quarta-feira, 30 de março de 2011

Será que chove?


"Nunca fui muito apegada a previsões. Muito menos à do tempo."

Meu chefe não usa o elevador da firma. Vai sempre pelas escadas. Ele diz que elevador é muito constrangedor. Nunca se sabe quem vai embarcar no andar seguinte. Ou fica aquele silêncio sepulcral ou alguém puxa o tradicional assunto para quando falta assunto: “será que chove?”. Conversas meteorológicas são típicas de elevador.

Nunca fui muito apegada a previsões. Muito menos à do tempo. Sempre duvidei de qualquer natureza de futurologia, mesmo que tenha alguma vocação científica. Quanto ao clima, cresci com minha mãe dizendo que o Cléo Kuhn nunca acerta (para quem acha que posso estar sendo injusta com o moço, o Cléo Kuhn tem 26 anos só de meteorologia...). A neve em Gramado ele não acerta faz anos, fato.

A verdade é que, por um bom tempo, ignorei a meteorologia. Jamais tive a pretensão jornalística de ser “a garota do tempo” (e quiçá chegar ao Fantástico, como Patrícia Poeta e o tempo Hoje). Mas a rotina atual fez com que minha ignorância meteorológica, aos poucos, fosse transformada em fobia. Tenho medo da previsão do tempo. Sério. A meteorologia me assusta.

Seja pela enchente ou pela seca, existe uma espécie de obsessão por pautas climáticas. No jornal, clima não é quebra-gelo quando falta assunto. É o próprio assunto. Da neve ao calorão, o tempo é pauta. Sempre. E olha que dá trabalho. Bem menos trabalho do que ir pelas escadas só para evitar uma conversa de elevador.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Último capítulo


“Perdia-se o fio da meada da vida real e as histórias que contávamos nunca chegavam ao fim. Fim mesmo, só o da novela é que interessava.”


Sábado à noite na casa da mãe. Família reunida ao redor da mesa para uma espécie de café colonial caseiro. Queijos, salames e geleias diversas. Enquanto atualizamos uns aos outros dos últimos acontecimentos, o volume da TV compete com o da conversa. Era o último capítulo da novela.

Volta e meia alguém interrompia algum relato da nossa vidinha nem tão mais ou menos assim para ver o fim de algum personagem da trama. E aí perdia-se o fio da meada da vida real e as histórias que contávamos nunca chegavam ao fim. Fim mesmo, só o da novela é que interessava.

Novela é uma coisa curiosa, porque a pessoa sempre sabe que tudo vai dar certo no fim, mas mesmo assim se envolve com a história. Torce pelo personagem, se comove. Cria um vínculo quase familiar – a ponto de se tornar mais interessante até mesmo que as histórias contadas em família.

Acontece que na vida real não tem último capítulo de novela. Não esse “mundo ideal” em que todos os corações partidos se regeneram, todos os bebês nascem saudáveis, todas as injustiças são condenadas. Não tá com nada essa máxima de que tudo vai dar certo no fim. Aposto que todo mundo já tentou se convencer disso em algum momento. Mas pode ser que não dê certo no fim. Pode ser que nem tenha fim. Fim de novela é que certamente não terá.

Nada contra novelas. Eu mesma já fui uma noveleira convicta, hoje um tanto desapegada porque meu horário nobre não fecha com o da TV. E também não se trata de ser pessimista. Ao contrário. O clima de fim de novela está em pequenos detalhes do dia a dia, que quase sempre passam despercebidos.

Aí que tá. Enquanto a gente sonha com o último capítulo, perde a chance de valorizar coisas simples que fazem toda a diferença.