terça-feira, 23 de agosto de 2011

Jornalismo, uma microutopia


“Quis ser jornalista porque acredito que essa profissão não só é útil como é necessária à sociedade.”


Uma declaração do professor venezuelano Adrián Padilla, durante o Seminário de Metodologias Transformadoras realizado na Unisinos semana passada, serve de amparo para justificar minha opção pelo jornalismo. Segundo Padilla, existem macroutopias e microutopias. Queremos mudar o mundo. Não podemos. Mas transformar a realidade que nos cerca é possível.

Eu quis ser jornalista porque queria mudar o mundo. Partilho da convicção do professor de que é possível transformar realidades ao nosso redor, com trabalho ético, responsável e comprometido socialmente. Haja a tecnologia que houver.

Não importa que ministros do Supremo Tribunal Federal digam que o jornalismo não prescinde de conhecimento técnico – e que por isso o diploma é desnecessário para o exercício da profissão. Não importa que vereadores de cidades interioranas digam que o jornalismo nada acrescenta à sociedade.

Eu quis ser jornalista porque acredito que essa profissão não só é útil como é necessária à sociedade.

Os veteranos da área podem me acusar de ideologia. Podem dizer que isso não passa de um discurso juvenil de quem está em início de carreira. Vão apostar que minhas palavras não sobreviverão às rotinas exaustivas, aos baixos salários e aos calendários sem feriados.

A esses, não posso responder sobre o futuro, mas posso adiantar que já vivo parte dessas agruras há um tempo. E o pior é que gosto mais a cada dia. Sobretudo porque na ilha ao lado sempre há um colega com décadas de jornalismo nas costas para me inspirar a não desistir das microutopias.

Sou (quase) jornalista. É isso que faço todos os dias para mudar o mundo.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Nós e os princípios editoriais das Organizações Globo

Ao ver William Bonner e Fátima Bernardes anunciarem no Jornal Nacional de sábado passado, 6 de agosto, a divulgação dos “princípios editoriais das Organizações Globo” tive duas reações. A primeira foi me perguntar “por que isso agora?”. A segunda, “e eu com isso?”.

Reações preguiçosas e precipitadas, admito. Na segunda-feira, dei-me o trabalho de ler o documento que se apresenta como um conjunto de princípios que os veículos do grupo devem seguir para que seja cumprido o compromisso de oferecer “jornalismo de qualidade”. Gostei do que li.

O documento não traz nenhuma novidade para quem frequentou a faculdade de Comunicação. Defende que o jornalismo é uma forma de produzir conhecimento, reitera princípios essenciais como isenção e correção da informação, bem como posturas éticas que se espera de jornalistas profissionais diante das fontes, dos colegas, da empresa onde trabalha, da sociedade em que vive.

Como profissional de jornalismo, gostei de ler os princípios editoriais das Organizações Globo justamente por esse resgate. Por trazer de volta definições e parâmetros da atividade jornalística que tendem ao esquecimento na era das mídias sociais, instantâneas e abertas, onde o papel do jornalista profissional torna-se cada vez mais sensível.

Como leitora, telespectadora, ouvinte e internauta, gostei de ler os princípios editoriais das Organizações Globo porque entendo essa publicação como um compromisso público firmado com quem consome os produtos do grupo de, efetivamente, oferecer “jornalismo de qualidade”.

Seja lá por que a Globo resolveu publicar os tais princípios, sustente a história da Globo ou não esse conjunto de valores, uma coisa é certa: eu e você temos algo a ver com isso. “A afirmação destes valores é também uma forma de garantir a própria atividade jornalística”, diz o texto. O documento dá as diretrizes do que a Globo considera bom jornalismo. Resta observar se a teoria vai bem na prática.

Confira a íntegra dos Princípios Editoriais das Organizações Globo





segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Luz para o Natal de Gramado

Apesar de até mesmo alguns colegas da Redação duvidarem, gramadenses natos existem. É o meu caso. Nasci e cresci na cidade que, para a maioria, é uma colônia de férias de inverno ou um grande parque temático natalino. Para mim, Gramado é o berço, foi um lar e hoje é o refúgio preferido para meus dias de folga.

Sempre tive orgulho de dizer de onde vim. Sou de Gramado, aquela que estampa manchetes dos mais importantes cadernos de turismo mundo afora, que está sempre no topo das pesquisas de excelência em hospitalidade, que virou grife no turismo. Tornei “padrão Gramado” meu jargão favorito para dizer aos amigos da Capital e do Vale do Sinos que um lugar ou uma comida são muito bons.

Mas quando a conversa evolui um pouco mais, faço questão de esclarecer um dos motivos que me levaram a sair de Gramado. É que lá ainda se vive tempos de “coronelismo”. Meia dúzia de famílias monopolizam os negócios e a política gramadense há alguns pares de anos.

A divulgação, na última sexta-feira, das escutas telefônicas gravadas pelo Ministério Público durante investigação de supostas irregularidades nas contas do Natal Luz, materializou os comentários que se ouvia nos bastidores.

Enquanto MP e Justiça cumprem seu papel, o prefeito alega que “querem acabar com o Natal de Gramado” e não percebe que colabora com o apagar das luzes natalinas com medidas provocativas como a desta segunda-feira, de nomear os promotores de justiça para a comissão do Natal Luz – contrariado porque está proibido de nomear aqueles das três ou quatro referidas famílias.

Sou de um tempo em que o Natal Luz era feito pela comunidade gramadense. Eu tinha uns oito anos de idade quando saía pelas ruas do centro com gorro de Papai Noel na cabeça e uma lanterna nas mãos. O coralzinho do colégio se unia ao coro de mil vozes que se formava no Lago Joaquina Rita Bier para, junto com a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, promover o Grande Concerto de Natal. Éramos parte do espetáculo. Antes ainda, sabe-se que os primeiros Natais se fizeram pela adesão dos moradores que enfeitavam as fachadas de suas casas com luzes e bolas coloridas.

Os anos passaram, o evento cresceu, se profissionalizou, mas essas lembranças sempre continuaram no imaginário do gramadense nato, como eu.

A suspeita de desvio de dinheiro público na organização do Natal Luz assombra muito mais do que meia dúzia de famílias e três ou quatro agentes políticos. Compromete o valor simbólico de um patrimônio gramadense, que tinha sido até hoje motivo de orgulho e prosperidade. Luz para o Natal de Gramado.