quarta-feira, 25 de março de 2015

Gustavo, o 13 de ouro


Se fosse uma carta no jogo de baralho, Gustavo Endres seria o 13 de ouro. Pela seleção brasileira de vôlei, o central gaúcho de 39 anos e 2m03cm foi campeão de tudo: ouro na Olimpíada de Atenas em 2004, campeão de dois Pan-Americanos, dois Mundiais, duas Copas do Mundo e seis Ligas Mundiais. Eleito o melhor bloqueador em várias competições, Gustavo era um dos pilares da geração mais vitoriosa que o vôlei brasileiro já viu.

Mas todo atleta tem seu ciclo. Após a eliminação do Canoas nas quartas de final da Superliga, o multicampeão anunciou que vai pendurar as joelheiras. Nesta temporada, a terceira no Canoas, o meio de rede natural de Passo Fundo já não tinha mais aquela efetividade dos tempos áureos. O que se destacava mesmo na sua atuação, além das veias saltadas no rosto a cada “toco” (jargão do vôlei para ponto de bloqueio), era sua liderança.

A braçadeira era mero adereço. Em jogos no La Salle, vi Gustavo ser veemente ao cobrar dos novatos o posicionamento correto e também ao reclamar das marcações da arbitragem. Era um capitão nato. Colega de equipe, Thiago Barth, 26 anos, mais um gaúcho que joga na mesma posição e forte candidato a uma vaga na seleção do próximo Pan, traduz o respeito que um ídolo da envergadura de Gustavo merece:

_ Qualquer central que começou a jogar nos últimos 10 anos deve ter se espelhado nos bloqueios do Gustavo. Ele escreveu o nome dele no voleibol mundial.

A postura de Gustavo fora de quadra também sempre foi respeitável: nunca se esquivou da defesa por melhores condições para os atletas e, desde que veio para o Canoas, tem sido um porta-voz contundente da equipe. Características que o credenciam para seguir ligado ao voleibol no papel de dirigente. Outro central gaúcho medalhista olímpico, André Heller, 39 anos, é um exemplo: parou de jogar, mas permaneceu no Brasil Kirin, de Campinas, como coordenador técnico.


O Canoas ainda não tem um posicionamento oficial sobre o destino do agora ex-atleta, mas não há dúvida de que a permanência de Gustavo no clube seria benéfica para ambos. Ele tem a empatia da torcida, está identificado com o time e a cidade. Ficando no Canoas, o 13 de ouro certamente ajudaria a consolidar o projeto do clube de recolocar o vôlei gaúcho entre os melhores do país. Gustavo é bom demais para virar carta fora do baralho.  

*Este texto foi originalmente publicado na coluna De Fora da Área, em Zero Hora, no dia 19 de março de 2015.

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