sábado, 3 de dezembro de 2011

A verdadeira generosidade

“Aí um tiozinho deu a moeda, mas não quis a bala de goma. O gurizinho insistiu, mas ele não quis de jeito nenhum. Foi quando o menino enxergou outra criança no vagão e fez um gesto, oferecendo as balas a ela, assim, de presente.”

Quem pega o trem todo dia certamente conhece a mãe de família que vende coisas para comprar o suplemento que o filho, com intolerância a lactose, precisa para crescer. Também já viu muita gente que “podia estar matando, podia estar roubando”, mas só está pedindo umas moedinhas. Tem ainda os “dois filhos de Francisco” dos trilhos, que invadem o vagão cantarolando modas sertanejas. A maioria dos passageiros ignora, seguem ligados nos fones de ouvido ou nos livros que estão lendo, mas de vez em quando sobra um trocado para algum deles.

Outro dia estava um menino vendendo balas de goma no trem. Ele devia ter uns cinco ou seis anos, juro. Só isso já é de partir o coração. Todo desajeitado, carregando aquela caixa de balas, desviando dos adultos que se amontoam no vagão. Muitos passageiros acabaram comprando as balinhas – duas por um real.

Aí um tiozinho deu a moeda, mas não quis a bala de goma. O gurizinho insistiu, mas ele não quis de jeito nenhum. Foi quando o menino enxergou outra criança no vagão e fez um gesto, oferecendo as balas a ela, assim, de presente. Todo mundo sorriu, achou bonitinho, mas não sei se todo mundo entendeu.

O cara que deu a moeda e recusou a bala quis ser generoso. E foi, de fato. Só que a verdadeira generosidade está na atitude do menino. Ele poderia ter vendido a bala para outra pessoa e ficar com a gorjeta, simples assim. Provavelmente, a maioria dos adultos ali em volta teria feito isso. Não foi o que ele fez. E mais: para o mini-vendedor de balas, não importava se o outro menino, da idade dele, tinha uma condição social melhor. Era uma criança, como ele, devia gostar de doce, e ele tinha um a mais. Ponto.

Coisas que a gente aprende quase que por instinto quando criança, mas às vezes esquece de colocar em prática depois que cresce. O dia a dia sempre tem pequenas lições para nos ensinar, só que nem sempre a gente presta atenção, ou quase nunca a gente entende.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Fala que TYScuto!