Apesar de até mesmo alguns colegas da Redação duvidarem, gramadenses natos existem. É o meu caso. Nasci e cresci na cidade que, para a maioria, é uma colônia de férias de inverno ou um grande parque temático natalino. Para mim, Gramado é o berço, foi um lar e hoje é o refúgio preferido para meus dias de folga.
Sempre tive orgulho de dizer de onde vim. Sou de Gramado, aquela que estampa manchetes dos mais importantes cadernos de turismo mundo afora, que está sempre no topo das pesquisas de excelência em hospitalidade, que virou grife no turismo. Tornei “padrão Gramado” meu jargão favorito para dizer aos amigos da Capital e do Vale do Sinos que um lugar ou uma comida são muito bons.
Mas quando a conversa evolui um pouco mais, faço questão de esclarecer um dos motivos que me levaram a sair de Gramado. É que lá ainda se vive tempos de “coronelismo”. Meia dúzia de famílias monopolizam os negócios e a política gramadense há alguns pares de anos.
A divulgação, na última sexta-feira, das escutas telefônicas gravadas pelo Ministério Público durante investigação de supostas irregularidades nas contas do Natal Luz, materializou os comentários que se ouvia nos bastidores.
Enquanto MP e Justiça cumprem seu papel, o prefeito alega que “querem acabar com o Natal de Gramado” e não percebe que colabora com o apagar das luzes natalinas com medidas provocativas como a desta segunda-feira, de nomear os promotores de justiça para a comissão do Natal Luz – contrariado porque está proibido de nomear aqueles das três ou quatro referidas famílias.
Sou de um tempo em que o Natal Luz era feito pela comunidade gramadense. Eu tinha uns oito anos de idade quando saía pelas ruas do centro com gorro de Papai Noel na cabeça e uma lanterna nas mãos. O coralzinho do colégio se unia ao coro de mil vozes que se formava no Lago Joaquina Rita Bier para, junto com a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, promover o Grande Concerto de Natal. Éramos parte do espetáculo. Antes ainda, sabe-se que os primeiros Natais se fizeram pela adesão dos moradores que enfeitavam as fachadas de suas casas com luzes e bolas coloridas.
Os anos passaram, o evento cresceu, se profissionalizou, mas essas lembranças sempre continuaram no imaginário do gramadense nato, como eu.
A suspeita de desvio de dinheiro público na organização do Natal Luz assombra muito mais do que meia dúzia de famílias e três ou quatro agentes políticos. Compromete o valor simbólico de um patrimônio gramadense, que tinha sido até hoje motivo de orgulho e prosperidade. Luz para o Natal de Gramado.
Isso aí... Taís.. parabéns pelo texto, penso exatamente como você.
ResponderExcluirSuzana Strassburger