“Adormeci e nem me dei conta de quantas estações se passaram. Despertei somente no fim da linha.”
Abro os olhos de sobressalto. Olho ao redor. Ninguém ao meu lado, nem na minha frente. O vagão está vazio. São 13h53min, tenho sete minutos para chegar ao trabalho e o trem está andando no sentido contrário. Fico esperando que o piloto fale alguma coisa, que ele me veja ou que me ouça, mas isso era impossível. Eu estava no último vagão.
Como ninguém havia me cutucado na saída da estação terminal? Ou será que alguém me cutucou e eu não senti? Quantos deram risada da moça desmaiada num sono profundo que seguia para o fim da linha num trem vazio? Será que o trem estava sendo recolhido para o estacionamento? Como eu faria para sair do trem quando chegasse lá?
Tantas perguntas passaram pela minha cabeça em tão pouco tempo que eu tinha vontade de abrir a janela e saltar nos trilhos, mas obviamente isso não seria uma boa ideia. Melhor, então, telefonar para a emergência. Cheguei mais perto para ver se conseguia enxergar o número - além de ter recém acordado, eu estava sem óculos de grau - tirei o celular da bolsa, quando levantei a cabeça, vi pessoas esperando o trem na plataforma. Nada disso seria necessário! Bastava desembarcar e seguir meu caminho.
Adormeci e nem me dei conta de quantas estações se passaram. Despertei somente no fim da linha. Tão rápido quanto o trem desliza sobre os trilhos, passam também as horas, os dias, a vida. E a gente nunca sabe qual a estação terminal.
Se dormirmos no ponto, talvez alguém nos cutuque, talvez não. Talvez não nos demos conta do aviso. Talvez riam da nossa cara por desperdiçarmos a viagem. Talvez nosso vagão seja recolhido.
Se estivermos despertos, no entanto, nem será preciso acionar o botão de emergência. Basta desembarcar e seguir nosso caminho.
Obs.: A foto que ilustra este post é de Guilherme Koszeniewski
A gente às vezes nem sabe qual o terminal.
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