“Disse de novo, pausadamente: em-bu-ga-da. Ele perguntou para o irmão, a mãe, a avó. Ninguém sabia do que se tratava.”
Toda tradução é uma interpretação. Dizia um pensador (foge-me agora se era Nietszche) que não existem sinônimos: cada palavra só equivale a ela mesma e qualquer substituição é inadequada, para não dizer inútil. Quem vive num lugar onde cavalo é pingo e cachorro é cusco conhece a potência de uma figura de linguagem.
Imagine explicar para um norte-americano o que significa “vê se pode”. Pior: como encontrar uma sentença que defina tão bem um dia gelado quanto “frio de renguear cusco”? Explique isso a um chileno! Eu tive que explicar a mais de dez. Quer dizer, tentei.
Só que nem é preciso ir tão longe. Gírias, regionalismos, neologismos são expressões idiomáticas que causam estranhamento até mesmo a interlocutores que falam o mesmo idioma. Outro dia, eu disse a meu namorado que estava “embugada”. Tive que repetir a palavra pelo menos mais três vezes até que ele entendesse a fonética da expressão (mas não o significado).
Disse de novo, pausadamente: em-bu-ga-da. Ele perguntou para o irmão, a mãe, a avó. Ninguém sabia do que se tratava. Limitei-me a explicar que, lá de onde eu venho, embugar-se é comer demais. Passaram os dias e eis que uma colega de trabalho dele termina a refeição e diz, adivinhe: “estou embugada!”. Era outra migrante da Serra Gaúcha, que jamais imaginaria que um porto-alegrense não sabia o que era embugar-se.
Até agora, nem eu nem ela encontramos sinônimo com a mesma força de expressão do que o vocábulo original. Estar embugado é o ato de embugar-se, e ponto final.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Oi guria,
ResponderExcluirÓtimo post!
Sabe uma vez te ouvi falar embugada e fiquei na dúvida sobre o significado, mas pelo contexto achei que tinha entendido. E realmente tinha hehehe
Nunca tinha escutado embugado e até agora, fora tu, nada.
Eu falo, as vezes, embuchada ("grosso a'dar com pau" hehehe).
Beijão
Oi Tys,
ResponderExcluirAdorei o post, eu obviamente conhecia a expressão pois tenho as raízes na serra também. Esse assunto de expressões idiomáticas me fascina, como computólogo-lingüista que sou. Para falar a verdade, meu trabalho de pesquisa é um pouco isso, detectar o que é idiomático nos textos. Agora, se para a gente já é complicado de entender as tais expressões que variam de região para região, imagina para o computador! É um baita pepino! :-P
Marília,
ResponderExcluirna certa eu te falei que havia me "embugado" de conaprole, ai que saudade! rsrs
Carlos,
sabe que não tinha parado para pensar pela via do computador? Nem preciso dizer que o Word colocou uma "cobra vermelha" (como dizia o professor Kaspary) embaixo de "embugado"!
Obrigada pelos coments ;) bjs!
Guria,
ResponderExcluirSinceras-mente, esta foi uma crônica muito porreta (não me peça explicações de outra cultura, ainda que eu tenha sangue nordestino). Valeu, mesmo. Continue. Vá em frente. A pista é livre; a vida, curta.
E feliz aníver !!! (um dia não é nada, nem é atraso...)
Bueno, na fronteira roubamos uma expressão do espanhol: empachado. Distante de lá, ninguém me entende, também. Estar empachado, descobri então, é o mesmo que estar embugado. No caso fronteiriço, vale para líquidos. Ando querendo me embugar. No caso, de serramaltes.
ResponderExcluirOlá. Eu sempre ouvi "embugado" da minha vó e da minha mãe e quando falei para o meu marido ele riu de mim!! Que bom saber que essa palavra tem uma história! Minha familia tbm é da Serra Gaucha, mas nasci em Porto Alegre.
ResponderExcluirDescobri que "embugado" vem do termo italiano imbuzzarsi que significa empanturrar-se, por isso é um termo da Serra Gaucha!!!
ResponderExcluir