segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

“Querido Papai Noel...

...o meu sonho é ganhar uma Barbie e tenho 7 anos e tô na 1ª série e o meu nome é Maria Gabriela”

Esta é a cartinha que adotei este ano, na campanha Papai Noel dos Correios. Escritas num pedaço de folha de caderno com 5x15cm, estas poucas palavras me remeteram aos meus 7 ou 8 anos de idade, quando eu também escrevi ao Papai Noel pedindo-lhe uma Barbie. Eu nunca tive uma Barbie.

Fiz toda a minha formação escolar em colégios particulares, do jardim de infância à universidade, mas nunca com menos esforço – antes dos meus pais, agora meu – para pagar as mensalidades. Não que eu tenha tido uma infância pobre, bem longe disso. Eu apenas tive uma infância diferente das minhas colegas de aula. E era por me sentir diferente que eu queria uma Barbie. Eu ia na casa das outras meninas da escola e via aquelas prateleiras cheias de bonecas loiras e lindas: grávida, princesa, bailarina, esportista. Das mais variadas versões. Elas tinham muitas Barbies, e eu nenhuma.

O meu pedido ao Papai Noel resultou numa imitação da boneca famosa que eu tanto queria - até morena era! - e numa carta-resposta do Papai Noel, que só anos mais tarde fui saber que havia sido escrita por meus pais. A carta dizia que havia muitas crianças a serem presenteadas e o Bom Velhinho infelizmente não tinha conseguido atender fielmente ao meu pedido, mas esperava que eu ficasse contente com o que ganhei. E eu fiquei. Nossa, como eu fiquei feliz! Brinquei muito com aquela Barbie-fake e com as roupinhas que minha mãe fazia para ela. Lembro que o nome da boneca era Maria, o mesmo nome da minha mãe e da mãe de Jesus.

Natal passado, contei essa história para uma das primas do meu namorado, mais ou menos da idade da Maria Gabriela, e deixei a família toda comovida: “A Taís nunca teve uma Barbie!”, diziam, como se isso fosse algo de extraordinário. Na noite de Natal, aos 20 e poucos anos, ganhei minha primeira – e única – Barbie (da minha sogra!).

No dia seguinte, com minha mãe por perto, contei pela enésima fez esse episódio da Barbie-fake e até chorei. Não porque finalmente tinha ganho a boneca linda e loira (original!) que toda menina sonhava ter, mas porque o gesto dos meus pais me deixou uma lição, a qual eu só percebi muitos Natais depois: se não podemos ter tudo o que desejamos, ao menos podemos ser felizes com o que temos.
Se tem uma coisa que aprendi com eles é a ser feliz e a valorizar o que tenho, mesmo que não seja muito, porque o amor, o caráter, a amizade, a solidariedade e tantos outros valores evocados nesta época do ano são muito mais caros do que a mais cara das bonecas. Feliz Natal!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Quando a leitura dos outros nos interessa (3)


“Disfarçava esticando o pescoço para fazer de conta que estava vendo se o trem despontava nos trilhos.”

Outro dia cheguei na plataforma 30 segundos depois de o trem arrancar com destino a Porto Alegre. Sem opção melhor, tirei o livro da bolsa e sentei no banco para esperar. Pelo menos nove minutos e meio me separavam do próximo.

Ali, sentada, lendo, vi que o rapaz que chegou logo depois de mim disparava olhares em minha direção. Fiquei com vontade de perguntar se havia algum problema, mas logo percebi que ele estava mirando era o livro mesmo. Disfarçava esticando o pescoço para fazer de conta que estava vendo se o trem despontava nos trilhos. Mas acho que ele percebeu que eu percebi, então ele se entregou:

- Estás lendo Cazuza?

Não por acaso, na página anterior havia uma crônica sobre uma música do Cazuza, mas apenas respondi, simpaticamente:

- Não. É uma coletânea de crônicas da Martha Medeiros mesmo.

Ele devolveu:

- Ah bom. Como eu não tinha o que fazer, li uma página contigo.

Contigo?! Veja só que intimidade se esconde numa página virada! Se meu namorado fica sabendo, pode até interpretar mal! Nisso, para me safar, o trem parou na plataforma. Entrei numa porta, o curioso noutra, e nos despedimos como dois desconhecidos que somos, apesar das páginas lidas a dois.


quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Até parece que precisa entregar


Por favor, parem com essa palhaçada de “Grêmio entrega”. Como se precisasse! O Grêmio só ganhou uma partida fora de casa o campeonato todo, jura que iria bater o Flamengo no Maracanã lotado!

Eu nunca gostei da disputa do Brasileirão por pontos corridos. Desde que foi implantado esse sistema, o campeonato ficou sem graça, sem aquela emoção de “final de campeonato”. Mata-mata é muito mais interessante. Pois bem, eis que este ano os ânimos estão acalorados na última rodada, mas por um motivo tão inusitado quanto indigesto: o Inter tem a chance de ser campeão – desde que o Grêmio vença.

Ora, agora o meu time tem que perder para não deixar o rival levantar a taça! Palhaçada mesmo essa história de pontos corridos. Mas, no “mundo real”, palhaçada mesmo é essa campanha “Grêmio entrega”! Como se precisasse! O Grêmio só ganhou uma partida fora de casa o campeonato todo, jura que iria bater o Flamengo no Maracanã lotado!

Essa campanha “Grêmio entrega” é muito mais folclore da torcida, uma flauta nos colorados, do que um pedido propriamente dito. O Inter não vai ser campeão brasileiro em 2009, mas não porque o Grêmio vai “entregar”, e sim porque o tricolor não tem a menor chance contra o rubro-negro. Não no Maracanã lotado. Em casa, o Grêmio goleou, mas em casa. Não me pergunte o que há com esse time que não vence fora, mas é fato.

Fato, aliás, que os colorados conhecem bem e que lhes serviu de anedota o campeonato todo: “O Grêmio é o bom marido, só joga em casa”, “O Grêmio é um time ecológico, não joga nada fora” e outras tantas escutei. Para agora ter que ouvir essa palhaçada de que o Grêmio vai entregar, que os dirigentes do Inter vão processar... Ah, francamente!

Acorda, colorado! E chora! Não vai ser dessa vez.