“A experiência de presenciar a tragédia in loco vale para pensar em tudo o que não queremos que a correnteza leve embora”
O programa (de índio) já estava combinado desde o ano passado. Há meses vínhamos esquematizando este acampamento. Data, local e cardápio estavam programados para o encontro. Só não havíamos previsto uma coisa: a chuva. Pelo menos não aquela chuva.
Eram 6h30min quando os primeiros levantaram de seu colchão inflável e saíram barraca afora. Observando as nuvens no alto dos morros, avisaram: “Vai chover”. A previsão foi repetida por todos os 14 reunidos no camping. No entanto, cada qual estava mais despreocupado: uns preparavam um sanduíche, outros tocavam violão, outros ainda esquentavam água para o chimarrão. E foi só o tempo de duas cuias para o temporal desabar.
Começamos a empilhar os pertences na “área de convivência” do acampamento, que nada mais era do que uma lona. Só que o granizo seria demais para ela, a ponto de um dos presentes soltar o alerta: “Deixem tudo e se salvem!”. Desespero de uns, tranqüilidade de outros. Nosso cinegrafista amador narrava a fuga dos demais com uma frase repetida cada vez com maior ênfase: “Sente o desespero das pessoas”.
Pudera. O mundo caindo, a água do rio subindo, notícias chegando da cidade, do tipo: “Vamos logo que a água está invadindo a estrada”. Dava para pensar que ficaríamos por ali mesmo, debaixo da lona. Mas os instantes de desespero foram superados logo, afinal, bastava levantar o acampamento e voltar para casa. Diferentemente dos vizinhos do camping que perderam a própria casa.
Tudo o que perdi foi um velho baralho de 66. O suficiente para refletir como é importante “levantar acampamento” da vidinha mais ou menos que nossa rotina lotada nos impõe no dia a dia. A experiência de presenciar a tragédia in loco vale para pensar em tudo o que não queremos que a correnteza leve embora: a companhia dos amigos, as histórias para contar, a solidariedade para ajudar o outro a se proteger da chuva, o bom-humor suficiente para abrir uma cerveja em meio à tormenta.
Antes que sejamos nós as vítimas de algum desastre, convém reservar alguns momentos para programas – nem que sejam de índio! – na companhia de pessoas que valem a pena. Na certeza de termos encontrado pelo menos umas 14 desse tipo, terminamos aquele dia trágico num churrasco um tanto cômico, com direito a paródias e declamações, onde até combinamos a próxima aventura.
Se for preciso, deixo tudo, tudo mesmo, para salvar a presença dessas pessoas na minha vida. Pessoas desse tipo, das que não queremos que a correnteza leve embora, são as que costumamos chamar de AMIGOS.
Por favor, só me diz que a próxima aventura é depois de abril! heheh quero ser o 15º elemento! hahah saudadona! beijo
ResponderExcluirQue texto bonito! Pessoalmente, acho que a gente também se dá conta da importância dos amigos quando fica muito tempo longe :-)
ResponderExcluirLih, Ciby e Carlos!
ResponderExcluirEngraçado que os amigos que estão longe é que comentaram este post! Adorei saber que a correnteza não os levou embora... espero encontrá-los na próxima curva do rio!
Grande bj ;)
Sensacional a história. Melhor ainda quando contada por ti e pela Cândida.
ResponderExcluirMas a verdade é que as vezes é bom passarmos por situações como esta para vermos o quanto algumas pessoas são tão (ou mais) importantes em nossas vidas.
E tu, sempre com uma narrativa de Djênia, né?
Besos!