quarta-feira, 15 de abril de 2009

Difícil?!


“Ou vai ver que sou eu que ainda acredito no ‘heroísmo’ de repórteres como Caco Barcellos, para os quais a palavra dificuldade parece não existir.”

Depois de três meses de Big Brother, a TV Globo retomou sua programação normal esta semana e, com isso, o Profissão Repórter voltou à grade fixa da emissora nas noites de terça-feira. O programa voltou dando mais espaço para os bastidores da notícia do que antes. Lá pelas tantas, aparece Caco Barcellos diante do monitor, ao lado de dois “jovens jornalistas”, como ele gosta de chamar seus pupilos, e diz:

- Eu não entendia direito o que era a bulimia e depois desta matéria... acho que continuo não entendendo.

O jornalista – que assume quase que uma posição de mestre no programa – comenta que gostaria de ver mais claramente o retrato da doença, pois ele estava achando a matéria muito narrativa: o drama estava apenas no discurso. Aí que a “jovem jornalista” diz:

- Mas isso é muito difícil de conseguir.

Difícil?! Como essa moça ousa falar em dificuldade para um repórter do cacife de Caco Barcellos, autor de dois livros sobre a violência nos subúrbios brasileiros, repórter de guerra, um homem que efetivamente colocou a própria vida em risco em honra aos “desafios da reportagem”, só para usar o slogan do programa que ora ele coordena.

Fico imaginando o que passou pela cabeça de Caco Barcellos ao ouvir sua pupila dizer que retratar o drama de quem sofre de bulimia é muito difícil. “Fixinha!”, ele deve ter ficado com vontade de dizer. O argumento da jovem foi, no mínimo, infeliz. Para fazer uma boa reportagem não basta uma câmera na mão e uma entrevista gravada. Mas ainda bem que ela tem Caco Barcellos como editor. E ele ensina:

- Na maioria das vezes é muito difícil conseguir. Fazer entrevista é muito fácil, conseguir uma reportagem é quase sempre muito difícil.

A “jovem repórter”, ao invés de se calar, pegar o telefone e remarcar a entrevista, insistiu que esse tema era muito delicado de se tratar. Não quero dizer que ela deveria se curvar à vontade do Caco Barcellos, simplesmente por ser o Caco. O que quero dizer é que a gente só argumenta com o editor quando tem argumento – e ela não tinha. Ficou parecendo mera prepotência.
Ou vai ver que sou eu que ainda acredito no “heroísmo” de repórteres como Caco Barcellos, para os quais a palavra dificuldade parece não existir. Mesmo que seja isso, prefiro os jornalistas destemidos e incansáveis a repórteres preguiçosos, que apenas fazem entrevistas e voltam para a redação achando que estão com a matéria pronta, como quem não faz mais do que sua obrigação.

2 comentários:

  1. Caco Barcellos... saudades de suas reportagens.... realmente no Brasil ainda ha jornalista neste nivel que nao tem medo de enfrentar inumeras situaçoes de guerra.
    alias nao vejo nenhuma diferença dos que vao fazer uma reportagem nas favelas dos que estao no Iraque, Afeganistao e etc...
    ahh.. bom.. tem sim.
    lá estao numa guerra... e nas favelas estao onde?
    bom... nem falo mais nada...


    parabens pelo blogue... ta cada dia melhor.
    Tais Seibt a jornalista com a voz mais bonita que conheci...

    bj Tys!

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  2. Vi o programa e concordo contigo! Dizer que é difícil não justifica, tem que ir lá e fazer!
    Daí se vê a diferença dos bons!
    um abraço,
    Angela Dal Pos

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