segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sofre um pai de jornalista


“Jornalistas aprendem desde muito cedo que feriado é uma palavra que colocaram no dicionário, mas não faz parte do nosso calendário”

Quando uma guria do interior, movida a encontros gigantescos de família em datas festivas, sai de casa, é um problema. Em berço católico, esses dias são para serem celebrados com todo o rebanho reunido. Todo rebanho, no entanto, tem sua ovelha negra. No caso, a guria do interior que sai de casa e embesta em ser jornalista.

Jornalistas, quando se integram a uma redação de jornal, aprendem desde muito cedo que feriado é uma palavra que colocaram no dicionário, mas não faz parte do nosso calendário. Na pauta, feriado é o tipo da coisa que só nos remete a ‘mais trabalho’.

Pais de jornalistas é que demoram um pouco mais para se acostumar com a rotina de plantões, assim como pais de médicos e policiais, provavelmente. Meu pai não se acostumará tão facilmente.

Domingo de Páscoa, recebo ligação de casa. A mãe me pergunta se eu estudei, o pai se desmancha em lágrimas. Minha mãe sempre foi o homem da casa! O pai, o cara de choro fácil. No tal telefonema pascal, ele se lamenta pelo meu engate no feriado: “A gente sente que tu não vem, mas foi o que tu escolheu, né?!”. Deu pra sentir uma parcela de culpa por ser (quase) jornalista. Um abraço resolveria o problema, mas ainda não inventaram uma técnica que transponha 100 km de distância.

No fim das contas, meu pai estava até melhor do que eu. Tinha outras duas filhas em casa para abraçar. Eu não tinha outro pai, nem terei. Nada fácil para quem cresceu regada a churrascos fartos em dia de festa. Minha mãe, o homem da casa, diria que o que não mata, fortalece. E a gente de fato se acostuma com (quase) tudo nesta vida. Inclusive com o choro do pai no telefone. O mesmo pai que reza por mim todos os dias. Que Deus o ouça.

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