Se meu apartamento fosse um filme de ficção científica eu temeria que os eletrodomésticos estão armando um ataque contra mim. O micro-ondas se recusa a aquecer meu café. A lavagem rápida da máquina de lavar roupas promete 30 minutos, mas demora duas horas para terminar o serviço. O aquecedor elétrico resfria em vez de aquecer. E a televisão tenta me irritar com cortes sucessivos no som.
Enquanto tento driblar o livre-arbítrio dos aparatos técnicos ao meu redor, o Jornal Nacional transmite uma reportagem justamente sobre uma exposição chamada “Emoções tecnológicas”. Não falta mais nada.
Acho que foi a aula de ontem sobre McLuhan que me trouxe à lembrança os devaneios dos meus primeiros anos na pesquisa em comunicação. Para o pesquisador canadense mais pop da ‘aldeia global’, os meios são extensões do homem: a roda uma extensão do pé, a roupa uma extensão da pele. E os aparatos técnicos não param de evoluir e estender nossas capacidades – ou seriam as capacidades deles mesmos?
O limite potencialmente atenuado entre o humano e o tecnológico acabou gerando um imaginário apocalíptico amplamente representado em narrativas de ficção científica cada vez mais verossímeis. Mutantes, robôs, ciborgues e coisas do gênero já nem parecem tão ficcionais assim.
Falo sério, temo pelos devires da ficção científica. Quem brinca com isso é uma dupla humorística da Austrália, que criou há um tempo um quadro de “pegadinhas” na televisão chamado Almost Tranformers. Qualquer semelhança com minha suspeita de que estou à beira de um ataque dos aparelhos domésticos pode não ser mera coincidência.
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Interessantíssimo! Parabéns!
ResponderExcluirGK