quarta-feira, 13 de julho de 2011

O tempo em que vivemos

A sinopse de Meia-noite em Paris tinha me chamado atenção por tratar de uma síndrome da qual sofro há tempos: a da Era de Ouro. Trata-se, grosso modo, do saudosimo de uma época que nem vivemos. No filme de Woody Allen, o protagonista romantiza os anos 1920 em Paris, com escritores como Fitzgerald e Hemingway à disposição para uma conversa de boteco. Nada mal.

Crises de identidade do roteirista de cinema que quer ser escritor de romance e morar em Paris nos dias de chuva, contra a vontade da futura esposa, reforçadas pela psicanálise gratuita do amigo pedante da noiva, impulsionam as viagens noturnas para diálogos impagáveis com grandes nomes da literatura, da música e da arte quase um século atrás.

Acontece que cada um tem sua fantasia sobre os anos dourados. Sempre fica a sensação de que nascemos na época errada. E essa é a questão: sempre. Os que nasceram em nossos tempos áureos ideais, provavelmente, sintam que décadas anteriores teriam sido melhores.

Eu, por exemplo, talvez até influenciada pela leitura de A Era dos Festivais, canso de lamentar não ter vivido o fim dos anos 1960 no Brasil, quando festivais revelavam compositores, músicos eram estrelas de TV e metáforas cantadas eram mais que poemas de amor, representavam resistência política. Não haverá efervescência cultural e juventude engajada como naquela época. Ou não, diria Caetano.

O tempo em que vivemos, seja lá de que outro tempo tenhamos saudades, é o presente. Só que vem do passado a deixa de Hemingway que ficou martelando depois que a sessão de Meia-noite em Paris terminou: "toda covardia vem de não amar, ou de não amar direito". É preciso coragem para viver o presente.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tão simples e tão complexo quanto um ovo


"O ovo parece um brinquedo, mas é um instrumento musical."

Toda vez que tem um agito da galera, saco da capa do meu violão um ovo. É, um ovo. Pode pedir um ovo, sem medo, no balcão da primeira loja especializada em equipamentos para músicos e o atendente vai saber do que se trata. Mais: vai te trazer vários modelos, tamanhos, materiais e marcas diferentes.

O ovo parece um brinquedo, mas é um instrumento musical. Sempre riem do meu ‘chocalho’, mas logo passam a respeitar minha coordenação motora. Tocar no ritmo não é tão simples quanto pensa. Os que se arriscam a tentar acompanhar podem confirmar.

Fato é que o ovo, como reza a máxima, é como o mundo. Dizemos que o mundo é um ovo porque ele é ‘pequeno’, mas poderíamos dizer que o mundo é um ovo porque é, ao mesmo tempo, tão simples e tão complexo quanto tal.

Simples e complexo como o instrumento musical, que parece um brinquedo tosco, mas exige certa aptidão, ou mesmo o ovo biológico, que não se sabe se veio antes ou depois da galinha.

A simples complexidade do ovo, no fim das contas, é só mais uma de minhas metáforas baratas para dizer que é na simplicidade que está a graça do mundo, como o ovo preenche o ritmo da música que agita a galera em batidas memoráveis em qualquer fundo de quintal por aí.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Da queda de Renato no Grêmio

"Admito: não aguento mais secar o Inter. Nos anos 90 era mais fácil ser gremista."

Minha indignação com o Grêmio é muito anterior à queda do Renato. A vinda do ídolo do Mundial de 83 como treinador, na verdade, foi um grito de socorro na hora do desespero. Odone não queria, nunca quis Renato Portaluppi à beira do gramado no Olímpico. O clube só apelou a ele quando o Tricolor ameaçava seguir de novo o amargo caminho da Série B.

Renato salvou aquela temporada, levou o time à Libertadores, elevou de novo a autoestima do torcedor. Só que ídolos históricos e estádios lotados não ganham jogo. Muito menos títulos. Em 2011, caímos cedo na Libertadores, entregamos o Gauchão e no Brasileirão é um show de horror após o outro. Mesmo defendendo que o problema é mais antigo, que a culpa não era (só) dele, não dava mais para defender Renato.

O que quero dizer é: não adianta derrubar só o técnico, tem que cair a diretoria. O problema do Grêmio é muito anterior ao Renato. Não que ele não tenha feito algumas trapalhadas que comprometeram o desempenho do grupo. Foi incoerente em um momento que resultou crucial nas partidas seguintes. Disse que seu time não jogaria em gramado sintético no segundo turno do Gauchão. No dia do jogo, colocou os titulares em campo, debaixo de chuva, mesmo já tendo o primeiro turno ganho e uma Libertadores pela frente. Perdeu por seis meses o mais próximo que se tinha de um "matador" desde a saída de Jonas, André Lima. A partir dali, a casa começou a cair, ainda que sem relação direta com esse evento específico. Nada explica as cobranças pífias de pênaltis na final do Gauchão, que deram o título ao Inter em pleno Olímpico. Nada explica a queda absurda de rendimento de Lúcio e Douglas, o não aproveitamento de Escudero, a insistência em Rafael Marques e por aí vai.

Só que tem coisas externas ao gramado que precisam ser levadas em conta. Ok, pode ser que Douglas e companhia resolveram parar de jogar porque queriam derrubar o técnico. Mas pode ser também que Douglas estivesse insatisfeito no clube, porque era exaltado como homem de confiança do treinador e a diretoria lhe negou qualquer renegociação de contrato para permanecer no Grêmio. Renato passou o semestre inteiro dizendo que o grupo precisava de reforços, os quais a diretoria também lhe negou.

O clube está falido? É a Arena que está levando os recursos? Ok, então vamos jogar a Série B e repensar se adianta ter um estádio novo para sediar jogos da Segundona. Ou então que busquem um investidor para o time, que é o que realmente interessa ao torcedor.

Admito: não aguento mais secar o Inter. Até quando? Nos anos 90 era mais fácil ser gremista. O Inter, depois de três décadas sem títulos importantes, virou a gangorra e agora se debruça em flautas em cima de nós, gremistas. Apelamos ao Mazembe para ter o que dizer. Renan dá de bandeja três gols ao Grêmio e conseguimos perder o título gaúcho. Não somos capazes de golear o time com a pior defesa do campeonato, mesmo jogando dentro de casa. Mais um pouco e perdemos a honra.