quinta-feira, 6 de novembro de 2008

O Brasil não precisa de pena de morte

“Serão condenados à morte os que roubam. Mas vamos matar os que roubam muito ou os que roubam pouco?”

Quem viu Tropa de Elite e virou fã do BOPE pediu pra sair da palestra do jornalista Caco Barcelos, terça-feira, 4, no Salão de Atos da UFRGS, em Porto Alegre. O que o BOPE faz no Rio de Janeiro não é justiça, é extermínio. O BOPE, em um ano, matou mais que os EUA em toda sua história de aplicação da pena de morte – e não matou em nome da lei.

No Rio de Janeiro, só 2% das mortes são causadas pelos ditos “bandidos. A polícia é responsável por 20% das mortes. 78% dos “matadores” são civis que perdem a cabeça por um motivo qualquer. Morre mais gente no Brasil em um ano do que na soma dos cinco anos de invasão norte-americana no Iraque. Porém, nenhum rico desonesto foi morto pelo BOPE.

Era aí que Caco Barcelos queria chegar. O Brasil não precisa de pena de morte. Depois de apresentar essas e outras estatísticas sobre a violência urbana no Brasil, Caco convidou os espectadores a se imaginarem na condição de legisladores: vamos aplicar a pena de morte no Brasil. Serão condenados à morte os que roubam. Mas vamos matar os que roubam muito ou os que roubam pouco? Vamos condenar à morte os que matam. Mas vamos matar os que matam muito ou os que matam pouco?

Ora, os que menos causam mortes são os que o BOPE tortura – e a platéia aplaude no cinema. Se fosse por número de mortes, os primeiros a padecerem na cadeira elétrica seriam os policiais. Da mesma forma, os que roubam quantias mais vultuosas são os chamados homens de “colarinho branco”. No entanto, volto a dizer, nenhum rico desonesto foi morto pelo BOPE até hoje e, como diria o capitão Nascimento no filme, nunca será!

Tolice defender a pena de morte no Brasil. Ela já existe nos morros das favelas, enquanto a elite da tropa segue impune. Os jovens universitários que hoje defendem a tortura, conforme pesquisa da Nova/FC, no passado eram perseguidos e torturados pela Ditadura. Para ver como as vidas que valem alguma coisa mudam de lado de tempos em tempos. Mas quem de fato conhece o valor da vida de cada um não está aqui para julgar. Somos um bando de “aspiras” achando que valemos alguma coisa mais do que os outros.

6 comentários:

  1. Taís, gosto de comentar teus textos, pois sempre são bons e bem escritos, infelizmente hoje tenho que discordar de algumas ideias.

    Primeiramente acho necessário uma reformulação em todo o sistema de segurança pública no país, porém isso não vai acontecer pois boa parte do nossos politicos, são corruptos, safados e tem interesses que essa reformulação NÃO seja feita.

    Os motivos para tais interesses são os mesmo que você citou acima, nenhum bandido rico sofre as mesma consequencias que um bandido pobre.

    Minha opinião é que bandido tem que pagar pelos seus atos, e pagar tão caro quanto o sofrimento que trouxe para as pessoas. Infelizmente não temos como mensurar "sofrimento".

    Finalizando, defendo os policiais acima de tudo, pois ganham uma miséria defendendo a população, ou pelo menos tentando se adequar a um sistema corrupto que não o permite matar bandidos porque existe os "Direitos Humanos" ou então jornalista como o Caco Barcelos que cita que 20% dos crimes são originados pela policia.

    O fato é que quando morre um inocente o policial é incopetente, mas quando morre o bandido, o policial responde processo.

    Para piorar AINDA MAIS a situação, quando morre a vítima, o bandido sai de foco e o culpado é o policial! Exemplo disso: Caso Eloá!

    Não tenho mais nada a dizer, sou apenas mais um frustrado cidadão brasileiro, que acredita que algum dia teremos justiça neste pais.

    Rodrigo.

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  2. Concordo com a Taís e discoro do Rodrigo. Só se implanta algo num sistema se o sistema não tem esse "algo" ainda implantado. Assim, por que implantar a pena de morte no Brasil se ela já exite travestida na desigualdade social? Nos criamos os monstros e depois queremos excluí-los! O criador quer matar a sua própria criatura? O Rodrigo, a Taís e eu ajudamos a criar, mesmo que de forma indireta, os "matadores" que andam à solta por aí? Nós dizemos quem são os bons e os maus, como se isso fosse possível de se rotular! A pena de morte é consequência de uma causa mal resolvida. Que tal pensarmos em resolver a causa antes de atacar a consequência?

    Guilherme Drago - Gramado

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  3. Pois é Rodrigo, até entendo o que colocas, porém não falo aqui dos policiais "comuns" e sim dos do BOPE.

    O Caco Barcelos sabe do que está falando porque acompanhou de perto o trabalho da ROTA (espécie de antecessora do BOPE) durante sete anos. Ele catalogou 4,2 mil vítimas do batalhão, somente 1,5 mil tinham ficha criminal anterior, ou seja, a maioria foi executada só porque era favelada. Isso que o Caco levantou o histórico de apenas 4,2 mil enquanto o BOPE matou cerca de 12mil naquele período.

    Segundo o Caco relatou na palestra (e está no livro Rota 66, que eu li tb), os policiais subiam no morro e executavam as vítimas, depois as largavam, já sem vida, no hospital, evitando perícias e aí a imprensa toda divulgava que "fulano foi morto em troca de tiros com a polícia", mas tiro no peito à queima-roupa é execução, não tiroteio.

    Acontece que existe todo um sistema de "concordância" com a coisa: concordância do médico que aceita cadáver no hospital, concordância da imprensa que aceita divulgar inverdades e concordância da população que acredita em tudo que vê na TV.

    O debate vai longe! E, concordo contigo, o Brasil precisa de uma reformulação profunda na questão da segurança.

    Grande abraço e obrigada por comentar ;)

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  4. Ao comentário do "Anônimo" (Guilherme), complemento com outra contribuição do próprio Caco na palestra:

    Uma pesquisa da Nova/FC mostra que a maioria dos brasileiros condenam a corrupção no governo, mas aprovam quando é em benefício próprio. Serve de exemplo o médico que não concede nota fiscal, ou seja, sonega imposto, e não vê problema nisso. A mesma pesquisa aponta que a maioria dos brasileiros acha sempre que a culpa é do outro. E por aí vai...
    é um pouco do que estamos debatendo.

    Obrigada por tuas colocações sempre sensatas, Guilherme!

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  5. Pessoal,

    Acho que não me fiz entender, não sou a favor da pena de morte, até acho melhor ter o bandido solto do que o inocente condenado.

    O que sou contra é o fato da população nunca estar feliz com a polícia.

    O que o BOPE faz ou fez eu não tenho dados, e por isso preferia não dar minha opinião, porém com as informações que você forneceu podemos ver uma certa crueldade ou um abuso do poder do policiais do BOPE.

    Mas eu ainda acho que ninguem morre por nada. Não consigo aceitar, ou acreditar no fato de que um favelado tenho sido executado apenas por ser um favelado. Será essa mesmo a verdade? Será que realmente ele nao estava ligado a algo, sabia de uma informação?

    Novamente... não defendo a crueldade, mas sim o uso da força em detrimento da segurança pública, erros acontecem, todas as pessoas cometem erros mas não acho justo um policial sair lesado por isso.

    Sendo assim, acabamos dando um liberdade grandiosa para os policiais que poderiam começar a abusar da sua força.

    Por isso volta a frisar, que uma reestruturação é o ideal, mas como também já comentei, isso não vai acontecer.

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  6. Rodrigo,

    a pesquisa do Caco Barcelos é bastante convincente no sentido de mostrar que, diretamente, a maioria dos favelados executados pelo BOPE não tinha culpa por crime nenhum. Mas tens razão, eles poderiam "saber de alguma coisa", o que foge ao levantamento criminal... porém, continuo achando injusto que eles morram cruelmente pelas mãos da polícia porque "sabem de alguma coisa". Enfim, é minha opinião, só.

    De mais a mais, a pesquisa que defendo aqui (do nobre colega jornalista!) vai além. Por ter acompanhado esse ambiente de perto, o Caco percebeu que os "bandidos" aprenderam com o BOPE a torturar seus prisioneiros, o que dá força para uma outra opinião minha, o abuso de poder desses policiais só contribui para gerar ainda mais violência. Não é uma verdade absoluta, é apenas o que penso a respeito do tema e há outras formas de pensar, como a tua, por exemplo.

    Na minha opinião, a polícia existe para nos defender a vida dos cidadãos e não pode usar isso como pretexto para matar por matar.

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