sexta-feira, 6 de março de 2009

Do livro ao roteiro


“Adaptações de livros para o cinema rendem bastante para o mercado editorial, mas podem ser uma propaganda enganosa da obra. Vide o Melhor Roteiro Adaptado do Oscar 2009.”

Sim, ainda o Oscar! Acontece que no dia seguinte à publicação de meu último post, a Zero Hora publicou uma entrevista com Fernando Meirelles, diretor de “Cidade de Deus”, e Danny Boyle, diretor de “Quem quer ser um milionário?” (Melhor Diretor do Oscar 2009), sobre a semelhança entre suas produções.

Vale a pena ler a entrevista. Os diretores consideram normal a influência, pois tudo o que assistem serve como inspiração. Não tem mal nenhum. Boyle admite que assistiu o longa brasileiro umas quatro vezes. Ficou no inconsciente – e se tornou consciente na sua produção.

Mas o que me obrigou a reincidir no tema foi a observação de Meirelles acerca do Melhor Roteiro Adaptado do Oscar 2009. “Quem quer ser um milionário?” teve como base o livro "Sua resposta vale um bilhão", do indiano Vikas Swarup. Meirelles afirma ter lido a obra original e assinala que ela foi um pouco distorcida no premiado filme. O cineasta brasileiro não faz juízo de valor sobre a adaptação de Boyle, mas diz ter sido mais fiel à obra original em sua adaptação de “Cidade de Deus”, escrito por Paulo Lins. Segundo Meirelles, no livro, Jamal, o rapaz que se dá bem no programa de perguntas e respostas, cometeu dois homicídios, vive fugindo da polícia e sua amada não é uma virgem e sim uma prostituta.

É comum nos decepcionarmos com adaptações de livros para o cinema quando conhecemos a obra original. Sempre esperamos um retrato fiel daquilo que lemos. Só que literatura e cinema são expressões artísticas diferentes, têm suas particularidades e nem tudo é cinematográfico. Por isso, sempre que assisto a uma adaptação da qual ainda não li a obra inspiradora, fico curiosa para ver o que diz o livro e desvendar os detalhes que foram omitidos ou acrescentados pelo roteirista – e não o condeno por suas modificações. Uma obra não desmerece a outra. Mas confesso que sinto falta de lançamentos com roteiros originais. Os últimos filmes que tenho visto ou ouvido falar são adaptações de livros. As indicações ao Oscar servem de apoio ao que digo. Exceto, obviamente, os que concorreram a Melhor Roteiro Original, são poucos na lista que não tiveram a literatura como ponto de partida.

A verdade é que adaptações de livros para o cinema rendem bastante para o mercado editorial. É só ir até a livraria mais próxima e observar os livros mais destacados na prateleira: “O leitor”, “Contos da Era do Jazz” (que contém “O curioso caso de Benjamin Button”) e “O menino do pijama listrado” provavelmente estarão na lista. As editoras se apressam em relançar os títulos adaptados para o cinema e, atiçados pela dramaticidade das histórias, os leitores também se apressam para comprar. E é bom que comprem mesmo, pois o filme não substitui o livro e pode até ser uma propaganda enganosa da obra. Vide o Melhor Roteiro Adaptado do Oscar 2009.

2 comentários:

  1. Tys,

    Cinema é um dos meus assuntos preferidos, então não posso evitar um comentariozinho ;-)

    Sempre achei que a tal frase "assisti, mas o livro é melhor" não tem muito sentido. É comparar pêras com bananas. Mas é óbvio que os editores aproveitam para imprimir uma sobrecapa para o livro com os personagens do filme (como por exemplo quando comprei esses dias o "Ensaio sobre a cegueira" em francês para dar de presente a um amigo). O único aspecto negativo das adaptacões é que, quando lemos o livro, não conseguimos imaginar uma cara diferente para o personagem, que não seja a do ator que o interpreta no filme (para mim, o Frodo tem a cara do Elijah Wood).

    Sobre o filme do Danny Boyle, ouvi falar que a recepcão dele no Brasil não foi das melhores, o que é uma pena, pois trata-se de um excelente filme. Independentemente de plágios ou adaptacões!

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  2. Carlos, comente sempre que der vontade, é esse o propósito dos blogs, afinal!
    É como eu disse, literatura e cinema são expressões artísticas diferentes. Não dá pra dizer esse ou aquele é melhor... mas, já que gostas tanto de cinema, não concordas que poderiam ser escritos mais roteiros originais? Tantas adaptações, regravações... Será, então, que tudo o que havia para ser inventado no cinema já foi feito?
    Até o próximo post e obrigada pela leitura!

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