quinta-feira, 11 de junho de 2015

Sobre jornalismo e internet

Em meio à divulgação do curso de extensão em Jornalismo na Web que estou oferecendo na Unisinos Porto Alegre, junto com meu colega Felipe Martini, tenho sido requisitada para dar algumas entrevistas para os meios de comunicação da universidade. Hoje à tarde, uma repórter da Rádio Unisinos disparou a pergunta do milênio: como você vê o futuro do jornalismo?

Talvez não tenha sido exatamente nessas palavras - vocês podem conferir no ar na próxima terça, às 18h, com reprise às 22h, na 103.3 FM ou pela internet. Mas o sentido da pergunta era esse. E essa é a pergunta que eu e todos os jornalistas e pesquisadores de jornalismo e, principalmente, empresários do setor estão tentando responder.

O mercado tem apresentado diversos sintomas que parecem levar à falência múltipla dos órgãos, em especial no âmbito das empresas jornalísticas. Demissões em massa, fechamento de títulos, jornais que deixam de ser impressos, devolução de concessões de TV. O fenômeno da internet tem a ver com isso. Os métodos tradicionais de se obter lucro 'comercializando' notícias não se aplicam a esse novo (?) espaço.

No entanto, a sociedade continuará precisando de notícias e, portanto, de jornalistas. Desde que o jornalismo não deixe ruir o que considero ser o seu principal pilar de sustentação: a credibilidade. A internet tem sido responsável pela derrocada da credibilidade de diversos profissionais e instituições nos últimos anos - na maior parte das vezes, por culpa deles próprios, forçados ou não pela pressão do "tempo real" imposta pela instantaneidade dos meios digitais ou então levados pela banalização de conteúdos em busca de cliques. Isso, sim, pode levar o jornalismo à extrema unção.

Alguns dirão que, na internet, a informação está aí, com ou sem jornalistas. Em uma declaração sobre o aplicativo News, da Apple, anunciado esta semana, Philip Bump, do Washington Post, foi por esse caminho. Para ele, os leitores não ligam para a fonte das notícias: eles apenas querem consumir a notícia, não importa de onde ela venha.

Pode ser que Bump esteja certo. Prefiro não arriscar projeções a esse respeito, pois ainda não tenho informação suficiente sobre a dinâmica do News. Contudo, considerando que o Facebook também anunciou recentemente iniciativa semelhante para veicular notícias, vejo pelo menos uma conclusão possível: se notícias não fossem importantes, os donos dos algoritmos que dominam a internet não estariam tão interessados nelas.

Resultados de pesquisas recentes justificam tal interesse. Só para citar um dado novo, um estudo divulgado no início deste mês pelo Pew Research Center mostrou que 61% dos jovens da Geração Y usam o Facebook para ler notícias de política.

Enfim, o que posso dizer sobre o futuro do jornalismo é que precisamos compreender melhor as dinâmicas próprias da internet para que elas possam então ser apropriadas jornalisticamente, ao invés de ficar tentando reproduzir lógicas convencionais na rede. Provocar reflexões a esse respeito é a motivação central do curso que desencadeou a pergunta do milênio naquela entrevista. Aliás, amanhã vou participar de outro programa na Rádio Unisinos, onde essas e outras reflexões certamente irão pipocar novamente. Ouve lá!

Rádio Unisinos FM 103.3 ou clique aqui
- 12 de junho, sexta, a partir das 13h, ao vivo no estúdio no programa Blá Blá Blá
- 16 de junho, terça, às 18h, com reprise às 22h, no programa Universo Unisinos

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Imprensa vs. Redes Sociais: empate técnico?

sexta-feira, 10 de abril de 2015

Só???

Passado um mês de dedicação exclusiva ao doutorado,  já posso enumerar algumas perguntas que fazem um doutorando tremer, principalmente se for bolsista e em início de curso. Aí vai meu top 3:

1- "Mas você está SÓ fazendo doutorado?". Sim. SÓ.

2- "Quantos dias você tem AULA?". Um. "SÓ???". Sim. SÓ.

3- "Sobre o que é a sua pesquisa?". Jornalismo. "Tá, mas especificamente o quê?". Calma, eu SÓ comecei, tenho quatro anos para pensar nessa resposta!

Quem, por acaso, já me fez uma dessas perguntas (ou todas), não precisa se preocupar. Não guardo rancor. Mas se puderem evitar, agradeço. Quanto à terceira pergunta, um texto que escrevi há pouco tempo, publicado no Observatório da Imprensa, dá algumas pistas do que ando pensando/fazendo:



quarta-feira, 25 de março de 2015

Gustavo, o 13 de ouro


Se fosse uma carta no jogo de baralho, Gustavo Endres seria o 13 de ouro. Pela seleção brasileira de vôlei, o central gaúcho de 39 anos e 2m03cm foi campeão de tudo: ouro na Olimpíada de Atenas em 2004, campeão de dois Pan-Americanos, dois Mundiais, duas Copas do Mundo e seis Ligas Mundiais. Eleito o melhor bloqueador em várias competições, Gustavo era um dos pilares da geração mais vitoriosa que o vôlei brasileiro já viu.

Mas todo atleta tem seu ciclo. Após a eliminação do Canoas nas quartas de final da Superliga, o multicampeão anunciou que vai pendurar as joelheiras. Nesta temporada, a terceira no Canoas, o meio de rede natural de Passo Fundo já não tinha mais aquela efetividade dos tempos áureos. O que se destacava mesmo na sua atuação, além das veias saltadas no rosto a cada “toco” (jargão do vôlei para ponto de bloqueio), era sua liderança.

A braçadeira era mero adereço. Em jogos no La Salle, vi Gustavo ser veemente ao cobrar dos novatos o posicionamento correto e também ao reclamar das marcações da arbitragem. Era um capitão nato. Colega de equipe, Thiago Barth, 26 anos, mais um gaúcho que joga na mesma posição e forte candidato a uma vaga na seleção do próximo Pan, traduz o respeito que um ídolo da envergadura de Gustavo merece:

_ Qualquer central que começou a jogar nos últimos 10 anos deve ter se espelhado nos bloqueios do Gustavo. Ele escreveu o nome dele no voleibol mundial.

A postura de Gustavo fora de quadra também sempre foi respeitável: nunca se esquivou da defesa por melhores condições para os atletas e, desde que veio para o Canoas, tem sido um porta-voz contundente da equipe. Características que o credenciam para seguir ligado ao voleibol no papel de dirigente. Outro central gaúcho medalhista olímpico, André Heller, 39 anos, é um exemplo: parou de jogar, mas permaneceu no Brasil Kirin, de Campinas, como coordenador técnico.


O Canoas ainda não tem um posicionamento oficial sobre o destino do agora ex-atleta, mas não há dúvida de que a permanência de Gustavo no clube seria benéfica para ambos. Ele tem a empatia da torcida, está identificado com o time e a cidade. Ficando no Canoas, o 13 de ouro certamente ajudaria a consolidar o projeto do clube de recolocar o vôlei gaúcho entre os melhores do país. Gustavo é bom demais para virar carta fora do baralho.  

*Este texto foi originalmente publicado na coluna De Fora da Área, em Zero Hora, no dia 19 de março de 2015.

quarta-feira, 11 de março de 2015

Super-repórter

Meus pertences na Redação: um kit chimarrão,
uma xícara (para o café no plantão), uma capa de chuva
(para os dias de enchente e assemelhados), blocos, canetas,
cartões de visita (contatos!) e algumas lembrancinhas

Superados os trâmites burocráticos, nesta quinta-feira, 12 de março de 2015, começo efetivamente minha caminhada para virar "doutora". Será meu primeiro dia de aula no doutorado da UFRGS. Abri mão precocemente de uma carreira no jornalismo diário para me dedicar a este novo projeto de vida.

Abri mão naquelas. Depois de cinco anos no dia a dia da reportagem de um grande jornal, pelo menos nesses primeiros dias de abstinência, eu ainda me sinto repórter. Acho que sempre serei repórter, mesmo que não esteja repórter por algum tempo.

Eu arriscaria dizer que Robert Park, jornalista e sociólogo, que será um dos meus gurus nos próximos quatro anos, passou por sensação semelhante um século atrás. Park dizia que o sociólogo é um "super-repórter", um repórter mais científico, mais preciso e responsável. 

Levando em conta que a Comunicação está no guarda-chuva das Ciências Sociais Aplicadas, tomo para mim a metáfora de Park para descrever como me vejo enquanto pesquisadora, com alma de repórter. Quiçá esta nova etapa da minha caminhada me ajude a chegar mais perto do que se poderia chamar de "super-repórter".