sábado, 27 de novembro de 2010

Uma prova de amor


O amor, assim como a vida, é contraditório. Às vezes o “pior” é o maior bem.

Cansada da rotina de levantar da cama todas as manhãs às 5h50min, encarar um turno na Redação, outro no PPG e mais um de aula (não raro sucedido de uma confraternização com os colegas do outro lado da Avenida Unisinos), eu não via a hora de terminar o plantão, chegar em casa e me atirar no sofá.

Televisão, para mim, costuma ser um sonífero incrivelmente eficaz nesses dias. Não hoje. No zapping nosso de cada sábado, cheguei na HBO em tempo de ver a chamada para “Uma prova de amor”. Parei por aí. E não dormi. Gosto de filmes conflituosos, daqueles que abordam dilemas éticos e morais, dramas quase shakespearianos, à moda “ser ou não ser”. É o caso deste filme.

Resumidamente, trata-se da história de uma advogada bem-sucedida, interpretada magnificamente por Cameron Diaz (não errei nem o nome nem o adjetivo, juro!), que larga tudo para se dedicar a cuidar da filha Kate (Sofia Vassilieva, também em belíssima atuação), que luta contra a leucemia. O médico da menina sugere que os pais façam uma fertilização in vitro. A irmã seria “fabricada” para se tornar a doadora ideal de Kate.

Desde o nascimento, Anna (Abigail Breslin) é provedora de tudo quanto é material genético de que Kate precise para prolongar sua vida. Aos 11 anos, Anna decide lutar na justiça por sua “emancipação médica”. A própria mãe advoga contra ela no tribunal. E eu não vou contar mais detalhes para não perder a graça. Apenas garanto: vale a pena.

O ponto de tensão não varia muito daqueles que alimentam a discussão sobre a manipulação genética, seja na ficção, seja na vida “real”: a vida de um vale mais que a de outro? Rola também aquela briga eterna entre prolongar a vida de uma pessoa num quarto de hospital ou aproveitar o curto tempo de que ela dispõe para viver, no sentido mais pleno da palavra. Coisas que passam na cabeça da gente diante de uma história dessas.

Quando quase tudo está perdido, Kate pede para ir à praia. Ela só queria ir à praia! O pai pega o carro, chama os irmãos e segue o rumo da orla. A mãe tem um piti e culpa o pai de estar causando a morte da filha. Mas não é preciso causar a morte. Vamos morrer, cedo ou tarde, é fato. Claro que em casos como o de Kate ela parece mais perto do que se gostaria, mas um dia ela virá para todos.

O que está em jogo em “Uma prova de amor” é a obsessão da mãe por salvar a vida da filha. Só que o amor, assim como a vida, é contraditório. Às vezes, o “pior” é o maior bem, mas o medo da morte, da perda, da dor nos deixa cegos. Se não há remédio para a morte, por que remediar tanto a vida? O médio não tem graça. A graça está na plenitude, seja lá quanto tempo isso signifique.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A culpa é do pai


"Começou com os irmãos do vô, agora é com os irmãos do pai. Reunião de família sempre foi uma festa: cada um com um instrumento, um coral de vozes afinadas."

Com essa minha onda de brincar de cantora nas horas vagas sempre tem alguém que resolve perguntar como tudo começou. Só este mês acho que teci minha autobiografia musical umas cinco vezes. A curiosidade dos outros deixou minha história com a música bem mais romântica do que eu imaginava que ela poderia ser. É que de tanto pensar nas raizes da questão fui me dar conta de que a culpa é do pai.

Quando eu era criança, o pai sentava aos pés da minha cama para tocar suas modas no violão. Basicamente música sertaneja e gauchesca (bem longe das minhas preferências atuais, embora não tenha nada contra nem uma nem outra). Não me pergunte o porquê de ele tocar violão no meu quarto, sentado na minha cama, quando eu já estava deitada para dormir! Mas eu gostava. Ficava triste quando ele não tocava. Tinha minhas músicas preferidas. Sentava ao lado dele e catava no caderninho em que ele mesmo escrevia as músicas, com caneta esferográfica azul para a letra e vermelha para os acordes.

A música é quase uma tradição familiar para os Seibt. Quem é da Serra Gaúcha conhece o Terno de Reis da família e suas serenatas nessas épocas natalinas. Começou com os irmãos do vô, agora é com os irmãos do pai. Reunião de família sempre foi uma festa: cada um com um instrumento, um coral de vozes afinadas. Cresci nesse contexto. Alguma relação, tem.

De novinha, minha mãe me colocou no coralzinho do colégio. Durou só até a quarta série, mas trago a técnica de lá. Tive um período de hibernação na pré-adolescência, até que entrei no grupo de jovens da Igreja (o CLJ). Fiquei com vontade de aprender a tocar violão. Pedi um de presente nos meus 15 anos. Nada de festa, nem book fotográfico. Minha madrinha queria me dar um presente? Que fosse um violão! Deve ser de decepção por não ter uma afilhada 'menininha' que ela até hoje nunca viu uma apresentação minha, mas tudo bem.

Com a boa vontade dos amigos do grupo, aprendi alguns acordes e comecei a tocar. Lá pelas tantas, de tanto frequentar a mesma pastelaria depois de cada reunião semanal do tal do grupo, o gerente da casa perguntou se só tocávamos na Igreja e lançou o desafio de fazermos um showzinho todas as quintas-feiras por ali. Eu e meus queridos amigos Paulinho e Rafa nos juntamos na garagem da casa do pai e ensaiamos umas 20 ou 30 músicas que gostávamos de ouvir (e tocávamos em churrascos da galera). Fomos lá e fizemos o teste. Deu certo. Começou ali a parceria a que demos o nome de 'Trilogia' e que já dura algo em torno de três anos, se não me falha a memória.

Posso esquecer a data de fundação da Trilogia, mas não esqueço a imagem do meu pai sentado aos pés da minha cama tocando violão quando eu deitava para dormir. Até hoje, quando sai um churrasco da galera na garagem do pai, chamo ele para tocar umas modas pra gente, depois de espetar o matambre. O pai é mestre! E a culpa é dele.

Tem uma listinha de versões acústicas da Trilogia para ouvir aqui

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Minhas últimas palavras sobre Paul


"Um ex-beatle, aqui na província, e ainda falando gauchês. Em três horas de show, Paul mostrou que é universal."

Ok que já faz três dias que Paul McCartney saudou os gaúchos com direito a “mas bah, tchê” e tudo, mas ainda não consegui me recuperar. Nem fisicamente, nem emocionalmente. Quando pensei que estava me desligando do tema, passo pelo Mercado Público de Porto Alegre e ouço um carinha solando Hey Jude no violão. Pronto. Mil imagens e principalmente sons me vieram à lembrança pela enésima vez. Por mais clichê que seja, os laralalás da multidão cantando essa música ainda me arrepiam.

Não deu ainda de falar do Paul, como disse meu amigo Rico (aquele da breguice) há pouco no telefone. Mas prometo tentar. Este post é uma tentativa de reunir minhas últimas palavras sobre Paul. Só não prometo que consigo parar por aqui!

Engraçado é que não tenho palavras para descrever o êxtase. O semblante sorridente com um brilho nos olhos quase espiritual no dia seguinte ao show é o que basta para dizer que valeram as 17 tentativas para comprar ingresso no site, valeu cada centavo da taxa de (in)conveniência do site, valeu cada bolha no pé pelas mil horas sob o sol e sem ir ao banheiro, valeu cada cochilada na cadeira do Beira Rio esperando o show começar. Mas dizer que valeu a pena é até redundante.

Um ex-beatle, aqui na província, e ainda falando gauchês. Em três horas de show, Paul mostrou que é universal. Momentos de empolgação intercalados com outros de introspecção, um coro de 50 mil vozes regido pelo astro. Como disse Eduardo (vulgo Herrmann), meu fiel escudeiro no anel superior do Beira-Rio, entramos para a história. E para a história uns dos outros também.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Na casa da mãe


“A minha cama na casa da mãe não me abraça gostosinho como a minha lá do apê.”

Bem que uma ex-colega me dizia que um dia eu começaria a separar a minha casa da “casa da mãe”. No começo, quando recém tinha me mudado para São Leopoldo, eu falava que iria “voltar para casa” no fim de semana. Quase três anos depois, cada vez mais me acostumo com a ideia de que Gramado é a casa da mãe.

Não que eu não me sinta em casa quando venho para a Serra, eu me sinto, mas de repente começo a estranhar a cama que era minha. Como demorei para pegar no sono neste feriado! A minha cama na casa da mãe não me abraça gostosinho como a minha lá do apê.

Outra coisa é o armário vazio. Visto as roupas que trago na mala, como se fosse uma hóspede, e uso o antigo roupeiro como depósito de casacos de inverno quando troca a estação.

Por outro lado, a comida da mãe parece ainda melhor do que era quando eu almoçava com ela todo dia. O chimarrão com pipoca na hora da Sessão da Tarde, então, tem seu valor!

É bom estar na casa da mãe. Mas já aprendi a chamar o meu cantinho de lar e a ter por ele o devido zelo que a casa da gente merece.