“E foi só depois de uns minutos de conversa com esses dois severinos que minha passagem pelo MPF começou a fazer algum sentido.”
Richard e Orlando são dois “severinos” lá do MPF. São trabalhadores do setor de manutenção, fundamentais para fazer a Casa, literalmente, funcionar. Quando as coisas não funcionam direito, eles saem correndo lá do 18º andar para resolver. Mas o que eles fazem da vida além de consertar coisas passa ao largo dos gabinetes do prédio.
Richard e Orlando são dois “severinos” lá do MPF. São trabalhadores do setor de manutenção, fundamentais para fazer a Casa, literalmente, funcionar. Quando as coisas não funcionam direito, eles saem correndo lá do 18º andar para resolver. Mas o que eles fazem da vida além de consertar coisas passa ao largo dos gabinetes do prédio.
Apesar do nome estrangeiro, seu Richard não anda de terno pelos corredores, nem muito menos é chamado de doutor. É apenas um técnico em manutenção predial, que estudou dois semestres da faculdade de engenharia elétrica, formou-se técnico em telefonia e está estudando eletrônica. No entanto, para seu Orlando, eletricista da procuradoria, seu Richard é mestre.
Quando um computador foi disponibilizado para o uso dos trabalhadores da manutenção, em seus horários livres, seu Orlando só observou. Ele nem sabia ligar o equipamento. Graças à boa vontade de seu Richard, hoje em dia, no auge de seus 40 e poucos anos, ele acessa a internet para ler a Zero Hora e ver a previsão do tempo. Os olhos brilham quando ele conta que já sabe até mandar torpedo para celular, pelo computador. Com aquele sorriso no rosto, seu Orlando revela que juntou o pouco dinheiro que ganha para servir os “doutores” e comprou um computador usado para mexer em casa – só que sem acesso à internet. Uma atitude singela de um colega, transformou a vida de outro. Seu Orlando, agora, já não se sente excluído quando vê a turma se achegar ao computador. Pode parecer pouco, mas na vida de quem tem quase nada, ser incluído digitalmente é uma grande coisa.
Tem um detalhe: seu Richard, o professor, é deficiente auditivo. Ele sabe bem o que é exclusão. Mas procurou compensar sua dificuldade para ouvir com uma atitude atenta e observadora. Foi assim que aprendeu tudo o que sabe sobre computadores. Já montou telecentros – fez a rede elétrica, conexões e instalou softwares – em ONGs que atendem pessoas carentes. Os estabilizadores danificados da procuradoria vão direto para as mãos do técnico – e ele os conserta. Com a mesma atenção e sensibilidade, Richard percebeu que podia ajudar o colega. Não esperou ninguém fazer o que ele mesmo podia fazer. Acabou fazendo a diferença.
E tudo isso ocorre no 18º andar de um prédio cheio de “doutores”, engravatados ou não, assessorados por bacharéis em direito que ganham R$ 16 mil por mês e ainda movimentam as caixas de e-mails dos colegas para reclamar do salário. Alheios a essa realidade, Richard e Orlando fazem malabarismo para se manter com um salário mínimo ou talvez um pouco mais que isso. E foi só depois de uns minutos de conversa com esses dois severinos que minha passagem pelo MPF começou a fazer algum sentido. A lição de cidadania que ele me ensinou numa breve entrevista, concedida quase ao acaso, não está no currículo da faculdade de direito. A propósito, depois de ver publicado seu feito na intranet da procuradoria, seu Richard despencou lá do 18º andar e foi até o térreo me cumprimentar pela matéria, para não deixar dúvidas quanto à sua nobreza.
Texto maravilhoso, mesmo em meio a tandtos desatinos em nosso país pessoas assim nos mostram q ainda existe esperança...
ResponderExcluirAbração Tys
Batista
Lindo Taís!
ResponderExcluirParabéns pelo texto.
A propósito, o MPF não seria um lugar para promover a "Justiça"? Ao que parece, na prática, as coisas são bem diferentes.
Te desejo somente uma coisa: que sempre tenha essa sensibilidade apurada. O resto vem junto.
Ricardo
Guris!
ResponderExcluirObrigada pela leitura. Seguirei tentando contar boas histórias para o desfrute de vcs ;)
abração!
Oi amiga...
ResponderExcluirAmei mesmo... VC acaba de ganhar mais uma admiradora.. vc escreve muuitoo bem mesmo.. quando comecei a ler não consegui mais parar.. li um pouco dos velhos e agora li tbm estes aqui.. e fiquei no gostinho de quero mais...
Bem... ja era sua fã.. agora, este só veio a ressaltar minha admiração!!!
Fique com Deus e até segunda feira.
Bjs, Gabi Tais Schwarz.