sexta-feira, 23 de abril de 2010

Alguém aí está preparado para ser presidente? (2)

Postei hoje de manhã o texto Alguém aí está preparado para ser presidente? (abaixo), comentando a forma criativa encotrada por um leitor/internauta para criticar o posicionamento da Veja - e, em consequência, o jornalismo - sem deixar de considerar a potencialidade da web para tornar viral mesmo a coisa mais sem propósito. Eis que agora à tarde entro no site e ele não está mais funcionando. No lugar das bem-humoradas fotos imitando a pose de José Serra na capa da revista, lê-se o seguinte texto:

"Olá, se você chegou até aqui é porque se contaminou com o viral do meiguice serra. Sinceramente, nós nem esperávamos que isso tomasse tamanha proporção. Tudo começou com uma grande piada, que a gente acredita que é o jornalismo brasileiro. Campanha pró-Dilma, pró- Serra, nos acusaram de tudo. E por acaso política se discute assim, sem seriedade?Enfim: por motivos de força bem maior e por não achar que mereçamos tanta atenção, achamos melhor encerrar o blog. Agradecemos a todos que participaram, e aproveitamos também para explicar a verdadeira intenção deste blog:ISTO É ARTE. Foi apenas para mostrar o quanto somos manipulados pela imagem. ABRAM OS OLHOS."

Era o que eu dizia.

Alguém aí está preparado para ser presidente?


“Talvez, em outros tempos, alguém tivesse feito o mesmo comentário irônico lido no site em uma conversa entre amigos. As possibilidades tecnológicas disponíveis hoje são tantas, no entanto, que ficou bem mais divertido largar isso na rede.”

Desde que a Veja é a Veja, a capa da revista semanal de maior circulação no Brasil é assunto para o resto da mídia até o próximo número. A internet potencializa esse processo. Às vezes, soa como piada, mas há crítica até mesmo por trás da sátira.

Um exemplo foi o que ocorreu com a edição desta semana. A revista estampou na capa a manchete “Serra e o Brasil pós-Lula” acompanhada de uma declaração do pré-candidato à presidência pelo PSDB: “Eu me preparei a vida toda para ser presidente”. A foto que ilustra a capa é do próprio José Serra, com um sorriso simpático e a cabeça inclinada sobre a mão (acima). Uma foto meiga, digamos.

Um leitor/internauta aproveitou a deixa e criou a página meiguiceserra intitulada “O Brasil pode mais” com a seguinte observação: “contém ironia ou você realmente acredita que alguém aqui está preparado para ser presidente do país?”. O que se seguem são mais de 200 fotos enviadas por outros internautas, deles mesmos, imitando a pose do presidenciável, com mais ou menos fidelidade ao modelo original.

Há aí pelo menos duas coisas interessantes a se observar. Primeiro, a variedade de interpretações possíveis para uma mesma mensagem. A Veja, declaradamente pró-Serra nas reportagens que tem publicado, provavelmente não achou graça nenhuma do que esses internautas fizeram com sua capa. A intenção devia ser causar empatia no eleitorado, não deboche.

Outra questão é a capacidade de mobilização que a web oferece. Talvez, em outros tempos, alguém tivesse feito o mesmo comentário irônico lido no site em uma conversa entre amigos. As possibilidades tecnológicas disponíveis hoje são tantas, no entanto, que ficou bem mais divertido largar isso na rede. Além do mais, quem não tem uma câmera digital, celular que tira foto ou webcam para fazer uma pose dessas e postar num site hoje em dia? Com os blogs e twitters da vida, então, a coisa se espalha para ainda mais além.

Aí fico refletindo sobre o jornalismo enquanto profissão e toda essa discussão acerca do diploma. O internauta que deu início a essa cadeia não tinha intenção de reportar nada, mas com muito menos produção e bem pouco planejamento foi bem mais feliz que muito cronista de política na sua crítica ao posicionamento da Veja. Aliás, foi bem mais feliz que a própria Veja. Se bem que até isso pode ter ajudado a vender revista. Eu mesma fui ler a reportagem só depois que recebi o link do site. E agora estou passando adiante o site e não a matéria (que, aliás, vale outro post!).
Enfim, a conectividade torna banal o que é relevante e dá relevância a banalidades. O jornalismo, parece, está banalizado.