da região metropolitana de Porto Alegre. Desde então, tem experimentado as agruras de viver longe da família, sem a comida da mãe e o conforto do lar, dividindo um apartamento de três quartos com outras cinco estudantes tão jovens e desamparadas quanto ela.

Os desafios vão desde a convivência pacífica com gente desconhecida e de diferentes procedências até a organização financeira para dar conta de pagar o aluguel, comprar livros, ir ao cinema e visitar a família duas vezes por mês - sem precisar racionar comida. Para tanto, Taís trabalha como bolsista de iniciação científica na Unisinos pela manhã, faz estágio na assessoria de comunicação do Ministério Público Federal, em Porto Alegre, à tarde, e sempre engata algum trabalho extra.

Por essas e outras que o dia de Taís não termina quando a aula acaba. Ao chegar em casa, na avenida Unisinos, já perto das 23h, começa a quarta jornada, que inclui tarefas domésticas (cozinhar, lavar roupa, ...), fazer trabalhos de aula, tocar os “frilas”, ensaiar um ou duas músicas (Taís é vocalista de um trio que interpreta versões acústicas aos domingos, em Gramado), telefonar para casa, quem sabe ler alguma coisa ou assistir um programa de TV.

Obs.: texto originalmente redigido para a disciplina de Redação Jornalística III, hoje mesmo.

sábado, 15 de agosto de 2009

Entrei no Twitter, vem e segue-me!


Meus devaneios são um tanto difusos, confusos e, principalmente, prolixos para caber em 140 caracteres, mas vamos lá.

Perdão, Senhor, eu me rendi! Entrei no site mais herege de todos os tempos. Onde já se viu esse negócio de seguidores?! Pois, que seja, agora que estou lá, eu te chamo, vem e segue-me!

Não tenho bem claro se o Twitter é uma rede social, uma comunidade virtual, um microblog, ou tudo ao mesmo tempo. Já li diversas matérias sobre a nova febre – ok, já nem tão nova assim -, participei de várias discussões comunicacionais a respeito, mas ainda não tinha experimentado pessoalmente. Mas é aquilo, como estudante – e profissional - de comunicação, não posso ignorar tal fenômeno. Eu tinha que testar.

Inicialmente, penso usar o Twitter como um depositório de devaneios, assim como este blog. Será também um “chamariz” para o tais&coisas, pois colocarei lá os teasers que mando para minha lista de e-mails a cada atualização. Tratarei de encontrar alguns profetas para seguir, afinal, faz parte do esquema.

Por hoje, é só. Então, a Tys dispensou seus discípulos para que saiam a proclamar aos sete ventos que ela está no Twitter...

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Era uma vez dois severinos do MPF


“E foi só depois de uns minutos de conversa com esses dois severinos que minha passagem pelo MPF começou a fazer algum sentido.”

Richard e Orlando são dois “severinos” lá do MPF. São trabalhadores do setor de manutenção, fundamentais para fazer a Casa, literalmente, funcionar. Quando as coisas não funcionam direito, eles saem correndo lá do 18º andar para resolver. Mas o que eles fazem da vida além de consertar coisas passa ao largo dos gabinetes do prédio.

Apesar do nome estrangeiro, seu Richard não anda de terno pelos corredores, nem muito menos é chamado de doutor. É apenas um técnico em manutenção predial, que estudou dois semestres da faculdade de engenharia elétrica, formou-se técnico em telefonia e está estudando eletrônica. No entanto, para seu Orlando, eletricista da procuradoria, seu Richard é mestre.

Quando um computador foi disponibilizado para o uso dos trabalhadores da manutenção, em seus horários livres, seu Orlando só observou. Ele nem sabia ligar o equipamento. Graças à boa vontade de seu Richard, hoje em dia, no auge de seus 40 e poucos anos, ele acessa a internet para ler a Zero Hora e ver a previsão do tempo. Os olhos brilham quando ele conta que já sabe até mandar torpedo para celular, pelo computador. Com aquele sorriso no rosto, seu Orlando revela que juntou o pouco dinheiro que ganha para servir os “doutores” e comprou um computador usado para mexer em casa – só que sem acesso à internet. Uma atitude singela de um colega, transformou a vida de outro. Seu Orlando, agora, já não se sente excluído quando vê a turma se achegar ao computador. Pode parecer pouco, mas na vida de quem tem quase nada, ser incluído digitalmente é uma grande coisa.

Tem um detalhe: seu Richard, o professor, é deficiente auditivo. Ele sabe bem o que é exclusão. Mas procurou compensar sua dificuldade para ouvir com uma atitude atenta e observadora. Foi assim que aprendeu tudo o que sabe sobre computadores. Já montou telecentros – fez a rede elétrica, conexões e instalou softwares – em ONGs que atendem pessoas carentes. Os estabilizadores danificados da procuradoria vão direto para as mãos do técnico – e ele os conserta. Com a mesma atenção e sensibilidade, Richard percebeu que podia ajudar o colega. Não esperou ninguém fazer o que ele mesmo podia fazer. Acabou fazendo a diferença.

E tudo isso ocorre no 18º andar de um prédio cheio de “doutores”, engravatados ou não, assessorados por bacharéis em direito que ganham R$ 16 mil por mês e ainda movimentam as caixas de e-mails dos colegas para reclamar do salário. Alheios a essa realidade, Richard e Orlando fazem malabarismo para se manter com um salário mínimo ou talvez um pouco mais que isso. E foi só depois de uns minutos de conversa com esses dois severinos que minha passagem pelo MPF começou a fazer algum sentido. A lição de cidadania que ele me ensinou numa breve entrevista, concedida quase ao acaso, não está no currículo da faculdade de direito. A propósito, depois de ver publicado seu feito na intranet da procuradoria, seu Richard despencou lá do 18º andar e foi até o térreo me cumprimentar pela matéria, para não deixar dúvidas quanto à sua nobreza.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

R$ 1,40 é pouco para matar a fome


As moedinhas dele somavam só R$ 1,40 e a fome que ele passava certamente era umas dez vezes mais cara que isso.

Fazia frio em Porto Alegre e o tempo estava nublado. A 24 de Outubro estava movimentada, como sempre, e a tia do cachorro-quente estava com a carrocinha montada, apesar do vento cortante. Fui lá comprar meu almoço, um dogão com duas salsichas e sem mostarda. Dali, eu tinha que sair em seguida, no primeiro ônibus para o Mercado Público. Antes, porém, vi um rapazinho entrar atrás de mim na fila do cachorro-quente.

Ele estava de chinelo e moletom – repito, fazia frio em Porto Alegre, o tempo estava nublado e o vento era cortante. Devia ter uns dez anos de idade, talvez um pouco menos. Olhou o cartaz com os preços dos lanches, abriu a mão, visivelmente trêmulo, tiritando de frio. Começou a contar as moedinhas. Escutei ele somando em voz baixa. Logo percebi que não era suficiente.

- Qual o cachorro-quente mais barato, tia? -, perguntou o guri.

- R$ 4,00 – respondeu a dona da carrocinha.

Nova contagem. O dinheiro ainda era pouco para o lanche mais barato. Foi então que perguntei:

- Quanto tu tens aí?

- Eu tenho... (mais uma conferida nas moedas que tinha na mão)... R$ 1,40.

Pior é que eu também não tinha o bastante para completar o lanche dele. Depois de pagar o meu, tinha me sobrado apenas um trocado para pagar o ônibus. R$ 1,00 era meu único excesso...

- Pega mais R$ 1,00 pra ajudar no teu lanche -, disse eu, com um olho no guri e outro na tia da carrocinha.

Mais que na hora, ele contou de novo as moedas e disparou:

- Faz um pra mim por R$ 2,40, tia?

Ela disse que sim, para a alegria daquele estômago faminto sabe-se lá desde quando. Na certa, mesmo o cachorro-quente mais completo ainda seria pouco para tanta fome. Mas o manteria vivo por mais algumas horas. E enquanto escrevo este relato, meu mp3 toca Armas químicas e poemas, do Engenheiros do Hawaii. “Qual a lógica do sistema?”...

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Perdida no tempo e no espaço


“Mas não é da Relatividade de Einstein que pretendo falar. É da minha dificuldade de ver o tempo passar a seu tempo. Tenho a impressão de que o tempo está passando mais depressa do que deveria.”

Há quem diga que o tempo nada mais é do que uma dimensão, para além de altura, largura e profundidade. Ou seja, haveria como transitarmos pelo tempo, assim como nos movimentamos pelo espaço. Está aí a Super Interessante de maio, com a “ciência do impossível”, para assinar embaixo o que digo. Mas não é da Relatividade de Einstein que pretendo falar. É da minha dificuldade de ver o tempo passar a seu tempo. Tenho a impressão de que o tempo está passando mais depressa do que deveria.

Veja só, já é 1º de julho. Já estamos segundo semestre de 2009 adentro. Logo mais tem Natal de novo. E mais um ano começa. Será 2010 e vai ter Copa do Mundo outra vez. Ainda me lembro como se fosse hoje o que eu estava fazendo na final da Copa passada, só para dar um exemplo. Estava num sítio no interior de Gramado esperando o estrogonofe ficar pronto, enquanto via na TV o Zidane dar aquela cabeçada no Materazzi. Parece que foi ontem. Já faz três anos. Parece que os 365 dias de um ano agora são muito menos tempo do que outrora.

Fico perturbada com essa pressa com que os dias passam porque por mais que eu tenha muito o que recordar parece que eu não fiz nada. E tenho a impressão de que vou ver mais e mais anos se passarem sem que eu tenha tido tempo para fazer algo que mereça ser lembrado. Não me pergunte o quê, porque eu não sei ao certo. Só sei que o tempo passa tão depressa que quase não dá tempo de a gente viver.

Aí vem um dos livros que estou lendo para a pesquisa (virei bolsista de iniciação científica na Unisinos) me dizer que "um dos maiores problemas do homem atual é situar-se em seu aqui e agora" (o livro se chama A Era da Iconofagia, de Norval Baitello Junior).

Sofremos de uma patologia social chamada “perda do presente”. Estamos perdidos no tempo e no espaço. É como se a virtualidade tivesse criado uma espécie de dimensão paralela, onde o tempo acelera cada vez mais e as distâncias estão cada vez menores.

O problema de perder o presente é que fica mais difícil encontrar o futuro. E enquanto perco tempo escrevendo esse devaneio, mais algum tempo se passou...

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Aboliram o diploma

Agora a única motivação que tenho para continuar fazendo faculdade é o direito de ter cela especial se um dia for presa. Fora isso, meu diploma não valerá de nada. O STF deu o veredicto ontem. Desde então, qualquer um que saiba escrever ou falar direitinho pode ser jornalista. Não dá pra acreditar. Eu teria muito mais a dizer a respeito, mas estou sem tempo. Talvez seja bom estar sem tempo, que é para não perder tempo comentando absurdos que os ministros do STF falaram... Também nem adianta contestar ou argumentar. Eles bateram o martelo, a gente que se lasque – e rasgue o diploma.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Troquei o Parcão pela Rua da Praia


Estou na encruzilhada entre a Praça Montevidéu, a Rua da Praia e o caos.

Faz uma semana que mudei minha rota. Ao invés de passar os intervalos de almoço vendo os patos nos lagos do Parcão, sigo a trilha dos jacarandás da Praça da Alfândega.

Saio do Mercado Público de Porto Alegre desviando de ciganas que me importunam para ler minha mão, de mendigos que se atiram na calçada estreita entre os prédios e as paradas de ônibus, de vendedores ambulantes que comercializam, principalmente, rapadura e cocada.

Tudo isso ao som ininterrupto de motores de ônibus, arrancadas de motoboys e buzinas de motoristas impacientes com os pedestres que precisam atravessar o cruzamento. Tem ainda a música dos peruanos, chilenos, bolivianos ou de qualquer outra procedência próxima aos Andes e também um cantor solitário que monta seu palco no meio da Andradas para entoar clássicos do rock e ensacar uns trocados na capa do violão. Ontem, uma “festa junina” armada pelos servidores da educação em frente à prefeitura completava a trilha sonora.

Estou no centro da capital gaúcha. Na encruzilhada entre a Praça Montevidéu, a Rua da Praia e o caos.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Vote em mim!


Meus amigos e minhas amigas. Hoje, quero pedir o seu voto!

Não, ainda não caí na besteira de lançar minha candidatura para o que quer que seja. Foi-se o tempo em que eu tinha vocação para líder de grêmio estudantil. Minha candidatura é apenas para um prêmio de jornalismo experimental promovido pela Unisinos.

Meu texto ficou entre os cinco classificados para receber o prêmio no dia 4 de junho. Uns serão laureados pelo júri técnico e outros pelo voto popular (leia-se, o seu!).

Prêmios sempre causam uma impressão. Ser premiado faz bem para o currículo – e para o ego – da gente! Portanto, sugiro que você dê uma clicada aqui e vá lá ver a reportagem que escrevi. Se achar que merece seu voto, por favor, vote!

É o que tem para hoje...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

O câncer da Dilma


“Parece-me, no mínimo, precipitado dizer que ela está totalmente curada. Para não dizer que se trata de uma grande mentira – e uma mentira eleitoreira.”

Quem é que aguenta tanta mídia em cima do câncer da Dilma? Ninguém melhor que ela para dizer. A preferida do Lula para sucessão presidencial pediu trégua para a imprensa esta semana. Com toda a razão.

Razão que falta ao presidente Lula, que disse que o câncer não vai atrapalhar a eleição, pois Dilma está totalmente curada. Será o Lula algum tipo de milagreiro? Não acredito. Está aí o vice dele, o José Alencar, para comprovar. De câncer, o Alencar entende, com perdão para a força de expressão, mas foi ele mesmo que disse isso há poucos dias.

Por mais que os médicos de Dilma digam que o tratamento dela vai muito bem, obrigado, e por mais que eles sejam os mais gabaritados do País para tratar da doença da ministra – e devem ser mesmo os melhores, porque, para Lula, ela até eleita já está, e ele não deixaria sua sucessora em maus lençóis, mesmo que sejam de hospital – parece-me, no mínimo, precipitado dizer que ela está totalmente curada. Para não dizer que se trata de uma grande mentira – e uma mentira eleitoreira.

A ministra garante que vai conseguir administrar o tratamento e a candidatura ao mesmo tempo – não com essas palavras, claro, pois ela ainda não pode assumir-se candidata. Dilma diz que vai cumprir a “agenda”. Mas acontece que ela não cumpre! Diariamente, a imprensa noticia o cancelamento de algum compromisso. E é óbvio que isso vai continuar. Câncer não se cura da noite para o dia. O tratamento é longo e tortuoso. Para uma pessoa “comum”, com muito menos compromissos do que ela, já é difícil tratar, quem dirá para uma ministra-candidata, para quem atravessar o Brasil em poucas horas nada mais é do que rotina. Não vai ser fácil.

Acho corajosa a postura da ministra em relação à doença. Nem parece que ela está numa encruzilhada, do tipo: viver ou ser presidenta? Sei que parece pessimista demais e que câncer diagnosticado não é sinônimo de morte anunciada. Eu mesma conheço muita gente que foi desenganada pelos médicos, mas está aí, firme e forte. Só que não é de graça. A expressão “luta” contra o câncer faz todo sentido. Para enfrentar essa doença é preciso lutar, sim, e muito. Ora, câncer não é gripe.

Por isso que não dá pra aguentar tanta especulação em torno da doença da ministra. Ela é uma pessoa pública, mas merece a privacidade que exigiu da imprensa esta semana. Dilma está passando por um momento complicado, deve estar sofrendo muito – física e psicologicamente. Acho justo que deixem ela quieta com o tratamento (a luta) dela, até que, enfim, ela possa dizer, com tranquilidade, que está totalmente curada e vai concorrer ao cargo que Lula tanto quer que ela ocupe.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Lost é uma droga


“É bom que JJ Abrams, Damon Lindelof e Carlton Cuse desfaçam todos os enigmas com a mesma inteligência que eles foram construídos.”

Antes que me censurem por dizer que a série de mais estrondoso sucesso nos últimos anos é uma droga, explico: Lost é uma droga, porque vicia – e eu acabei de entrar em crise de abstinência.

Ontem assisti o último episódio da quinta e penúltima temporada de Lost. Agora, teremos até 2010 para fazer nossas apostas sobre o final da série cuja história se desenvolve em torno dos sobreviventes de um avião que cai em uma ilha perdida no Pacífico Sul.

Eu não olhava Lost. Tornei-me adicta da droga por influência do meu namorado. Um viciado que, como tantos milhares de fãs brasileiros, não espera pela Globo para ver as temporadas atrasadas, mas faz download dos episódios em sites que permitem acompanhar a série quase que instantaneamente com os norte-americanos. É possível baixar os episódios no dia seguinte à sua exibição na ABC – com legenda e tudo.

Dizem que é a própria ABC quem libera o conteúdo pela web. Meia dúzia de aficionados se dá ao trabalho de traduzir os diálogos para o português. De certo para poder discutir com mais gente os mistérios da ilha. Gente para discutir não falta: são mais de mil grupos de discussão sobre Lost na rede, entre blogs e sites de relacionamento.

Há quem diga que, se não fosse a web, Lost já teria acabado. Comercialmente, a série poderia ser mais uma daquelas que nunca termina. Mas os produtores garantem que a saga dos sobreviventes terá fim em 2010. E é bom que JJ Abrams, Damon Lindelof e Carlton Cuse desfaçam todos os enigmas com a mesma inteligência que eles foram construídos. Espero que não tenha nada a ver com extra-terrestres, como palpitam alguns. Até Stephen King deu seu palpite - furado, na minha opinião. Se a série fosse dele, tudo não teria passado de uma alucinação de Jack.

Não tenho uma teoria formada. Cada vez que eu conjeturava alguma coisa, no episódio seguinte outra coisa já derrubava minha tese. Como o próximo capítulo da história será exibido só em janeiro do ano que vem, terei tempo de sobra para estudar o caso e até para ver as temporadas anteriores, com as quais tive contato somente por meio de resumos – também baixados da internet. Para ver como ainda está em tempo de se viciar nessa droga.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Quem tem MSN não precisa de caminhão!


“As célebres frases de para-choque apenas mudaram de plataforma. Para confirmar, basta percorrer sua lista de contatos no MSN”

Semana passada, saí de Porto Alegre com destino a Lajeado, acompanhada de minha chefe. Aconteceu que um protesto dos trabalhadores do pólo petroquímico simplesmente parou o trânsito na Tabaí-Estrela durante aquela manhã. Por mais de duas horas, ficamos a passos muito lentos na rodovia, e tivemos tempo de sobra para comentar sobre o que estava ao nosso redor: um campo aberto de cada lado, uma estrada em linha reta e alguns caminhões no acostamento. Aí vem minha chefe e diz:

- Não se vê mais aquelas frases criativas nos para-choques de caminhão...

Abre parêntese: tive sérios debates com minha irmã sobre a grafia de para-choque depois da reforma. Pensei em criar uma contrarreforma, só que daí também não tinha certeza se agora é assim que se escreve... Fecha parêntese.

Comentar a ausência de frases criativas nos para-choques de caminhão é o típico comentário de gente sem assunto no meio do engarrafamento, mas até que faz algum sentido. Das dezenas de caminhões parados naquela estrada, nenhum tinha frases do tipo “Macho que é macho pega mulher feia, porque mulher bonita todo mundo quer pegar!”.

Dias depois, recebi por e-mail um link do blog Elemento Cortante com 115 frases hilárias para colocar no MSN. Estava consumado: quem tem MSN não precisa de caminhão! As célebres frases de para-choque apenas mudaram de plataforma. Para confirmar, basta percorrer sua lista de contatos no MSN. Fiz o Top Five da minha, com coisas que vão do profundo ao cômico:

1 - “Há duas palavras que abrem muitas portas: puxe e empurre”

2 - “O dia em que calarem os jornalistas o mundo estará surdo” (gostei dessa! Rsrs)

3 - “Não julgue um livro pela capa”

4 - “Vá até onde você pode para chegar onde você quer”

5 - “Judas não era um traidor, ele tinha Alzheimer”

Diz aí, que frase de para-choque você colocou no MSN hoje?

terça-feira, 28 de abril de 2009

Quando a leitura dos outros nos interessa (2)


E eu preocupada por ter dado uma espiada no blackberry alheio com toda a discrição...

Segunda-feira, eu tinha uma aterrorizante prova de Semiótica à minha espera na Unisinos. Como dispunha de meia hora – mesmo que a bordo de um trem lotado – aproveitei para dar uma última revisada nas minhas desastrosas anotações.

Apoiei o caderno na cintura e fiquei segurando a barra com a mão que sobrava. Deixava para virar a página quando o trem parava na estação seguinte. Assim que vagou um espaço na parede, escorei-me ali. Até então, ninguém havia reparado no caderno adesivado de uma estudante em dia de prova. Só até então.

Não demorou para o cara engravatado escorado ao meu lado apontar o dedo para meus resumos e dar risada.

- É tanta imagem que não contemplamos. Hahaha! É mesmo! Hahaha!

Olhei para ele com aquele sorriso amarelo no rosto, fiz que “sim” com a cabeça e voltei a olhar para o meu caderno. Minutos depois o cara me pergunta em que semestre estou... tentando cortar o assunto sem precisar ser desagradável, limitei-me a responder:

- Quinto.

Ele revidou:

- Calculei.

Como assim, calculou?! Não sei que lógica ele usou para essa matemática, mas continuei virando minhas páginas. E ele continuou espiando a minha leitura. Parecia se divertir com minhas anotações difusas (estaria ele entendendo alguma coisa?). Não bastasse, o cara ainda ousou me corrigir:

- Não é a principal, é uma das principais...

Sabe aquela virada de olhos que a gente dá quando quer mandar a pessoa a PQP, mas se segura? Pois é, foi assim. Fiz de conta que não era comigo, forcei aquela cara de paisagem e continuei lendo.

Não sei se ele ainda tinha esperança de que eu fechasse meu caderno e começasse a prosear ou se ele tinha problema mesmo, mas o cara ainda arriscou uma última pergunta:

- Tem prova hoje?

- Não! Só estou fingindo estudar para ver se tu para de tentar falar comigo.

Calma! Não foi essa minha resposta, embora ele até estivesse merecendo, pela falta de simancol. Fiz que “sim” com a cabeça, de novo, e voltei a ler, outra vez.

Finalmente, vagou um lugar no assento. Enfim eu leria em paz! Se bem que o cara continuou parado ali por perto e não perdeu a oportunidade de me desejar “boa prova” ao me ver fechar o caderno e olhar para o horizonte.
Moral da história. Acho que ele só estava tentando ser simpático. Eu é que estou na TPM.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Quando a leitura dos outros nos interessa


“Dei uma espiadinha no blackberry alheio e recebi o castigo antes mesmo que tivesse tempo de me arrepender e pedir perdão ao Senhor por cobiçar o e-mail do próximo.”

Fazia tempo que eu queria escrever sobre as pessoas que leem no trem. Eu mesma sou uma delas, mas só consigo fazê-lo quando garanto meu espaço no assento. Aí sim, leio livros, revistas, polígrafos da faculdade (principalmente). Jornais, não. As folhas grandes e soltas são pouco práticas para o aperto do vagão.

Tem gente que consegue. Mas também tem gente que consegue ler até dependurado no trem. Eu não. Segurar a barra com uma mão, o livro com a outra e ainda virar a página, com o trem em movimento é demais para uma pessoa da minha estatura. Mas tem gente que lê. Inclusive, eu me divirto observando a diversidade de leituras que o trem proporciona. Entre os jornais, Diário Gaúcho é o mais lido, disparado. Livros aparecem de todo tipo, das apostilas de concursos públicos às Sagradas Escrituras.

Dia desses, sentei-me entre dois intelectuais. A moça à minha esquerda lia 1808, livro que está na minha lista. O cara à minha direita segurava o jornal Valor Econômico no colo enquanto verificava os e-mails no blackberry. Sim, dei uma espiadinha – de leve – no blackberry alheio. Recebi o castigo antes mesmo que tivesse tempo de me arrepender e pedir perdão ao Senhor por cobiçar o e-mail do próximo.

Quando tirei o bloquinho e a caneta da bolsa para começar a rabiscar este post, o cara do blackberry foi logo espiar que diabos eu ia anotar. Fiquei tímida de escrever sobre o crime que acabara de cometer sob o olhar desconfiado da própria vítima. Acabei colocando o bloco de volta na bolsa até ele sair dali e me deixar escrever em paz. A cada movimento que eu esboçava, ele tirava o olho do Valor e ficava me cuidando. De certo para ver se me atreveria a pegar de novo a caneta na mão.

Enquanto isso, a moça do 1808 fechou o livro e saiu, sem sequer ter me notado.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Difícil?!


“Ou vai ver que sou eu que ainda acredito no ‘heroísmo’ de repórteres como Caco Barcellos, para os quais a palavra dificuldade parece não existir.”

Depois de três meses de Big Brother, a TV Globo retomou sua programação normal esta semana e, com isso, o Profissão Repórter voltou à grade fixa da emissora nas noites de terça-feira. O programa voltou dando mais espaço para os bastidores da notícia do que antes. Lá pelas tantas, aparece Caco Barcellos diante do monitor, ao lado de dois “jovens jornalistas”, como ele gosta de chamar seus pupilos, e diz:

- Eu não entendia direito o que era a bulimia e depois desta matéria... acho que continuo não entendendo.

O jornalista – que assume quase que uma posição de mestre no programa – comenta que gostaria de ver mais claramente o retrato da doença, pois ele estava achando a matéria muito narrativa: o drama estava apenas no discurso. Aí que a “jovem jornalista” diz:

- Mas isso é muito difícil de conseguir.

Difícil?! Como essa moça ousa falar em dificuldade para um repórter do cacife de Caco Barcellos, autor de dois livros sobre a violência nos subúrbios brasileiros, repórter de guerra, um homem que efetivamente colocou a própria vida em risco em honra aos “desafios da reportagem”, só para usar o slogan do programa que ora ele coordena.

Fico imaginando o que passou pela cabeça de Caco Barcellos ao ouvir sua pupila dizer que retratar o drama de quem sofre de bulimia é muito difícil. “Fixinha!”, ele deve ter ficado com vontade de dizer. O argumento da jovem foi, no mínimo, infeliz. Para fazer uma boa reportagem não basta uma câmera na mão e uma entrevista gravada. Mas ainda bem que ela tem Caco Barcellos como editor. E ele ensina:

- Na maioria das vezes é muito difícil conseguir. Fazer entrevista é muito fácil, conseguir uma reportagem é quase sempre muito difícil.

A “jovem repórter”, ao invés de se calar, pegar o telefone e remarcar a entrevista, insistiu que esse tema era muito delicado de se tratar. Não quero dizer que ela deveria se curvar à vontade do Caco Barcellos, simplesmente por ser o Caco. O que quero dizer é que a gente só argumenta com o editor quando tem argumento – e ela não tinha. Ficou parecendo mera prepotência.
Ou vai ver que sou eu que ainda acredito no “heroísmo” de repórteres como Caco Barcellos, para os quais a palavra dificuldade parece não existir. Mesmo que seja isso, prefiro os jornalistas destemidos e incansáveis a repórteres preguiçosos, que apenas fazem entrevistas e voltam para a redação achando que estão com a matéria pronta, como quem não faz mais do que sua obrigação.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

No meio da avalanche


“Qualquer lapso de atenção da defesa adversária pode ser fatal, principalmente se o torcedor estiver igualmente desatento.”

Não contem pra minha mãe, mas ontem à noite assisti o jogo do Grêmio no meio da Geral. Depois de anos associada ao clube, esta foi a primeira vez que me vi no meio da avalanche. E também a última.

Cheguei atrasada no Olímpico, como quase metade dos torcedores que foram ao estádio. Jogo às 19h em dia de semana é de parar o trânsito em Porto Alegre, então só podia dar nisso. Atrasada, fui informada pelo amigo que me daria carona para voltar de que ele havia entrado pelo portão 10 e que ali eu deveria encontrá-lo quando chegasse. Ok, tão preocupada por já ter perdido 20 minutos de bola rolando, fui cegamente em direção ao portão 10. Quando olhei para o campo, logo ali em frente estava o goleiro Vitor. Olhei para os lados, vi as faixas azul-preto-branco estendidas pela arquibancada, o batuque embalando o canto da torcida, sinalizadores esfumaçando o ambiente. Eu estava no meio da Geral!

A alternativa que eu tinha era andar no meio daquela “banda louca” em direção ao local onde estava meu amigo. Mas aí eu pensava: “se sai o gol numa hora dessas eu vou parar no fosso!”. Sim, porque qualquer lapso de atenção da defesa adversária pode ser fatal, principalmente se o torcedor estiver igualmente desatento.

Não demorou muito para eu levar o primeiro empurrão. Aos 32, Rafael Marques fez 1 a 0 e aquele senhor de idade mais ou menos avançada que estava atrás de mim tratou de me empurrar escada abaixo, junto com a avalanche. O primeiro empurrão no meio da Geral a gente não esquece e, para mim, já era o suficiente. Torci com todas as minhas forças para que o jogo terminasse em apenas 1 a 0.

Maxi Lopez, o goleador?
O futebol que o Grêmio apresentava não merecia muito mais do que isso mesmo. Exceto pelo empenho de Maxi Lopez. O argentino parecia querer mostrar a que veio. Pena que ele estava “sobrando” na equipe. Era o único que estava afim de jogo. Pedindo a bola, Maxi chegava a colocar as mãos na cintura, balançando a cabeça em sinal negativo. Principalmente quando Souza, em péssima atuação, pegava a bola e achava que podia driblar todo mundo. Maxi precisou de outro argentino, Herrera, para receber a bola na área e fazer um belo gol de cabeça. Quando Rever fechou o placar, eu já estava no último degrau, e saí correndo a diante antes que começassem a me empurrar.

O Grêmio, sem técnico – embora já estivesse nessa situação há mais de ano -, foi fraco. Era um time desanimado. Estavam cansados por terem jogado o Gre-Nal 48 horas antes? Poupe-me do argumento de que eles precisam ser poupados. Eles são pagos pra jogar futebol, eles só fazem isso, esse é o trabalho deles. Pois que se preparem fisicamente para jogar todos os dias, se for necessário. Nisso também simpatizei com Maxi Lopez. Na entrevista coletiva após o jogo, ao ser questionado sobre a importância do gol marcado, o argentino, num espanhol tão claro que até me causa dúvidas de que ele seja mesmo argentino, disse: “hacer goles es mi trabajo”. Então que ele faça a avalanche descer muitas vezes nesta temporada.

Renato Gaúcho, o treinador?
A diretoria não assume, mas deixa no ar: não quer o Renato Portaluppi como substituto de Celso Roth. Ao serem questionados pela imprensa, os membros da diretoria vêm com um discurso de que o torcedor precisa entender que eles vão fazer o que for melhor para o Grêmio. Traduzindo: "a torcida precisa entender que não traremos o Renato Gaúcho".

O que a diretoria precisa entender é que a torcida não está satisfeita com os rumos que a atual administração está dando para o clube e que não existe momento mais favorável para a vinda do Portaluppi para o Tricolor: ele, ao contrário de Roth, tem a simpatia da torcida; ele, ao contrário de Roth, é gremista; ele, ao contrário de Roth, sonha em treinar o Grêmio e disse que jamais treinaria o Inter; ele, assim como Roth, está disponível no mercado, se for contratado, desembarca no mesmo dia no Olímpico.
Renato Gaúcho pode ainda não estar entre os melhores técnicos do País, mas Roth estava? Sabe-se que ainda lhe falta experiência, conhecimento tático e freio na língua, mas Roth tinha? Fala-se em Paulo Autuori, uma excelente opção. Mas a torcida quer o Renato e o Renato quer o Grêmio.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

1° de abril, dia dos jornalistas, digo, dos bobos!


“Se não precisa mais de diploma para ser jornalista, exijo que a Unisinos devolva meu dinheiro. Os alunos deveriam ser indenizados por deixar de comprar um carro ou viajar para o exterior para pagar uma faculdade inútil.”

Desde 2001, quando uma juíza chamada Carla Rister concedeu liminar suspendendo a obrigatoriedade do diploma para exercício do jornalismo, chovem protestos e argumentações. Pois 1° de abril de 2009 foi a data escolhida para colocar fim na discussão: o Supremo Tribunal Federal, em última instância, vai determinar o futuro da profissão. Uma piada muito sem graça.

Eu acho essa história de banir o diploma de jornalista de tal ignorância que eu não gostaria nem de comentar. Mas, como lá se foram alguns milhares de reais da minha conta para a Unisinos nos últimos cinco anos, sinto-me, no mínimo, instigada a me revoltar com tamanho absurdo.

Primeiro: esqueçamos qualquer argumento de ordem “objetiva” para defender o jornalista diplomado. A objetividade é algo absolutamente intangível para qualquer ser humano – inclusive jornalistas, por mais presunçosos que possam ser. Logo, ninguém é “dono da verdade”, muito menos o dono da TV Globo ou da Folha de São Paulo, empresas essas que são sabidamente favoráveis à não exigência do diploma para exercer a profissão.

Segundo: o fato de o jornalista ser humano, simplesmente humano, nada mais que humano e, portanto, escapar-lhe a condição de ser puramente objetivo ao noticiar qualquer fato que seja não serve como argumento para dizer que qualquer um pode trabalhar como jornalista. Um cidadão não precisa de diploma para relatar um fato, o que não significa que ele esteja apto a reportar esse fato.

Terceiro: se não precisa mais de diploma para ser jornalista, exijo que a Unisinos devolva meu dinheiro. É sério! Os alunos deveriam ser indenizados por deixar de comprar um carro para pagar uma faculdade inútil, afinal, apesar do diploma na parede - conquistado à custa de muita leitura, noites mal dormidas e estágios que pagam uma miséria para lhes ensinar a fazer cafezinho -, esses profissionais de comunicação vão concorrer com gente que participou de reality show, formou-se em biblioteconomia ou sequer terminou o ensino médio.

É, simplesmente, um absurdo. Alguém me explica de onde tiraram que é indiferente ser ou não formado em jornalismo? Olha que eu sempre fui uma aluna de redação excelente no colégio, trabalho na área de comunicação há mais de cinco anos, mas não arredo o pé da universidade enquanto não receber meu diploma para, só então, dizer-me JORNALISTA. Em 2006, o STF garantiu o exercício da atividade jornalística aos que já atuavam na profissão, independentemente de registro no Ministério do Trabalho ou de diploma de curso superior na área. Ora, eu poderia exigir minha parte também, mas acho a formação acadêmica necessária, sim.

Acontece que reportar é muito mais do que escrever ou falar bem. Ok que os “padrões” da notícia podem ser aprendidos na prática – aprende-se até melhor – mas isso também é detalhe. Jornalistas entendem menos de alimentos saudáveis do que nutricionistas? Claro! Mas é por isso que jornalistas consultam nutricionistas para chegar a alguma informação plausível sobre alimentação saudável ao invés de relatar como é sua dieta pessoal. Do mesmo jeito que nutricionistas não devem sair por aí assinando matérias em jornais. Há espaços mais apropriados para isso, que, de fato não prescindem de diploma em comunicação. Que os “não jornalistas” publiquem artigos, criem blogs, escrevam comentários para a imprensa, mas deixem os habilitados trabalharem em paz!

Esse negócio de banir o diploma de jornalista só vai banalizar a imprensa. Alguns vão dizer que ela já está banalizada. Não tiro a razão. Pois então que não terminemos de banalizar! Tecnicamente, não é preciso muito mais do que bom texto ou boa oratória para se dar bem como jornalista. No entanto, teoricamente, é necessário estudar para isso. É preciso refletir sobre sua responsabilidade do repórter na sociedade, a influência da imprensa na organização social. As consequências de lançar ao mercado excelentes oradores sem essa consciência ontológica da profissão que exercem tendem a ser desastrosas, como mostra a própria história da comunicação.

A profissão de jornalista devia era ser regulamentada, de verdade, com um piso salarial decente, compatível com o que se investe na formação superior. Jornalistas diplomados têm salário inicial em torno de R$ 1.000,00. Lá de onde eu venho, garis ganham pouco menos que isso. Vai ver que eles agora vão preferir ser jornalistas, já que não vão precisar ter diploma para isso.

Abolir o diploma será um retrocesso. No meu caso e de muitos colegas, será mais do que isso, será uma enorme quantia de dinheiro jogado fora. E eu indo de trem para a faculdade, enquanto podia ter comprado um carro para ir ao jogo do Brasil.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Defeito de fábrica


“Máquinas fotográficas já vêm com defeito de fábrica, mas as lentes de nossa alma não sofrem com o mesmo erro de fabricação”

Tenho uma maquininha fotográfica que me acompanha há um tempo, entre passeios e reportagens, registrando alguns olhares.

Só que agora ela está com defeito. Tem um ponto vermelho que insiste em aparecer nas minhas fotos. Até poderia procurar ajuda profissional, mas temo não poder fazer nada para que aquela velha lente recobre a nitidez. Já cogito a possibilidade de ver o mundo com outros olhos.

Sim, porque fotos são olhares. Ao fotografar, congelamos olhares. De um ângulo só. Somente até onde as lentes alcançam. Máquinas fotográficas já vêm com defeito de fábrica. Por mais recursos que elas ofereçam, serão sempre pouco para congelar o mundo.

As lentes de nossa alma não sofrem do mesmo erro de fabricação. Contudo, às vezes parece que um sinal vermelho insiste em se colocar diante de nossos olhares. Tudo ao redor parece convergir justo para aquele sinal. Então esquecemos que há muito mais pontos de vista ao redor.

Eu gosto de fotografar, porque, apesar de a câmera congelar apenas um ângulo, quando estou com a máquina na mão, procuro sempre um novo jeito de olhar para a mesma coisa, ou então o melhor ponto de vista para o que acabo de descobrir.

Fotografar me lembra que a vida tem muito mais do que dois lados, que mesmo quando aparecem sinais vermelhos em frente, há outros caminhos para seguir a diante. Que um passeio no parque basta para tornar um dia especial. Que não é necessário estar perto para saber que se ama, nem estar longe para sentir saudade. Que não preciso das melhores câmeras e de todas as noções de fotografia para dar significado às imagens que aquela minha maquininha com defeito congela por aí.

P.S. – A foto do post é o legítimo clichê portoalegrense (será que é assim na nova ortografia?!), mas eis que nem o pôr-do-sol do Guaíba escapou do sinal vermelho...

quinta-feira, 26 de março de 2009

A bicicleta vermelha na literatura acadêmica


“Não há nenhum deles que não viva a poucos metros de uma esquina, onde há, talvez, uma bicicleta vermelha ou de qualquer outra cor permanentemente estacionada.”

A citação acima foi retirada do livro “O prazer de ler jornal – da Acta Diurna ao blog”, do jornalista Walter Galvani, figura que já mencionei no meu blog em um post sobre o mesmo assunto: a bicicleta vermelha.

Se há alguém que não tenha acompanhado o episódio, o link acima remete ao texto que desencadeou tamanha repercussão que foi parar até na literatura acadêmica, ou seja, virou objeto de estudo.

Era só uma bicicleta vermelha parada numa esquina, mas acabou entrando para a história de muita gente. Minha, em primeiro lugar, como um de meus primeiros rabiscos depois da mudança para a capital. Da própria Zero Hora, num segundo momento, pois o Blog do ZH Moinhos foi o primeiro blog de bairro do site, abastecido por um conselho de leitores. Finalmente, a bicicleta vermelha acaba ficando para a posteridade na literatura acadêmica, podendo ser fonte de pesquisa para estudiosos da comunicação.

É o que tenho pra hoje. Vou ver se a bicicleta vermelha continua parada lá na esquina!

quinta-feira, 19 de março de 2009

Quando o longe é perto


“Na juventude, nossos sentimentos são muito mais profundos do que duradouros.”

A frase citada em um texto que escrevi em 2005, dita por um colega dos primeiros semestres de faculdade, nunca saiu da minha cabeça, e agora faz ainda mais sentido. A juventude é uma etapa de muitas escolhas, muitas mudanças. Conhecemos muita gente ao mesmo tempo, em lugares diferentes, em situações diferentes – nenhuma menos profunda do que outra, mas todas igualmente passageiras.

Conforme o tempo avança e nossos caminhos vão se definindo, o medo de que profundo mesmo seja o abismo do esquecimento faz com que lutemos para que o passageiro dure um pouco mais. Dizer que aprendemos a dar valor às coisas quando as perdemos é lugar comum, mas o paradoxo faz algum sentido: a distância, ao mesmo tempo em que separa, aproxima as pessoas.

Faz alguns meses que troquei minha cidadezinha natal pela capital gaúcha. Digo capital porque, por mais que minha residência esteja fixada numa outra cidade da região metropolitana, é em Porto Alegre que passo a maior parte do dia. É aqui que trabalho, vou à livraria, ao banco, ao parque, etc. Em São Leopoldo, onde moro, conheço apenas a Unisinos - onde estudo, e a estação do trem - que me traz a Porto Alegre. Só.

Mas isso não vem ao caso. Há nove meses saí de Gramado, onde vivi 20 e poucos anos, tempo suficiente para firmar alguns dos vínculos mais profundos.

Sempre que volto para casa, minha família está lá esperando por mim, mesmo que passe da meia-noite. Minha mãe se preocupa em fazer a comida que gosto, meu pai em me levar e trazer de onde for preciso, minhas irmãs em garantir a parceria no chimarrão, e assim por diante. De fato, sinto falta de tudo isso: o almoço gostoso da mãe todos os dias, poder ligar para meu pai me buscar quando chove, chegar do trabalho e tomar chimarrão com minha irmã (às vezes, com as duas!) no final da tarde.

Só que família é família. Eles eu tenho certeza que nunca me deixarão sozinha. O que me comove mesmo são os amigos, porque amigo, como diz aquele versinho de antigamente, não é a vida que nos impõe, somos nós que escolhemos. Se antes, a meia dúzia de quarteirões de distância dos meus amigos, demorávamos meses para nos visitar, agora, cada fim de semana é uma romaria! E isso é muito bom.

Chego em casa sempre entusiasmada, às vezes volto pra cá até meio cansada, mas sempre revigorada. É claro que essa “aproximação” forçada pela distância não é melhor do que estar perto, mas é uma forma de fazer com que os sentimentos profundos sejam também duradouros, pelo menos por mais um tempo.

segunda-feira, 16 de março de 2009

A boa vontade das pessoas

“Todos queriam ajudar, mas alguns atrapalharam. Até parece que sabemos mais do que os outros sobre seus caminhos.”

Sábado passado fui visitar uma tia em Novo Hamburgo. Fazia anos que eu não aparecia por lá. Já nem lembrava mais o caminho. A única lembrança que eu tinha era da imponente mangueira que cobria o jardim da casa da minha tia, mas isso não me ajudaria muito a chegar lá.

Tive a feliz ideia de ver o mapa no Google e bater com o itinerário do ônibus. Bendita internet! Com uma ajudinha do cobrador, seria facinho encontrar as mangas caídas no jardim. Ou não.

Com o mapa impresso, mostrei para a cobradora o caminho que meu namorado e eu precisaríamos fazer até a casa da minha tia. Perguntei se havia alguma parada em algum dos pontos circulados no mapa, mas ela não conhecia as ruas. Prontificou-se a olhar as placas de esquina e avisar quando passasse por alguma delas.

Foi quando um passageiro do ônibus pegou o bonde andando e quis entrar na conversa. Perguntou para onde estávamos indo. Pegou o mapa, virou de um lado, virou de outro. Falou da rua aqui, da outra ali, tentou explicar alguma coisa que não entendemos e ficou por isso mesmo. Acabamos parando onde a cobradora sinalizou.

Na rua, nossa primeira vítima foi um padeiro, que estava entregando pão em uma lancheria. Perguntamos pelo nome da rua, ele disse onde era. O dono da lancheria logo se meteu na conversa dizendo que era muito longe, que não dava para seguirmos a pé. Um senhor que estava em uma das mesas do bar, já se intrometeu perguntando para onde estávamos indo. Foi ele quem nos deu a instrução mais correta.

Uma entrada à esquerda e já estávamos na rua da casa da minha tia. Precisou apenas uma ou duas quadras para avistarmos a sombra da mangueira e, debaixo dela, refletir sobre a boa vontade de nossos informantes. Todos queriam ajudar, mas alguns atrapalharam. De qualquer forma, é interessante como todos se prontificaram a contribuir com o que sabiam – ou pensavam que sabiam – sobre o caminho que deveríamos fazer. Até parece que sabemos mais do que outros sobre seus caminhos.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Do livro ao roteiro


“Adaptações de livros para o cinema rendem bastante para o mercado editorial, mas podem ser uma propaganda enganosa da obra. Vide o Melhor Roteiro Adaptado do Oscar 2009.”

Sim, ainda o Oscar! Acontece que no dia seguinte à publicação de meu último post, a Zero Hora publicou uma entrevista com Fernando Meirelles, diretor de “Cidade de Deus”, e Danny Boyle, diretor de “Quem quer ser um milionário?” (Melhor Diretor do Oscar 2009), sobre a semelhança entre suas produções.

Vale a pena ler a entrevista. Os diretores consideram normal a influência, pois tudo o que assistem serve como inspiração. Não tem mal nenhum. Boyle admite que assistiu o longa brasileiro umas quatro vezes. Ficou no inconsciente – e se tornou consciente na sua produção.

Mas o que me obrigou a reincidir no tema foi a observação de Meirelles acerca do Melhor Roteiro Adaptado do Oscar 2009. “Quem quer ser um milionário?” teve como base o livro "Sua resposta vale um bilhão", do indiano Vikas Swarup. Meirelles afirma ter lido a obra original e assinala que ela foi um pouco distorcida no premiado filme. O cineasta brasileiro não faz juízo de valor sobre a adaptação de Boyle, mas diz ter sido mais fiel à obra original em sua adaptação de “Cidade de Deus”, escrito por Paulo Lins. Segundo Meirelles, no livro, Jamal, o rapaz que se dá bem no programa de perguntas e respostas, cometeu dois homicídios, vive fugindo da polícia e sua amada não é uma virgem e sim uma prostituta.

É comum nos decepcionarmos com adaptações de livros para o cinema quando conhecemos a obra original. Sempre esperamos um retrato fiel daquilo que lemos. Só que literatura e cinema são expressões artísticas diferentes, têm suas particularidades e nem tudo é cinematográfico. Por isso, sempre que assisto a uma adaptação da qual ainda não li a obra inspiradora, fico curiosa para ver o que diz o livro e desvendar os detalhes que foram omitidos ou acrescentados pelo roteirista – e não o condeno por suas modificações. Uma obra não desmerece a outra. Mas confesso que sinto falta de lançamentos com roteiros originais. Os últimos filmes que tenho visto ou ouvido falar são adaptações de livros. As indicações ao Oscar servem de apoio ao que digo. Exceto, obviamente, os que concorreram a Melhor Roteiro Original, são poucos na lista que não tiveram a literatura como ponto de partida.

A verdade é que adaptações de livros para o cinema rendem bastante para o mercado editorial. É só ir até a livraria mais próxima e observar os livros mais destacados na prateleira: “O leitor”, “Contos da Era do Jazz” (que contém “O curioso caso de Benjamin Button”) e “O menino do pijama listrado” provavelmente estarão na lista. As editoras se apressam em relançar os títulos adaptados para o cinema e, atiçados pela dramaticidade das histórias, os leitores também se apressam para comprar. E é bom que comprem mesmo, pois o filme não substitui o livro e pode até ser uma propaganda enganosa da obra. Vide o Melhor Roteiro Adaptado do Oscar 2009.

quarta-feira, 4 de março de 2009

E quem não quer ser milionário?

“Nem sempre a cifra é o que vale. Estão aí o vencedor do Oscar 2009 e o BBB9 para comprovar”

Não pude ver a transmissão do Oscar 2009, no domingo de Carnaval. Não porque eu estava na folia, mas porque a Globo estava transmitindo o desfile das escolas de samba. Como não tenho TV a cabo, tratei de me informar no dia seguinte acerca dos vencedores. A crítica estava certa, “Quem quer ser um milionário?” levou o prêmio de Melhor Filme – e mais sete estatuetas.

Como a estreia do longa rodado na Índia está prevista para este fim de semana (6 de março) no Brasil, o jeito foi dar um jeito pra saber logo o que o vencedor do Oscar tem. Se é lícito ou não, já nem sei mais, mas, graças à internet, pude assistir o filme antes que ele fosse projetado nas salas de cinema mais próximas.

Não vou escrever uma crítica sobre o longa, que lembra bastante o nosso “Cidade de Deus”, não só pela locação – uma favela –, mas também pela montagem, com idas e vindas no tempo, sem contar certos elementos bem particulares, tipo: favelado fugindo da polícia, com direito a galinha correndo em cena. Só muda o esporte. O que me motivou a escrever este post não foi o milionário e sim o “milhão” em si. Isso porque a Globo não transmite o Oscar durante o Carnaval, mas não tira o Big Brother da programação nem chovendo canivete na Sapucaí.

“Quem quer ser um milionário?” é o nome de um programa de TV ao estilo “Show do Milhão”, onde os participantes vão somando fortunas a cada questão de conhecimentos gerais que acertam. O mote do filme é como pode um favelado chegar ao prêmio máximo enquanto mestres e doutores ficaram pelo caminho. O mérito do filme é conseguir enredar os acertos com o que a vida ensinou ao personagem. O resto do filme, recomendo que assistam, vale a pena.

O paradoxo entre o filme do Oscar e o reality show da Globo são as motivações dos personagens para disputar o milhão. “Isso aqui é um jogo”, é a frase mais repetida dentro da casa do BBB. É um jogo, mas não é de perguntas e respostas e sim de relações humanas. As pessoas se relacionam lá dentro. Umas por afinidade, outras por interesse, outras ainda por conveniência. Como na vida real, só que lá vale R$ 1 milhão. Todos querem o milhão. Quanto vale este milhão? Nem sempre a cifra é o que vale.

Para levar a bolada, um certo líder colocou no paredão um de seus “aliados” com o pretexto de querer “testá-lo”. O teste deu negativo e o amigo acabou indo embora. Esse mesmo líder deixou a namorada chutar o balde com outra moradora da casa e ainda praticamente tomou partido da outra, muito possivelmente para não se “queimar”. Vale mais o milhão do que a lealdade? Se não houve tempo ainda para criar laços tão profundos a ponto de chamar isso ou aquilo de lealdade, chamemos então de coerência. Vale mais ganhar o milhão do que ser coerente? E tudo porque “isso é um jogo”?

O jogo vale R$ 1 milhão. Todos querem o milhão. E quem não quer ser milionário? Certas atitudes, no entanto, mesmo quando o milhão está em jogo, não são toleráveis. Podem render alguns benefícios, é verdade, mas têm seu preço. O preço pode ser, inclusive, ficar sozinho com seu milhão. Não era isso que o milionário do Oscar queria.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Tem um BBB bem perto de você. Dá uma espiadinha!


“Algumas características que se destacam nos participantes me fazem lembrar de gente que eu conheço. Não nego que alguns traços me fazem lembrar até de mim mesma.”

Eu estava mesmo me articulando para escrever um post sobre o Big Brother Brasil quando o Gui colou no meu MSN o link de um blog chamado Topismos. Escrito por um tal de Denis Pacheco, que não faço ideia de quem seja na ordem do dia (seu perfil no Facebook não me disse muito...), o texto que o Gui encontrou não sei como retratou muito bem o que se pode abstrair do BBB. Tão bem que não me arriscaria a complementar nem muito menos contrapor. Para tornar a análise mais didática, Pacheco enumerou cinco olhares sobre o BBB: o rebelde, o conservador, o ético, o voyeur e o moral. Não vou descrever cada um deles aqui porque aí já é sacanagem com o blog do cara! Clica no link ali em cima e mata a curiosidade.

O que teria ainda a dizer, apenas, é: quem não conhece alguém como...

1) O xarope do Tom?
Muito músculo e pouco cérebro; namorado pegajoso; cara fortão que se diz inseguro no namoro porque se acha feio (menos né); é sempre o primeiro a criticar, mas não suporta que alguém discorde dele. Um cara fútil e prepotente, pra resumir.

2) A mimada da Ana?
Guria fresca e manhosa que aos 25 anos ainda não aprendeu a ser gente grande. E olha que tem curso superior (em Direito)! Além de tudo é barraqueira, sai gritando cheia de razão, mesmo quando a briga é porque ela gastou todo o sabão em pó para matar formigas. Muita imaturidade.

3) O velho babão do Nonô?
O cara já passou dos 60 e ainda acha que faz “o” sucesso com as gurias de 20. Nada mais a comentar.

4) O gente-fina do Flávio?
Ele é o legítimo feioso, mas querido. O cara conversa com todo mundo, critica quando tem que criticar, dá apoio quando precisa apoiar e isso tudo não me parece apenas um “personagem” criado pelo gaúcho para se dar bem no jogo.

5) O crianção do Emanuel?
Já tem barba na cara e até já é pai, mas mesmo assim parece um piá de 15 anos. Quando vê mulher fica todo bobo, não é capaz de fazer uma festa sem tomar porre e, ainda por cima, enche o saco de todo mundo quando fica bebum.

6) A oferecida da Priscila?
A guria atirou para todos os lados antes de se focar no Emanuel. Na mala, só levou miniblusas, minishorts, minissaias, minidecotes. Enfim, sem preconceitos, mas ela tem todos os requisitos para virar atriz quando sair da casa - e não vai ser de novela da Globo.

7) A fazida da Fran?
Enquanto umas se oferecem demais, outras se fazem de difíceis. Chegou a dar raiva o que a Fran fez com o Max. A guria é muito fazida. Mas é doidinha como ele, o casal até combina.

Sei que faltou metade da casa aqui, mas não estou com saco de ficar traçando o perfil de todo mundo que está ou já passou pelo BBB 9. Quis ressaltar apenas algumas características que se destacam nos participantes e que me fazem lembrar de gente que eu conheço. Deixando a hipocrisia de lado, não nego que alguns traços me fazem lembrar até de mim mesma. Pra ver como até de um programa inútil desses se tira alguma coisa. A gente olha na tevê o que projeta na rua ou projeta na tevê o que vê na rua. E o melhor, sem se comprometer, porque por mais amor ou raiva que se crie em torno de um participante, dificilmente iremos conviver com ele algum dia.

Aos que estão prontos para me mandar desligar a TV e ler um livro, eu asseguro que não é por falta de leitura que assisto ao BBB. Sou contra o argumento de "já que não tem outra coisa melhor pra ver, olho o BBB". Sempre tem alternativa. Eu assisto porque quero, mas nunca votei num paredão! Acho interessante analisar a vida a partir do programa, analisar a mídia ao redor dele (são R$ 110 milhões de receita publicitária, um estudante de comunicação não pode ignorar uma mídia dessas!), analisar a decadência do Pedro Bial (o BBB seria bem mais divertido se o Tadeu Schmidt apresentasse). Enfim, apenas dou minha espiadinha e isso basta.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Alanis Morissette, a própria


"Eu vi Alanis Morissette cantando, pulando e balançando a cabeça feito punk. And isn’t it ironic!"

A reportagem da Zero Hora do dia seguinte ao show de Alanis Morissette em Porto Alegre a definiu como diva dos anos 90. Um dia depois, o Segundo Caderno do mesmo jornal publicou uma opinião que a classificava como antidiva. Antidiva porque “ela é humana como uma diva não consegue ser”, diz o autor da crítica.

É fato. O show da Alanis em Porto Alegre – tão perto como eu jamais poderia imaginar! – não teve nada de pirotécnico. De espalhafatoso, apenas ela mesma, com suas estripolias no palco, andando de um lado a outro sem parar, exceto quando pegava a guitarra na mão. De superprodução, apenas a própria voz da canadense, inacreditavelmente perfeita. O brilho não vinha dos efeitos de luz, mas do talento – e do sorriso – da cantora, que embalou, junto com os sentimentos juvenis que expôs nas canções que a lançaram, a juventude de gente como eu.

Era Alanis, sem dúvida, a cantora que eu mais ardentemente desejaria ver pessoalmente – acho que, inclusive, certa vez, numa roda de amigos, ao som do CD Jagged Little Pill, comentei sobre a improbabilidade de que isso ocorresse. Mas aconteceu. And isn’t it ironic!

Pela primeira vez, senti-me como aquelas fãs que eu via na TV, cheias de ansiedade por verem seus ídolos e transformando a expectativa em lágrimas ao estarem diante deles. Uma coisa tola, eu sei. Mas única. De repente, eu vi Alanis cantando, pulando e balançando a cabeça feito punk. Mais de 5.000 pessoas cantando em coro: “and isn’t it ironic, don’t you think?”.

De fato, não é irônico. É incrível! Inexplicável. Alanis é única. You listen, you learn (apenas uma paródia sobre ela mesma).

PS - Selecionei um videozinho para fechar este post e dar um gostinho do que vi. Tá, eu mais ouvi do que vi, mas o Gui, que enxerga do alto, registrou pra gente!


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Fé na propaganda

“Quer acredite em Deus ou não, há que se convir – sem heresias – que, provavelmente, a propaganda funciona. Alguém duvida?”

A propaganda ensinou a gente a chamar qualquer chocolate em pó de Nescau, sabão em pó de Omo, esponja de aço de Bom Bril e caldo de galinha de caldo Knorr. A propaganda nos fez acreditar até que Grêmio faria 4 a 0 no Boca Juniors naquela final de Libertadores...

Mas o que me faz invadir o espaço do Diário de Propaganda é a repercussão de uma campanha feita no Reino Unido por um grupo ateu. Eles estamparam em 800 ônibus a frase: "Provavelmente, Deus não existe. Agora, pare de se preocupar e aproveite a vida" (clica na foto!).

Não demorou para aparecerem respostas à altura. Uma organização protestante colocou a citação bíblica "O tolo diz em seu coração que não existe Deus" em 50 veículos de Londres e está oferecendo bíblias gratuitas para quem entrar em contato por e-mail. A Igreja Ortodoxa Russa lançou anúncios dizendo: "Existe um Deus, acredite. Não se preocupe e aproveite sua vida".

Para além das investidas e revidadas de ateus e crentes, os publicitários alfinetaram: “Até quem não acredita em nada, acredita em propaganda”.

Pior que a campanha lançada pela Associação Brasileira de Agências de Publicidade (Abap) não deixa de ter razão.

O termo propaganda vem do latim, propagare, que significa difundir um conceito, uma ideia, uma crença. A palavra se disseminou a partir da criação da Congregação para a Propagação da Fé, pelo Vaticano, no início do século XVII.

Quer acredite em Deus ou não, há que se convir – sem heresias – que, provavelmente, a propaganda funciona. Seja para propagar a fé em divindades que alguns duvidam que existam, seja para nos fazer acreditar em coisas que não fazem o menor sentido, seja para plantar marcas como conceitos em nosso dia-a-dia. Alguém duvida?

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Button e seus botões

Nascer, digamos, experiente tem lá suas vantagens. Mas o barato da vida é amadurecer e até apodrecer com o tempo.



É curioso mesmo o caso de Benjamin Button. Quem não viu o filme ainda, precisa ver. O livro que inspirou o roteiro é de 1920, escrito por Francis Scott Fitzgerald. Não o li, nem mesmo sabia de sua existência. Mas o filme é daqueles que marcam e fazem a gente pensar.

Havia um homem cego que construía relógios, na época da 1ª Guerra Mundial. Enquanto esperava notícias do filho, que estava no front, o relojoeiro trabalhava arduamente em um relógio para a estação de trem. O jovem morreu na guerra, mas, mesmo assim, seu pai terminou o trabalho. A surpresa veio no dia da inauguração: o relógio andava ao contrário.

A lenda do relógio que contava o tempo de trás para frente é apenas o berço para o “nascimento” de Benjamin Button. Interpretado por Brad Pitt (é ele na foto!), Benjamin é um bebê com rugas, catarata, artrite e todas as demais inconveniências de envelhecer. Passam-se os anos e a vida de Benjamin segue ao reverso com suas curiosidades.

São três horas de cenas que nos levam a pensar sobre a vida e o modo como o tempo passa. Mas nada que me convença de que Deus fez as coisas ao contrário. Nascer, digamos, experiente tem lá suas vantagens. Mas o barato da vida é justamente amadurecer e até apodrecer com o tempo.

Esse negócio de “ah, se eu tivesse a maturidade que tenho hoje” não cola. Se temos a maturidade que temos – ou se ela nos falta! – é porque aprendemos alguma coisa ou ainda aprenderemos. É esse o rumo natural da vida, apesar de alguns morrerem jovens, como o filho do relojoeiro cego. Nem mesmo relógios que andam ao contrário podem trazer os mortos de volta. Teremos que ir até o fim, com rugas, catarata, artrite e todas as demais inconveniências de envelhecer, para enfim dizer que vivemos. E como vivemos.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

A imprensa me deixa em crise


"Não acho que a tal crise econômica tenha sido fabricada pela imprensa, mas que a mídia ajuda a disseminar o pessimismo entre as pessoas, nisso eu acredito."

Desde o último trimestre de 2008 que estou me ensaiando para contar quantas vezes ao dia leio ou escuto as palavras crise, recessão, demissões e coisas do tipo. É que folheio pelo menos quatro jornais impressos diariamente, navego por mais dezenas de sites e blogs, assisto alguns telejornais e acompanho revistas semanais e mensais nas bancas. Em todos os meios a comunicação é a mesma. Faz quatro meses que a bendita crise não sai da minha cabeça.

Ninguém da minha família ou amigos próximos perdeu o emprego por conta da crise, ainda. Mas amigos de amigos meus, sim. Assim como colegas de trabalho de gente que eu conheço. Ou seja, a recessão está nos rondando.

Só que não é aí que está o cerne do problema. A questão é que de tanto ficar sabendo de efeitos negativos dessa depressão econômica internacional, quem começa a ficar deprimido é a gente, mesmo que a crise nem tenha batido à nossa porta (ainda).

Não acho que a tal crise econômica tenha sido “fabricada” pela imprensa (aliás, o jornal britânico The Guardian já achou 25 pessoas para colocar a culpa!), como alguns disseram no começo. Mas que a mídia ajuda a disseminar o pessimismo entre as pessoas, nisso eu acredito. E não gosto nem um pouco.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Reformaram a reforma


Desisto de tentar aprender a escrever de um jeito que nem os gramáticos sabem direito explicar como é. Melhor rasgar o Acordo Ortográfico, já que, pelo visto, ninguém concorda mesmo!

Zero Hora de ontem, 21 de janeiro de 2009, quarta-feira, página 28: “ABL corrige a nova ortografia”.

Como assim, corrige?!

Diz a reportagem que a Academia Brasileira de Letras lançou um dicionário com a atualização das palavras que sofreram alterações na grafia, conforme as novas regras. Melhor dizendo, conforme as regras que a ABL quis considerar! Digo isso porque a mesma reportagem explica que o tal dicionário diverge do texto oficial do acordo ortográfico. Então, eu pergunto: que acordo é esse que ninguém concorda?

Definitivamente, é indignante essa história da nova ortografia. Guardei matérias de jornal, coloquei uma tabela no mural aqui da agência, comprei livro para servir de referência no meu dia-a-dia ortográfico, enfim, estava de fato motivada a aprender as novas regras. Só que elas estão mais para exceção!

Sequer vou entrar no mérito do que os acadêmicos revisaram, porque desisti de entender. Aliás, sugiro que façamos todos o mesmo. Ora, se o grande objetivo do acordo é unificar a Língua Portuguesa no mundo e a Academia Brasileira de Letras “corrige” as regras como bem entende, a maldita reforma não vai unificar um trema sequer.

Comenta-se, inclusive, que Portugal não está nem aí para as mudanças. Entrei nessa, ó pá! Fico com a ortografia antiga até 2011 – prazo limite para adaptação. Se até lãs o acordo sobreviver – o que eu duvido – aí me matriculo na 1ª série para reiniciar minha alfabetização. Espero mesmo é que esse acordo caia. E que tudo isso não passe de um texto mal escrito.