E ficaram lá, secando térmicas de água quente até lavar o chimarrão, contando causos e pensando: "se o sistema não voltar, como vai ter jornal amanhã?".
Para repórteres da minha geração, é um exercício constante de imaginação pensar como se fazia jornalismo quando não existia internet nem celular.
Minha agenda de fontes está gravada em um arquivo "na nuvem", assim nutro a ideia de que posso acessá-lo de qualquer lugar e a qualquer tempo. Se precisar de um contato que não esteja ali, encontro com uma pesquisa no Google o telefone de uma assessoria ou coisa que o valha para chegar até quem me interessa. A assessoria, provavelmente, ainda vai me pedir para enviar um e-mail para "formalizar" meu pedido de entrevista. Sem contar as redes sociais, quase sempre um primeiro terreno de busca por "personagens" para matérias sobre determinados temas.Pois ontem a rede caiu na Redação. E o jornal parou. Por cerca de três horas, dezenas de jornalistas desbaratinados se perguntavam como iriam trabalhar com o sistema fora do ar."Vê se é um problema só nosso ou se está sem internet na cidade inteira", provocou uma editora. "Se eu soubesse para qual número telefonar", refletiu a repórter. Alguém pegou um bloco e saiu para a rua, como que em um gesto de saudosismo - de um tempo bom em que não se fazia jornalismo sentado numa sala climatizada. Mas a maioria se convenceu de que o jeito era esperar a rede voltar. E ficaram lá, secando térmicas de água quente até lavar o chimarrão, contando causos e pensando: "se o sistema não voltar, como vai ter jornal amanhã?".
Sim, porque todo esse drama não é por não poder atualizar o site nem acessar e-mail. Até o jornal impresso do dia seguinte depende da rede. Sem acesso ao computador, não era possível diagramar as páginas, muito menos remeter para o industrial fazer a rodagem. Eu já não estava mais lá para ver, mas consigo imaginar a festa quando a conexão voltou. Sinos tocando e gritos de gol podem ter ecoado pela Redação. Certo é que muitos foram manifestar sua alegria nas redes sociais tão logo conseguiram fazer o login.
Moral da história que, embora o jornal impresso sobreviva, o jornalismo offline acabou. Da matéria-prima ao produto final, todos os processos jornalísticos estão atravessados por tecnologias digitais.
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