quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Sem diário e sem agenda


"Não sei se estou ficando velha ou se estou ficando louca. Talvez as duas coisas. Mas começo a pensar seriamente em um projeto de vida para 2011: terei um diário."

A essa altura, colunistas de jornal escrevem exaustivamente sobre o ano que termina, o outro que começa. Bombam retrospectivas, listas e premiações de “melhores do ano”. Pensando no que dizer sobre 2010 e no que esperar de 2011, porque não dá para terminar o ano com um post sobre o Mazembe (embora tenha sido este um dos grandes acontecimentos do ano para qualquer gremista secador como eu!), dei-me o trabalho de perder algumas horas relendo os posts de 2010 aqui no tais&coisas.

Então lembrei de um post mais antigo ainda, que até foi reproduzido no Jornal de Gramado, lá na minha terrinha, em 2008. Eu me perguntava sobre o que fazer com agendas velhas. No porão da casa da mãe tem uma caixa cheia delas. Muitas são da adolescência, transformadas em verdadeiros diários, com direito a bilhetes de colégio e papeis de bala para recordar qualquer coisa que eu já nem lembro mais, mas que fazia sentido naquela época.

Termino 2010 sem agenda e sem diário. Minha agenda se resume ao que lembro de cadastrar na conta do Google ou de programar alarme no celular, fora os e-mails para mim mesma para não esquecer de alguma coisa muito importante. Já diário... bem, o mais próximo disso é este blog – apenas um espaço para um “projeto de jornalista” depositar pensamentos sobre coisas da vida.

Não sei se estou ficando velha ou se estou ficando louca. Talvez as duas coisas. Mas começo a pensar seriamente em um projeto de vida para 2011: terei um diário. Transitando pelo que postei aqui neste ano, lembrei de tanta coisa que poderia ter ficado registrada e não ficou, a não ser na memória, que pode se perder logo ali, com uma pancada na cabeça ou com os efeitos da idade.

Eis, então, meu projeto de vida para 2011. Terei um diário. Ok que a adolescência já se foi faz tempo – bem mais do que eu gostaria e bem menos do que o necessário para que eu me considere tão experiente –, mas não se trata de um diário pueril, e sim de um “livro de memórias”. Tantas pérolas foram parar no Twitter, em meias palavras ou trocadilhos. Tantos comentários estão dispersos em Facebooks e Orkuts. Colocarei tudo num diário, manuscrito, com caneta esferográfica e ao pé da letra. Compromisso.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

É do jogo


Secar: fazer evaporar a umidade de; enxugar; fazer cessar.

O dicionário não dá conta da definição futebolística para “secar”: torcer pela desgraça do adversário ou arqui-rival. Sim, faço parte da máquina de secar mais potente que já se viu nos últimos anos: a torcida do Grêmio. Sou secadora, admito, como foram secadores meus amigos colorados nos anos 90. É do jogo.

Sequei com todas as minhas forças o Goiás na quarta-feira passada – e aguentei todas as flautas coloradas sobre comemorar vaga porque não tem mais o que comemorar, ou ter que torcer por outro time porque o meu não ganha nada. É do jogo.

Do mesmo jeito, sequei o Inter contra o Mazembe. Nem nos meus sonhos mais perversos eu contava com ‘mazebra’ dessas, mas esperança de secador é a última que morre. Vim de Porto Alegre escutando o jogo no trem. Cheguei na estação em tempo de soltar um grito – nem tão solitário assim – ao ver o replay do gol congolês. O segundo grito veio já no corredor do PPG de comunicação da Unisinos. Sequei, vibrei e fiz piada. É, toquei muita flauta. É do jogo.

Eu poderia vir com aquele discurso de que o Grêmio não paga meu salário, que tem coisa mais importante pra me preocupar, que não vale a pena perder tempo com isso. Mas, sabe, eu sou sócia tricolor, vou ao estádio todo mês e acho saudável tudo isso. Inclusive a flauta, mesmo que seja pro meu lado. Quer ser torcedor – e secador – tem que saber ganhar e perder, flautear e ser flauteado. É do jogo.

Sabe-se que aqui na província o futebol é levado mais na ponta da faca. Uma camisa vermelha jamais será apenas uma camisa vermelha, será colorada. Os fracassos do rival estarão sempre tão presentes na memória quanto as glórias do time do coração. E sempre um ficará contando vantagem sobre o outro por algum motivo tosco e a discussão jamais termina. É do jogo.

Então, colorados, calma. Os foguetes – aqueles que vocês dizem que estavam mofando de tanto tempo guardados – terminam. Daqui a pouco, começa tudo de novo e isso passa. A derrota para o Mazembe, aquele vexame no Mundial (FIFA, de que tanto se gabam), será apenas mais um argumento para aquelas discussões intermináveis, do tipo: prefiro isso que a segunda divisão. É do jogo.

sábado, 27 de novembro de 2010

Uma prova de amor


O amor, assim como a vida, é contraditório. Às vezes o “pior” é o maior bem.

Cansada da rotina de levantar da cama todas as manhãs às 5h50min, encarar um turno na Redação, outro no PPG e mais um de aula (não raro sucedido de uma confraternização com os colegas do outro lado da Avenida Unisinos), eu não via a hora de terminar o plantão, chegar em casa e me atirar no sofá.

Televisão, para mim, costuma ser um sonífero incrivelmente eficaz nesses dias. Não hoje. No zapping nosso de cada sábado, cheguei na HBO em tempo de ver a chamada para “Uma prova de amor”. Parei por aí. E não dormi. Gosto de filmes conflituosos, daqueles que abordam dilemas éticos e morais, dramas quase shakespearianos, à moda “ser ou não ser”. É o caso deste filme.

Resumidamente, trata-se da história de uma advogada bem-sucedida, interpretada magnificamente por Cameron Diaz (não errei nem o nome nem o adjetivo, juro!), que larga tudo para se dedicar a cuidar da filha Kate (Sofia Vassilieva, também em belíssima atuação), que luta contra a leucemia. O médico da menina sugere que os pais façam uma fertilização in vitro. A irmã seria “fabricada” para se tornar a doadora ideal de Kate.

Desde o nascimento, Anna (Abigail Breslin) é provedora de tudo quanto é material genético de que Kate precise para prolongar sua vida. Aos 11 anos, Anna decide lutar na justiça por sua “emancipação médica”. A própria mãe advoga contra ela no tribunal. E eu não vou contar mais detalhes para não perder a graça. Apenas garanto: vale a pena.

O ponto de tensão não varia muito daqueles que alimentam a discussão sobre a manipulação genética, seja na ficção, seja na vida “real”: a vida de um vale mais que a de outro? Rola também aquela briga eterna entre prolongar a vida de uma pessoa num quarto de hospital ou aproveitar o curto tempo de que ela dispõe para viver, no sentido mais pleno da palavra. Coisas que passam na cabeça da gente diante de uma história dessas.

Quando quase tudo está perdido, Kate pede para ir à praia. Ela só queria ir à praia! O pai pega o carro, chama os irmãos e segue o rumo da orla. A mãe tem um piti e culpa o pai de estar causando a morte da filha. Mas não é preciso causar a morte. Vamos morrer, cedo ou tarde, é fato. Claro que em casos como o de Kate ela parece mais perto do que se gostaria, mas um dia ela virá para todos.

O que está em jogo em “Uma prova de amor” é a obsessão da mãe por salvar a vida da filha. Só que o amor, assim como a vida, é contraditório. Às vezes, o “pior” é o maior bem, mas o medo da morte, da perda, da dor nos deixa cegos. Se não há remédio para a morte, por que remediar tanto a vida? O médio não tem graça. A graça está na plenitude, seja lá quanto tempo isso signifique.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A culpa é do pai


"Começou com os irmãos do vô, agora é com os irmãos do pai. Reunião de família sempre foi uma festa: cada um com um instrumento, um coral de vozes afinadas."

Com essa minha onda de brincar de cantora nas horas vagas sempre tem alguém que resolve perguntar como tudo começou. Só este mês acho que teci minha autobiografia musical umas cinco vezes. A curiosidade dos outros deixou minha história com a música bem mais romântica do que eu imaginava que ela poderia ser. É que de tanto pensar nas raizes da questão fui me dar conta de que a culpa é do pai.

Quando eu era criança, o pai sentava aos pés da minha cama para tocar suas modas no violão. Basicamente música sertaneja e gauchesca (bem longe das minhas preferências atuais, embora não tenha nada contra nem uma nem outra). Não me pergunte o porquê de ele tocar violão no meu quarto, sentado na minha cama, quando eu já estava deitada para dormir! Mas eu gostava. Ficava triste quando ele não tocava. Tinha minhas músicas preferidas. Sentava ao lado dele e catava no caderninho em que ele mesmo escrevia as músicas, com caneta esferográfica azul para a letra e vermelha para os acordes.

A música é quase uma tradição familiar para os Seibt. Quem é da Serra Gaúcha conhece o Terno de Reis da família e suas serenatas nessas épocas natalinas. Começou com os irmãos do vô, agora é com os irmãos do pai. Reunião de família sempre foi uma festa: cada um com um instrumento, um coral de vozes afinadas. Cresci nesse contexto. Alguma relação, tem.

De novinha, minha mãe me colocou no coralzinho do colégio. Durou só até a quarta série, mas trago a técnica de lá. Tive um período de hibernação na pré-adolescência, até que entrei no grupo de jovens da Igreja (o CLJ). Fiquei com vontade de aprender a tocar violão. Pedi um de presente nos meus 15 anos. Nada de festa, nem book fotográfico. Minha madrinha queria me dar um presente? Que fosse um violão! Deve ser de decepção por não ter uma afilhada 'menininha' que ela até hoje nunca viu uma apresentação minha, mas tudo bem.

Com a boa vontade dos amigos do grupo, aprendi alguns acordes e comecei a tocar. Lá pelas tantas, de tanto frequentar a mesma pastelaria depois de cada reunião semanal do tal do grupo, o gerente da casa perguntou se só tocávamos na Igreja e lançou o desafio de fazermos um showzinho todas as quintas-feiras por ali. Eu e meus queridos amigos Paulinho e Rafa nos juntamos na garagem da casa do pai e ensaiamos umas 20 ou 30 músicas que gostávamos de ouvir (e tocávamos em churrascos da galera). Fomos lá e fizemos o teste. Deu certo. Começou ali a parceria a que demos o nome de 'Trilogia' e que já dura algo em torno de três anos, se não me falha a memória.

Posso esquecer a data de fundação da Trilogia, mas não esqueço a imagem do meu pai sentado aos pés da minha cama tocando violão quando eu deitava para dormir. Até hoje, quando sai um churrasco da galera na garagem do pai, chamo ele para tocar umas modas pra gente, depois de espetar o matambre. O pai é mestre! E a culpa é dele.

Tem uma listinha de versões acústicas da Trilogia para ouvir aqui

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Minhas últimas palavras sobre Paul


"Um ex-beatle, aqui na província, e ainda falando gauchês. Em três horas de show, Paul mostrou que é universal."

Ok que já faz três dias que Paul McCartney saudou os gaúchos com direito a “mas bah, tchê” e tudo, mas ainda não consegui me recuperar. Nem fisicamente, nem emocionalmente. Quando pensei que estava me desligando do tema, passo pelo Mercado Público de Porto Alegre e ouço um carinha solando Hey Jude no violão. Pronto. Mil imagens e principalmente sons me vieram à lembrança pela enésima vez. Por mais clichê que seja, os laralalás da multidão cantando essa música ainda me arrepiam.

Não deu ainda de falar do Paul, como disse meu amigo Rico (aquele da breguice) há pouco no telefone. Mas prometo tentar. Este post é uma tentativa de reunir minhas últimas palavras sobre Paul. Só não prometo que consigo parar por aqui!

Engraçado é que não tenho palavras para descrever o êxtase. O semblante sorridente com um brilho nos olhos quase espiritual no dia seguinte ao show é o que basta para dizer que valeram as 17 tentativas para comprar ingresso no site, valeu cada centavo da taxa de (in)conveniência do site, valeu cada bolha no pé pelas mil horas sob o sol e sem ir ao banheiro, valeu cada cochilada na cadeira do Beira Rio esperando o show começar. Mas dizer que valeu a pena é até redundante.

Um ex-beatle, aqui na província, e ainda falando gauchês. Em três horas de show, Paul mostrou que é universal. Momentos de empolgação intercalados com outros de introspecção, um coro de 50 mil vozes regido pelo astro. Como disse Eduardo (vulgo Herrmann), meu fiel escudeiro no anel superior do Beira-Rio, entramos para a história. E para a história uns dos outros também.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Na casa da mãe


“A minha cama na casa da mãe não me abraça gostosinho como a minha lá do apê.”

Bem que uma ex-colega me dizia que um dia eu começaria a separar a minha casa da “casa da mãe”. No começo, quando recém tinha me mudado para São Leopoldo, eu falava que iria “voltar para casa” no fim de semana. Quase três anos depois, cada vez mais me acostumo com a ideia de que Gramado é a casa da mãe.

Não que eu não me sinta em casa quando venho para a Serra, eu me sinto, mas de repente começo a estranhar a cama que era minha. Como demorei para pegar no sono neste feriado! A minha cama na casa da mãe não me abraça gostosinho como a minha lá do apê.

Outra coisa é o armário vazio. Visto as roupas que trago na mala, como se fosse uma hóspede, e uso o antigo roupeiro como depósito de casacos de inverno quando troca a estação.

Por outro lado, a comida da mãe parece ainda melhor do que era quando eu almoçava com ela todo dia. O chimarrão com pipoca na hora da Sessão da Tarde, então, tem seu valor!

É bom estar na casa da mãe. Mas já aprendi a chamar o meu cantinho de lar e a ter por ele o devido zelo que a casa da gente merece.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O que aprendi com Marcelo Tas


“Nada mais óbvio: é preciso viver o presente. O tempo nunca é o bastante, só sabemos comentar como os dias passam depressa.”

Professor Tibúrcio esteve na Unisinos esta noite. O cara que aparecia no Castelo Rá-tim-bum usando uma roupa colorida e manuseando um protótipo de Blackberry (definição do próprio Tas) a cada vez que o Zequinha enchia a turma de por quês estava ali, no palco do Anfiteatro Padre Werner, agorinha mesmo. Falou por quase duas horas sobre mídias sociais. O que aprendi com ele? Nada demais.

Não que a palestra tenha sido inútil. Ao contrário. O Tas tem um carisma impressionante e sabe como envolver a plateia. No entanto, ainda que de forma mais bem-humorada do que a maioria dos palestrantes, ele não disse nada que já não se tenha ouvido. Mas como o próprio Tas sinalizou, estamos num tempo em que é preciso “ouvir” muito. Esse é o espírito.

Do que ouvi de Marcelo Tas esta noite, fico com a parte de que “o presente é um lugar incrível”. Vivemos a constante angústia do passado (aquilo que não tivemos tempo de fazer) e a ansiedade do futuro (aquilo que tememos não ter tempo de fazer). Nada mais óbvio: é preciso viver o presente. O tempo nunca é o bastante, só sabemos comentar como os dias passam depressa.

De resto, interatividade, quantidade de informação, velocidade, mobilidade são palavras repetidas à exaustão quando o assunto é mídias sociais. Entretanto, a abordagem parece sempre mais direcionada à possibilidade de que todos possam falar. Como se comunicar fosse somente emitir mensagens, enquanto se trata de um processo de troca, possível somente se alguém ouvir. Onde todos falam e ninguém ouve, não há comunicação. Vale para as mídias sociais e para o 'mundo real'.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sobre fazer aniversário


“Meu mundo perfeito seria um mundo onde fosse meu aniversário todo dia!”

Tem gente que não gosta de fazer aniversário. Não é meu caso. A-do-ro fazer aniversário! E por uma razão bem simples: recebo muitos abraços no dia do aniver. Tem gente, eu acho, que só me abraça uma vez por ano, ali pelo início de outubro. Tem gente que precisa de pretexto pra dizer que gosta da gente. E o aniversário é sempre um bom argumento. Mesmo aqueles que celebram desaniversários-mil ao lado da gente acabam sendo mais intensos (como diria aquele meu amigo brega do post anterior) no dia do aniversário.

Mas o dia do aniversário, no fim das contas, é um dia como qualquer outro: levantei cedo como em todos os dias, trabalhei e estudei como em todos os dias. Tudo igual. Com a diferença de ter recebido muitos abraços e palavras queridas de pessoas de perto e de longe.

A lógica está invertida. Não que esteja errado o aniversário da gente ser um dia como todos os outros. O que está errado é que os outros dias não sejam como o do aniversário. Meu mundo perfeito seria um mundo onde fosse meu aniversário todo dia! Isso porque adoro ter gente querida por perto, faço questão de dizer que gosto de quem eu gosto, não dispenso um abraço nem no encontro nem na despedida. Não é uma questão de calendário. Nem é tão difícil ter um dia especial.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Exaltação à breguice


"Se isso é mesmo ser brega, garanto: é dos bregas que elas gostam mais!"

Era sexta-feira, véspera de feriadão. O corredor da faculdade estava deserto. Só se ouvia ela digitando, com Rita Lee tocando baixinho ao fundo. Ela se sentia num jogo de resta um. Restava ela.

Foi quando uma conversa despretensiosa por MSN, sobre um trabalho indigesto de uma disciplina da faculdade – no qual, aliás, ela estava trabalhando até perder o prumo – mudou o astral da noite. Incrível como a singeleza – ou a breguice, como preferiu chamar o colega @rico_machado – de certas manifestações afetivas, de fato, nos afetam.

Rico, aliás, mais que um colega, é um grande amigo. Um amigo brega como poucos. Brega, entre outras coisas, porque se deixa afetar e assume que se afeta por singelezas – ou breguices – como a declaração de amor do pequeno Tan, um “chinesinho apaixonado” (veja o vídeo no final do post).

Um dia, Tan vai crescer, tornar-se homem, feito Rico. Quiçá não deixará de ser brega, feito Rico. Porque se isso é mesmo ser brega, garanto: é dos bregas que elas gostam mais! Sou grata a amigos bregas, feito Rico, que fazem as singelezas – ou breguices – da vida fazerem total sentido.


quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Lista da bota



Nosso prazo de validade por aqui não vem impresso na embalagem. Então, por que não pensar logo no que fazer antes de bater as botas?

A poucos desaniversários de distância da data que não se enquadra nesta categoria no meu calendário, lembrei, sem motivo aparente, de um filme de 2007, com Morgan Freeman e Jack Nicholson, traduzido para o português como “Antes de partir” (o título original é “The Bucket List”). Trata-se da história de dois doentes terminais que elaboram uma lista de coisas a fazer antes de baterem as botas.

A “lista da bota” nada tem a ver com aqueles livros que aparecem às pencas nas prateleiras, do tipo “1000 discos que você tem que ouvir antes de morrer”, “1000 lugares para conhecer antes de morrer”, “1000 livros para ler antes de morrer”, e outras tantas mil coisas para as quais teríamos que dispor de, pelo menos, mais “1000 anos para viver antes de morrer”.

Como eu duvido muito que vá chegar aos 1024 anos, afinal o destino da humanidade (ainda) não é como nos filmes de ficção científica, fico com meia dúzia de coisas que, de fato, terei condições de fazer antes de morrer. Ou assim espero. Nosso prazo de validade por aqui não vem impresso na embalagem. Então, por que não pensar logo numa lista da bota? Está mais que na hora.

Aí vão alguns itens da minha (aceito contribuições!):

- Voar de asa-delta (porque a tirolesa superman foi só o começo);
- Ir ao Maracanã (lotado, de preferência. E numa partida de futebol, não na gravação de um DVD da Ivete Sangalo);
- Cantar no Theatro São Pedro (nem que seja só com minha mãe na plateia);
- Conhecer a Grécia, o Egito, Machu Pichu (e mais uma dezena de lugares que me encantavam nos livros de história da época de colégio);
- Morar na praia (qualquer uma em que a temperatura mínima anual não seja inferior a 15ºC).
E a lista segue em construção, enquanto as botas aguentarem...


quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Viva os desaniversários


Uma vez por ano para celebrar a vida é pouco. É preciso fazer valer a pena os 364 desaniversários que cada ano nos oferece - fora os bissextos que nos dão um a mais como brinde.


O Chapeleiro Maluco de Alice no País das Maravilhas estava certo. É preciso contar os desaniversários. Um dia, entre 365 que um ano inteiro oferece, é muito pouco para celebrar. E nunca se sabe se estaremos aí para o próximo aniversário. Como pouco ou nada se sabe sobre o dia seguinte.

Enfim, óbvio pelo óbvio, é necessário retomar algumas obviedades de vez em quando. Tipo: “viver intensamente”. Trata-se, no fim, de celebrar os desaniversários. Não há nada de irresponsabilidade nem de alienação nisso. Falo das coisas do dia a dia às quais, em geral, damos pouca importância, porque ligamos no piloto-automático entre um aniversário e outro.

Tomar um café com um velho amigo, permitir-se conhecer amigos novos. Trabalhar com vontade, estudar com vontade (fazer o TCC com vontade!). Ligar para a mãe de vez em quando, visitar aquela amiga grávida, mandar um e-mail para aquele que está longe. Rir de uma piada no meio do expediente, tomar uma cervejinha com os colegas depois da aula, marcar um churras com a galera. Ver um filme na TV, ir ao shopping (seja pelo cinema, pela livraria ou pela praça de alimentação!). Saltar de tirolesa, fazer rafting, acampar, tomar chimarrão na praça. Apaixonar-se, decepcionar-se, partir para outras, apaixonar-se de novo (e assim por diante). Aprender um idioma, uma dança, a tocar um instrumento. Pedir demissão, pedir perdão, parar de dizer não.

Há tantas opções (óbvias) para fazer valer a pena os 364 desaniversários que temos por ano - fora os bissextos, que nos oferecem um a mais como brinde. Por causa de tantas pequenas coisas que fui acumulando nos últimos desaniversários até custo a acreditar que ainda nem cheguei aos 25 anos de vida – e isso não é uma reclamação! Apenas comprova que a idade não passa de um número.

Contar a vida pelos anos é irrelevante. É preciso que os dias sejam vividos - intensamente, como diz o clichê. Viva os desaniversários!

sábado, 14 de agosto de 2010

Crônicas inacabadas

Desde que voltei à rotina metropolitana, tive pelo menos meia dúzia de idéias que dariam um post no tais&coisas. O problema é postar, propriamente. Resolvi compartilhar a lista de temas que me ocorrem trazer aqui. Aceito comentários como inspiração...

A neve está de mal comigo
@taisecoisas Fico um mês em Gramado e não neva, hoje que voltei pra POA minha mãe me conta que os telhados amanheceram branquinhos, branquinhos por lá!


Eu já tinha apostado todas as minhas fichas que nunca mais veria neve em Gramado. A última nevasca, daquelas de fazer boneco de neve e tudo, tinha sido em 1994. Lá se vão mais de 15 anos, quatro Copas do Mundo e muita propaganda enganosa na previsão do tempo. Eu estava enganada. Quer dizer, não a respeito do “nunca mais ver”, afinal, eu não vi a neve. Ela está de mal comigo, esperou eu partir para reaparecer pela Serra.

Aimoré, o Índio Capilé
@taisecoisas O Gramadense que me perdoe, mas ainda mais depois do botton gentilmente oferecido pelo colega @felipenabinger, sou Aimoré desde criança!


Pergunta de prova: qual a semelhança entre o Grêmio e o Aimoré? Resposta: os dois são times “de segunda” e têm o azul como cor principal. Ninguém me explica o que ocorreu na Azenha durante a Copa do Mundo. Resolvi, então, dar um apoio para o time local. O Aimoré fica ali pertinho de casa, dá pra acompanhar de perto os jogos da segundona gaúcha no Monumental Cristo Rei. O Índio Capilé foi fundado em 26 de março de 1936, já teve no elenco o então zagueiro Luiz Felipe Scolari, nos anos 70, e ainda venceu o Internacional (aquele lá de Porto Alegre) por 1 a 0 na partida de inauguração do estádio, em 1961. Aimoré, Aimoré! Oh! Bravo índio capilé!

A saga diária a bordo do trem
@taisecoisas Algum estudo deve ter apontado q os estudantes da @Unisinos estão obsesos. Escada rolante daquela estação da Trensurb inoperam há mais d ano

Depois de um mês indo a pé para o trabalho em Gramado, numa caminhadinha de menos de dez minutos, voltei à saga diária de trens lotados de manhã cedo e no final do dia. A romaria começa com os 723 degraus que sou obrigada a escalar, porque a escada rolante da estação, que já estava estragada há meses antes da minha temporada de inverno, continua com problemas de operação. Sem lugar para sentar, eu me encaixo num cantinho entre o banco e a porta e vejo o trem entupindo aos poucos, fazendo todos os tripulantes se sentirem como sardinhas em latas. E o piloto, que está lá no bem bom na cabine, ainda vem com coisas do tipo: “se ficarem trancando as portas, vamos chegar em Porto Alegre às 10h da manhã!”. Mas o pior é a mensagem de colaboração que vem no final do trajeto: “Senhor usuário, este trem será recolhido ao estacionamento. Contamos com sua colaboração para fechar as janelas”. Ah, vai a PQP! Eu pago R$ 1,70 para viajar em pé, espremida, sem direito a escada rolante, e ainda tenho que “colaborar” fechando as janelas?! Tenha santa paciência...

Os “artistas” no cinema
@taisecoisas Noite para encontrar colegas no Festival de Cinema: @teixeiramanu, @nataliavitoria, @liegefreitas e @mauriciomussi. Quem diria!

Gramado nesta época do ano é uma tietagem só. A gritaria se concentra no tapete vermelho que leva as estrelas da Rua Coberta ao Palácio dos Festivais. Numa dessas, estou eu lá, sentada ao lado da porta do dito Palácio, tomando um chimarrão e jogando conversa fora, quando uma mulher para na minha frente e fica me olhando... olhando... olhando... até que dispara: “Desculpa, teus olhos são muito lindos, não consigo parar de olhar!”. Pronto, no espaço das estrelas eu me senti quase uma delas! Alguém diria que são olhos da cor do céu num dia lindo (guarde essa frase!), mas deixa pra lá. O bacana foi encontrar os colegas da Uni trabalhando no evento. Estamos ficando velhos! Ou, talvez, um pouco mais experientes.

E o magnífico canudo?!
@ FALATCHE Lições da noite: Não confunda: genericamente com geneticamente; intimidade com afinidade... é, @taisecoisas EU QUERO MEU BLACKBERRY!!!

Para fechar a série, fico com a noite em que meu querido amigo Rafa Almeida recebeu o tão esperado canudo das mãos do magnífico reitor (entenda como quiser), tornando-se oficialmente bacharel em Comércio Exterior. Ele se forma, a gente comemora, passa um pouco da conta e dispara algumas pérolas. Mas não era bem isso que me inspira comentar, e sim a temporada de formaturas. Esta foi apenas primeira de uma série de quatro que tenho pela frente este mês. Eu me emociono em todas. Engraçado que espero ansiosamente pela minha, mas ao mesmo tempo, temo por ela. Fico na dúvida se será o dia mais feliz, por finalmente concluir a graduação (tão sofrível, às vezes), ou se será um dia triste, porque não deixa de ser uma despedida. Colegas, que se tornam amigos, seguem seus rumos, assim como nós. E, diferente das férias, não tem “semestre que vem” pra gente se reencontrar. Vai ter que ser como no Festival de Cinema: a vida que se encarregue. Altamente inspirador...

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A hora de arrumar a mala


“No fim das contas, a vida em si é uma mala de viagem. Estamos sempre carregando coisas que achamos que vamos precisar durante um tempo.”

O ritual é básico: pegar a mala e colocar dentro dela um monte de coisa que a gente acha que vai precisar durante um tempo. É sempre a mesma função, seja para um fim de semana ou para um mês inteiro. Assim como é recorrente também aquela sensação de “sabia que deveria ter trazido mais casacos!” ou “por que eu deixei meus tênis em casa?”. Do mesmo jeito, na hora de voltar, é aquele desafio de fazer caber tudo de novo, ainda mais com os extras que acabamos juntando pelo caminho.

Já faz mais de um mês que arrumei a mala para vir a Gramado, coisa que já contei no post anterior. Hoje foi o dia de colocar tudo de volta. Amanhã será o de tirar tudo de novo e devolver ao local de origem. Será necessário ainda arrumar lugar para meia dúzia de quinquilharias que fui juntando na temporada.

O processo todo – e lá venho eu com uma palavra que me remete diretamente ao juridiquês com o qual passarei novamente a conviver todo santo dia a partir de amanhã – traz à tona uma série de lembranças, que vêm à mente sem muito esforço. Primeiro, era a expectativa da vinda, agora, é aquela sensação esquisita da volta. Um misto de saudade de casa com o sentimento de perda de um convívio quase familiar que se estendeu por 30 grandes dias.

Junto com a bagagem que volta para a mala – entre elas, dois box de DVDs do House dos quais só consegui ver cinco ou seis episódios, dois ou três livros dos quais não li sequer uma página, três ou quatro camisetas de manga curta as quais praticamente não tive chance de usar neste inverno a 0ºC –, vão comigo pessoas queridas que conheci, velhos amigos que revi, experiências novas que vivenciei. Uma série de coisas virtuais – só para retomar o clima da pesquisa acadêmica que também me aguarda de novo a partir de amanhã – que, um dia, quiçá, vão se atualizar por meio de reencontros esparsos pela vida, se não por memórias e fotos que ficaram.

No fim das contas, a vida em si é uma mala de viagem. Estamos sempre carregando coisas que achamos que vamos precisar durante um tempo. Algumas vezes, ficamos com a sensação de ter esquecido algo importante. Nem sempre dá tempo de voltar para buscar. Às vezes dá. Outras, optamos por substituir. E assim os espaços vão se ajustando. O importante e o supérfluo ocupam seus lugares. Na bagagem definitiva, permanece apenas o essencial. O eterno desafio é arrumar a mala direito, mas é por isso que se vive um dia de cada vez.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A experiência de redescobrir minha terra natal


“Mal lia o jornal local, tinha abstraído das picuinhas políticas, já nem lembrava que o sino da igreja toca todos os dias ao meio-dia e às seis da tarde.”

As férias já estavam marcadas fazia um mês. Seriam duas longas semanas na casa da mãe, em Gramado, de pernas para o ar. Comer a comida da mãe por duas semanas, que maravilha! Ficar duas semanas sem pegar trem, poder andar a pé na rua à noite, tomar chimarrão na praça no meio da tarde. Quantas interiorices eu tinha planejado relembrar.

Eis que, então, surgiu uma oportunidade de trabalho temporário para o mês de julho – o mês das férias. Qualquer ser humano normal descansa nas férias, mas não um jornalista. Férias não são exatamente prioridade, só para fazer menção ao post anterior, que fez aniversário aqui na capa do tais&coisas.

Já se foram 21 dias de união do útil ao agradável na minha rotina: estou trabalhando em Gramado, com a vantagem de me hospedar na casa da mãe. Vinte e tantos dias sem pegar trem, andando a pé à noite, tomando um chimarrão surrupiado de algum amigo folgado que passeia pelo Lago Joaquina Rita Bier, entre uma pauta e outra, jogando vôlei na segunda, boliche e bilhar na terça, e assim por diante.

Só que entrevistar turistas diariamente no Estação Gramado me levou a redescobrir um encantamento que eu tinha perdido pela minha terra natal. Sempre preferi Gramado em baixa temporada, ainda mais depois que me mudei. Gosto de vir para a casa da mãe para me esconder, fazer coisas do tipo colher bergamota no sítio do pai, fazer churrasco na beira do açude, comer pinhão na chapa do lado do fogão, passar o dia de pantufa vendo DVD. Mal lia o jornal local, tinha abstraído das picuinhas políticas, já nem lembrava que o sino da igreja toca todos os dias ao meio-dia e às seis da tarde.

Depois dessas semanas de trabalho/férias em Gramado, voltei a achar graça nisso tudo. Mas acho graça, principalmente, de estar a cinco minutos de distância dos meus grandes amigos, aqueles que cresceram comigo e que passo semanas sem ver pessoalmente durante o resto do ano. Acho graça de almoçar em casa com a família toda reunida à mesa. Acho graça de ver o jogo do Grêmio na tevê com meu cunhado colorado secando no sofá.

De tanto achar graça em ser gramadense, fico buscando em cada pauta a graça que quem vem de fora vê neste lugar. E como eles acham graça! É bom estar aqui. Pena que já está quase na hora de voltar.

PS - A foto do post é do colega Franco Rodrigues, que me atura na pauta nossa de cada dia.

PS 2 - Dá um clique no site do Estação Gramado ou segue @EstacaoGramado no Twitter ;)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Prioridade


“Seria importante dar conta do meu serviço sem dor no coração porque não consigo achar tempo para escrever para uma amiga que não vejo há dias, ou para retornar a ligação daquela outra que telefonou segunda-feira e eu não pude atender”

Tudo é uma questão de prioridade. Ouço isso com certa frequência. Assim como vejo muitos “urgentes” em títulos de e-mails, post-its na minha mesa de trabalho e mensagens de texto no celular. Tudo é urgente para todo mundo, mas é apenas uma questão de prioridades. Tento me convencer disso, só que não consigo.

Comer direito é algo indiscutivelmente necessário para a qualidade de vida de qualquer ser humano, mas não chega a ser uma prioridade para um jornalista. Sentar diante de uma mesa farta, com todos os nutrientes necessários, não é algo que um profissional sob a pressão constante do relógio consiga ter ao alcance todos os dias. Já que comer direito não é prioridade, a gente come porcaria mesmo: um sanduíche, uma barra de cereal ou mesmo cafezinho. Sim, porque dormir bem é outra coisa necessária e igualmente menos prioritária na rotina de um jornalista. Só um café para salvar o dia (e a noite!) de trabalho.

Leio resenhas de livros e filmes todos os dias. Morro de curiosidade para ver, deliro de vontade de ler. Seria muito útil que eu o fizesse. Praticar uma atividade física regularmente, então! Útil demais, talvez necessário até. Só que nada disso é prioridade.

Tomar uma cervejinha com os colegas depois da aula parece bem interessante, assim como ir a um megashow musical que está acontecendo na cidade. O problema são as prioridades... é preciso acordar são no dia seguinte, para não falar bobagem na reunião de pauta.

Se eu seguisse por essa lógica, a prioridade seria sempre o trabalho. Acontece que é necessário receber um salário (já que para tudo se precisa de dinheiro nessa vida) e o trabalho até pode ser interessante, por que não? Mas será que é o mais importante mesmo?

O verdadeiramente importante para mim seria poder fazer um churrasco com os amigos sem peso na consciência por não estar fazendo o projeto do meu trabalho de conclusão (que está atrasado). Seria importante também dar conta do meu serviço sem dor no coração porque não consigo achar tempo para escrever um e-mail para uma amiga que não vejo há dias, ou ainda para retornar a ligação daquela outra que telefonou segunda-feira e eu não pude atender (na certa, porque estava fazendo algo bem importante).

Resta comprovado que não é uma questão de prioridade, mas de obrigação. Não tenho liberdade sobre o que priorizo, sou escrava de responsabilidades que assumo – nem sempre de bom grado. Não tenho livre arbítrio para resolver que, de vez em quando, pode ser mais importante falar de amenidades com alguém interessante ao invés de ler páginas e páginas escritas num dialeto que parece ter sido criado para confundir as pessoas. Taí um direito a ser defendido: o de poder priorizar.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Lost: experiência transmidial em torno de uma narrativa antropológica

Michael Emerson, o ator que interpretava Benjamin Linus em Lost, já havia anunciado antes do episódio final que a série terminaria deixando no ar questionamentos suficientes para os fãs ficarem ainda um bom tempo teorizando. Ele estava certo. Tão certo que, mais uma vez, Porto Alegre sediou um encontro de “lostmaníacos”, no dia 30 de maio.

Lá estavam Daniel Bittencourt, coordenador do curso de Comunicação Digital da Unisinos, o filósofo Gelson Weschenfelder, e o diretor de criação da agência Escala, Eduardo Axelrud. Cada um teve 15 minutos para falar sobre o fim de Lost. Das falas, destaco alguns aspectos que mais se sobressaem numa das séries de maior destaque na produção audiovisual recente:

Lost é uma experiência
Para Daniel Bittencourt, Lost não é uma série de televisão, é uma experiência. Poucos dos que acompanhavam a série o faziam como quem assiste Friends ou novela das oito. A cada episódio que terminava, começava toda uma movimentação em blogs, comunidades no Orkut, podcasts e até mesmo rodas de conversa entre amigos para compartilhar suas teorias. No Brasil, a movimentação era primeiro para obter o episódio recém transmitido nos Estados Unidos via internet (ilegalmente, óbvio). Dessa forma, Lost se apresenta como uma experiência transmidiática, na qual o público não é mero espectador, mas assume certo protagonismo no processo. Segundo Bittencourt, a indústria do entrenimento não poderá mais ser a mesma depois da experiência Lost.

Lost é uma narrativa antropológica
O filósofo Gelson Weschenfelder classificou Lost como uma narrativa antropológica: uma história sobre o homem e seus conflitos, a vida em sociedade, a eterna busca humana por um sentido para a vida. Disse também que a série opôs o tempo todo fé e razão. Os próprios nomes de filósofos usados em personagens (Locke, Hume, Rousseau, ...) são, na maioria, pensadores que estimularam o diálogo entre física e metafísica, espiritual e racional. O fim de Lost insinua uma provável “vitória” do espiritual, ou sobrenatural, sobre o racional, ao menos na Ilha.

Lost é um vício
O publicitário Eduardo Axelrud falou como fã. Para ele, como para outras dezenas de pessoas que estavam no auditório, Lost é um vício. Inteligentemente, ele enumerou coisas que fez com Lost e que nunca tinha feito antes, do tipo: correr para a internet para baixar um episódio antes que passe na televisão; depois correr para a internet de novo para ver o que estavam falando do episódio; ouvir podcasts sobre a série; comprar livros relacionados; baixar episódios para o celular; elaborar teses sobre um seriado; e ainda participar de um evento para discutir um programa de televisão.

Lost é uma viagem
Viagem no tempo, jornada antropológica, peregrinação espiritual. Lost é uma viagem intelectual, de qualquer forma. Às vezes, pode ser sarcástica. No evento aqui relatado, a mediadora estava um pouco nervosa, digamos. Provavelmente era a primeira vez que fazia algo semelhante, gaguejava a todo instante e não tinha lá uma comunicação oral tão fluente como desejável.

Mas ok, isso tudo seria perdoável não fosse o anúncio de que haveria um evento sobre a “primeira morte” de Michael Jackson. Claro que os “lostcidas” não perdoaram, até porque se o astro do pop estivesse na Ilha, bem possível que morresse mais de uma vez na vida. Logo depois, ela avisa a um dos painelistas que ele já está falando há dez minutos. Passam-se uns dois minutinhos e ela volta: “desculpe, houve um erro, você ainda tem sete minutos!” (lembrando que o tempo limite era de 15min). Taí mais uma coisa que não poderia ser dita num evento sobre Lost. Até pensei se não tinha ido parar naquela Ilha maldita, com direito a saltos no tempo e tudo mais. Namastê!

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O fim de Lost


"Não queiramos comparar The End a fim de novela das oito. Na Ilha, como na vida, muita coisa continua em aberto."


Perdi a conta de quantas vezes ouvi que Lost é coisa para louco. Nesse mundo de coisas impensáveis, pensar parece mesmo loucura. Então, concordo. É para louco. Se estiver disposto a enlouquecer, bem-vindo ao vôo 815.

Lost, o fenômeno da televisão mundial (e dos downloads ilegais também), terminou deixando no ar mais perguntas do que respostas. E não vejo mal nenhum nisso. Não que eu não tenha ficado intrigada com o desfecho dado pelos produtores. Fico pensando em que momento eles estavam vivos, afinal. Terei que rever toda a série de novo para tecer novas teses em cima disso. No entanto, minha principal teoria já foi comprovada: a Ilha é uma metáfora da vida. Ponto.

Desde o início, Lost dava sinais de que seria uma história sobre a humanidade e seus conflitos: fé e razão, o bem e o mal, a vida e a morte, eu e o outro (ou Os Outros), a luz e a escuridão (ou o monstro de fumaça). Os flashbacks em momentos cruciais na Ilha em nada diferem em relação à nossa vida diária: as decisões que tomo hoje são reflexo das que tomei no passado, o que me tornei é resultado do que vivi. E quem não gostaria de ter uma segunda chance?

Ok, as viagens no tempo, o urso polar, os números e os vídeos de orientação da Dharma seriam desnecessários para narrar essa história. Talvez. Mas quem de nós não complica a vida? Deixe que compliquem a série.

Dizia o filósofo e escritor Jostein Gaarder, em Ei, tem alguém aí?, que o menino nunca se curvasse a uma resposta: “são as perguntas que movem o mundo”. Se Lost deixou mais interrogações do que afirmações, sejamos gratos. Estamos muito acostumados a consumir o que vem pronto, especialmente na televisão. Não queiramos comparar The End a fim de novela das oito. Na Ilha, como na vida, muita coisa continua em aberto.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Esses Guris da Azenha!



Sem desmerecer o bom futebol dos Meninos da Vila, mas desde o início eu acreditava na “alma castelhana” desses Guris da Azenha.


Depois que descobri o Twitter, economizei nos posts aqui no tais&coisas. É que ficou mais prático raciocinar em 140 caracteres. Ontem, ainda na expectativa do jogo contra o Santos, aquele time que, se dependesse da Globo, já era até campeão do mundo, resumi numa sentença curta o que esperava da partida: “Eles têm os Meninos da Vila, mas sou mais a alma castelhana dos Guris da Azenha”. Eu não tinha noção do que estava dizendo.

Bati o cartão depois do horário ontem, peguei o ônibus do futebol e fui balançando com a Geral até o estádio Olímpico. Aos poucos, os espaços na arquibancada iam sendo preenchidos. A festa estava pronta. Trinta e oito mil gremistas gritando, mandando recado para o Dunga – que deixou o melhor goleiro do Brasil por dois anos consecutivos de fora da lista de convocados para a Copa -, todos cantado em coro que a banda estava louca para ver o Tricolor ganhar. Fico arrepiada só de lembrar.

Só que nem o melhor goleiro do Brasil podia contra os ditos Meninos da Vila. Aos 15 minutos de partida quem abriu o placar foi o Santos. Um balde de água fria. Ainda no primeiro tempo, veio o segundo gol dos Meninos, Jonas perdeu um pênalti e o goleiro santista roubou a cena de Vitor, operando um ou outro milagre. Silêncio no estádio. O Santos era mesmo o que a Globo dizia... chovia em Porto Alegre, chorava a torcida tricolor.

Faria sentido a desesperança se o Grêmio não tivesse o apelido de “Imortal”. Indescritivelmente, o time voltou para o segundo tempo com aquela alma castelhana que apaixona o torcedor. Fez o primeiro gol, a torcida levantou de novo, sorriu, gritou, empurrou o time para o empate. Já estávamos no lucro, mas o torcedor pediu: “Mais um! Mais um!”. Jonas, que tinha perdido o pênalti no primeiro tempo, atendeu com um lindo gol para reverter o placar. Inacreditável! De novo o Grêmio fazia o impossível. Quando veio o quarto gol, o milagre estava consagrado. Espetacular! Pena ter permitido que Robinho diminuísse, fechando o placar em 4 a 3. Ainda assim, a reação gremista jamais se apagará na memória do torcedor. Foi o jogo do ano. A Azenha não é a Vila. A chuva parou, o torcedor comemorou.

Resumo, então, em menos de 140 caracteres o jogo de ontem: “Com perdão da heresia, mas é Deus e o Grêmio: eles fazem o impossível, basta acreditar!”. Que mágico esse tal de futebol. Inexplicável como ele mexe com a gente. Mas isso é pauta para outro post.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Alguém aí está preparado para ser presidente? (2)

Postei hoje de manhã o texto Alguém aí está preparado para ser presidente? (abaixo), comentando a forma criativa encotrada por um leitor/internauta para criticar o posicionamento da Veja - e, em consequência, o jornalismo - sem deixar de considerar a potencialidade da web para tornar viral mesmo a coisa mais sem propósito. Eis que agora à tarde entro no site e ele não está mais funcionando. No lugar das bem-humoradas fotos imitando a pose de José Serra na capa da revista, lê-se o seguinte texto:

"Olá, se você chegou até aqui é porque se contaminou com o viral do meiguice serra. Sinceramente, nós nem esperávamos que isso tomasse tamanha proporção. Tudo começou com uma grande piada, que a gente acredita que é o jornalismo brasileiro. Campanha pró-Dilma, pró- Serra, nos acusaram de tudo. E por acaso política se discute assim, sem seriedade?Enfim: por motivos de força bem maior e por não achar que mereçamos tanta atenção, achamos melhor encerrar o blog. Agradecemos a todos que participaram, e aproveitamos também para explicar a verdadeira intenção deste blog:ISTO É ARTE. Foi apenas para mostrar o quanto somos manipulados pela imagem. ABRAM OS OLHOS."

Era o que eu dizia.

Alguém aí está preparado para ser presidente?


“Talvez, em outros tempos, alguém tivesse feito o mesmo comentário irônico lido no site em uma conversa entre amigos. As possibilidades tecnológicas disponíveis hoje são tantas, no entanto, que ficou bem mais divertido largar isso na rede.”

Desde que a Veja é a Veja, a capa da revista semanal de maior circulação no Brasil é assunto para o resto da mídia até o próximo número. A internet potencializa esse processo. Às vezes, soa como piada, mas há crítica até mesmo por trás da sátira.

Um exemplo foi o que ocorreu com a edição desta semana. A revista estampou na capa a manchete “Serra e o Brasil pós-Lula” acompanhada de uma declaração do pré-candidato à presidência pelo PSDB: “Eu me preparei a vida toda para ser presidente”. A foto que ilustra a capa é do próprio José Serra, com um sorriso simpático e a cabeça inclinada sobre a mão (acima). Uma foto meiga, digamos.

Um leitor/internauta aproveitou a deixa e criou a página meiguiceserra intitulada “O Brasil pode mais” com a seguinte observação: “contém ironia ou você realmente acredita que alguém aqui está preparado para ser presidente do país?”. O que se seguem são mais de 200 fotos enviadas por outros internautas, deles mesmos, imitando a pose do presidenciável, com mais ou menos fidelidade ao modelo original.

Há aí pelo menos duas coisas interessantes a se observar. Primeiro, a variedade de interpretações possíveis para uma mesma mensagem. A Veja, declaradamente pró-Serra nas reportagens que tem publicado, provavelmente não achou graça nenhuma do que esses internautas fizeram com sua capa. A intenção devia ser causar empatia no eleitorado, não deboche.

Outra questão é a capacidade de mobilização que a web oferece. Talvez, em outros tempos, alguém tivesse feito o mesmo comentário irônico lido no site em uma conversa entre amigos. As possibilidades tecnológicas disponíveis hoje são tantas, no entanto, que ficou bem mais divertido largar isso na rede. Além do mais, quem não tem uma câmera digital, celular que tira foto ou webcam para fazer uma pose dessas e postar num site hoje em dia? Com os blogs e twitters da vida, então, a coisa se espalha para ainda mais além.

Aí fico refletindo sobre o jornalismo enquanto profissão e toda essa discussão acerca do diploma. O internauta que deu início a essa cadeia não tinha intenção de reportar nada, mas com muito menos produção e bem pouco planejamento foi bem mais feliz que muito cronista de política na sua crítica ao posicionamento da Veja. Aliás, foi bem mais feliz que a própria Veja. Se bem que até isso pode ter ajudado a vender revista. Eu mesma fui ler a reportagem só depois que recebi o link do site. E agora estou passando adiante o site e não a matéria (que, aliás, vale outro post!).
Enfim, a conectividade torna banal o que é relevante e dá relevância a banalidades. O jornalismo, parece, está banalizado.

domingo, 7 de março de 2010

Estação terminal


“Adormeci e nem me dei conta de quantas estações se passaram. Despertei somente no fim da linha.”

Abro os olhos de sobressalto. Olho ao redor. Ninguém ao meu lado, nem na minha frente. O vagão está vazio. São 13h53min, tenho sete minutos para chegar ao trabalho e o trem está andando no sentido contrário. Fico esperando que o piloto fale alguma coisa, que ele me veja ou que me ouça, mas isso era impossível. Eu estava no último vagão.

Como ninguém havia me cutucado na saída da estação terminal? Ou será que alguém me cutucou e eu não senti? Quantos deram risada da moça desmaiada num sono profundo que seguia para o fim da linha num trem vazio? Será que o trem estava sendo recolhido para o estacionamento? Como eu faria para sair do trem quando chegasse lá?

Tantas perguntas passaram pela minha cabeça em tão pouco tempo que eu tinha vontade de abrir a janela e saltar nos trilhos, mas obviamente isso não seria uma boa ideia. Melhor, então, telefonar para a emergência. Cheguei mais perto para ver se conseguia enxergar o número - além de ter recém acordado, eu estava sem óculos de grau - tirei o celular da bolsa, quando levantei a cabeça, vi pessoas esperando o trem na plataforma. Nada disso seria necessário! Bastava desembarcar e seguir meu caminho.

Adormeci e nem me dei conta de quantas estações se passaram. Despertei somente no fim da linha. Tão rápido quanto o trem desliza sobre os trilhos, passam também as horas, os dias, a vida. E a gente nunca sabe qual a estação terminal.

Se dormirmos no ponto, talvez alguém nos cutuque, talvez não. Talvez não nos demos conta do aviso. Talvez riam da nossa cara por desperdiçarmos a viagem. Talvez nosso vagão seja recolhido.

Se estivermos despertos, no entanto, nem será preciso acionar o botão de emergência. Basta desembarcar e seguir nosso caminho.

Obs.: A foto que ilustra este post é de Guilherme Koszeniewski

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Levantando acampamento


“A experiência de presenciar a tragédia in loco vale para pensar em tudo o que não queremos que a correnteza leve embora”

O programa (de índio) já estava combinado desde o ano passado. Há meses vínhamos esquematizando este acampamento. Data, local e cardápio estavam programados para o encontro. Só não havíamos previsto uma coisa: a chuva. Pelo menos não aquela chuva.

Eram 6h30min quando os primeiros levantaram de seu colchão inflável e saíram barraca afora. Observando as nuvens no alto dos morros, avisaram: “Vai chover”. A previsão foi repetida por todos os 14 reunidos no camping. No entanto, cada qual estava mais despreocupado: uns preparavam um sanduíche, outros tocavam violão, outros ainda esquentavam água para o chimarrão. E foi só o tempo de duas cuias para o temporal desabar.

Começamos a empilhar os pertences na “área de convivência” do acampamento, que nada mais era do que uma lona. Só que o granizo seria demais para ela, a ponto de um dos presentes soltar o alerta: “Deixem tudo e se salvem!”. Desespero de uns, tranqüilidade de outros. Nosso cinegrafista amador narrava a fuga dos demais com uma frase repetida cada vez com maior ênfase: “Sente o desespero das pessoas”.

Pudera. O mundo caindo, a água do rio subindo, notícias chegando da cidade, do tipo: “Vamos logo que a água está invadindo a estrada”. Dava para pensar que ficaríamos por ali mesmo, debaixo da lona. Mas os instantes de desespero foram superados logo, afinal, bastava levantar o acampamento e voltar para casa. Diferentemente dos vizinhos do camping que perderam a própria casa.

Tudo o que perdi foi um velho baralho de 66. O suficiente para refletir como é importante “levantar acampamento” da vidinha mais ou menos que nossa rotina lotada nos impõe no dia a dia. A experiência de presenciar a tragédia in loco vale para pensar em tudo o que não queremos que a correnteza leve embora: a companhia dos amigos, as histórias para contar, a solidariedade para ajudar o outro a se proteger da chuva, o bom-humor suficiente para abrir uma cerveja em meio à tormenta.

Antes que sejamos nós as vítimas de algum desastre, convém reservar alguns momentos para programas – nem que sejam de índio! – na companhia de pessoas que valem a pena. Na certeza de termos encontrado pelo menos umas 14 desse tipo, terminamos aquele dia trágico num churrasco um tanto cômico, com direito a paródias e declamações, onde até combinamos a próxima aventura.

Se for preciso, deixo tudo, tudo mesmo, para salvar a presença dessas pessoas na minha vida. Pessoas desse tipo, das que não queremos que a correnteza leve embora, são as que costumamos chamar de AMIGOS.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Passe adiante

“No mundo real, um favor é uma espécie de moeda de troca, mas o trabalho de Estudos Sociais de um menino da 7ª série chamado Trevor inverte essa lógica”

Quando chove nas férias não tem jeito, a melhor companhia é um bom filme. Como eu já previa que pudesse ocorrer de uma frente fria passar pela Serra, confisquei alguns exemplares da videoteca do meu namorado antes de pegar o rumo de Gramado para curtir uma semana de inverno com a família – em pleno verão.

Então, éramos nós quatro: minha mãe, eu, o chimarrão e o filme Corrente do bem, de Mimi Leder, com Kevin Spacey e Helen Hunt. Um filme propício, digamos, para uma semana em que os tremores de terra no Haiti não saíam da mídia.

No filme, um professor de Estudos Sociais desafia seus alunos da 7ª série a terem uma idéia que possa mudar o mundo. Brilhante! Esse mesmo professor deu um dicionário a cada aluno no primeiro dia de aula, para que eles procurassem o significado das palavras que não conheciam. E só a resposta dele à pergunta sarcástica de um dos alunos já teria valido as duas horas de filme:

- E o senhor, o que tem feito para mudar o mundo?

- Eu acordo cedo todos os dias e venho aqui dar aula para vocês.

Não precisava mais nada. Professores assim, que acreditam ser capazes de mudar o mundo apenas exercendo sua profissão conforme o juramento que fizeram no dia da formatura, estão em falta. Jornalistas também. A trama do filme se desenrola tendo a investigação jornalística como fio condutor. O repórter havia recebido um Jaguar como “favor” de um estranho que lhe mandou “passar adiante” e não sossegou enquanto não descobriu onde tinha começado aquela maluquice. No mundo real, um favor é uma espécie de moeda de troca. Faço algo a você e você fica eternamente grato, como se me devesse algo em retribuição.

O trabalho de Estudos Sociais de um menino da 7ª série chamado Trevor inverte essa lógica: eu te faço um favor e você paga a dívida fazendo favores a outras três pessoas que devem retribuir a gentileza a outras três pessoas e assim por diante. Bingo! É assim que se transforma o mundo, ajudando a melhorar o mundinho à nossa volta.

Olhando assim, parece simples demais, ou até mesmo insignificante essa idéia de ajudar três pessoas ao redor. Queremos fazer coisas grandiosas para mudar o mundo. Mas veja o filme e pense melhor.

Em tempos de tragédias como a do Haiti sobram voluntários cheios de boa vontade querendo fazer as malas e partir para salvar o mundo. Não percebem que têm essa chance todos os dias, ali mesmo, onde estão. Mudar o mundo está ao nosso alcance, como está para uma criança da 7ª série. Passe adiante.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Seguem os mitos em torno de Lost 6

No princípio era John Locke que aparecia ao centro, mas de costas no cartaz promocional de Lost 6. Depois, um tabuleiro de xadrez serviu como plano de fundo para o vídeo promocional da emissora Cuatro. Agora, o elenco posa para uma foto inspirada na Última Ceia, com Locke de novo ao centro, no assento de Jesus Cristo.


Em debate promovido dia 12 de janeiro, na Escola de Design da Unisinos, em Porto Alegre, Francisco Machado Pereira, André Conti Silva e Daniel Bittencourt discorreram sobre três aspectos que fazem de Lost um fenômeno midiático da atualidade: mitologia, roteiro e transmídia.

Lost está povoado de conhecidos mitos da humanidade, de diferentes épocas e crenças, entre as quais chamam atenção estátuas egípcias e personagens com nomes bíblicos – sem contar os que têm nomes de filósofos, como o próprio John Locke, Danielle Rousseau, Desmond Hume... há ainda a chuva que cai ou cessa em momentos cruciais da série, como lembrou Francisco no debate; a sugestão de que os sobreviventes foram “escolhidos” pela Ilha; e a eterna dúvida sobre que diabos é aquela Ilha, a que universo ela pertence – ou a que época, já que eles pulam no tempo o tempo todo.

A estrutura do roteiro contribui para reforçar o misticismo da série, pois os personagens recebem informações ao mesmo tempo que o público, nem antes nem depois. No debate, André comparou essa estrutura com a de uma telenovela: na novela das oito, em geral, ficamos sabendo que João é filho de José antes dos personagens e esperamos capítulo após capítulo para que essa revelação seja feita. Em Lost não. Nunca cogitamos a possibilidade de Jack ser irmão de Claire e caímos para trás quando eles descobrem, porque ficamos sabendo junto com eles. É o que esperamos para a temporada final, que começa dia 2 de fevereiro, pois há cinco temporadas Charlie lançou a dúvida: “Guys, where are we?”. Ele partiu sem saber a resposta, mas nós queremos saber.

Questionamento pertinente também levantou Daniel no debate: o que é Lost? Para ele, Lost não é apenas uma série de TV, os desdobramentos transmidiais da série estimulam a criação de novas narrativas, novas formas de consumo do produto midiático. Lost não se limita ao que passa na TV, seja por iniciativa dos produtores, ao lançarem cartazes sugestivos como este da ceia antes que a próxima temporada entre no ar, seja por iniciativa de fãs, que povoam blogs e sites de relacionamento apresentando sua teoria para o fim da trama.

E foi divagando sobre nossas teorias que saímos do evento até a parada de ônibus, no trajeto até a estação do trem e assim por diante. Mal podemos esperar pelo começo do fim, dia 2 de fevereiro.